Quase sempre que vou buscar minha filha na escola, vou de bicicleta. Em nosso trajeto de volta passamos por duas grandes e movimentadas avenidas bem no horário de pico. São muitos carros, motos, caminhões, ônibus, buzinas e um clima de correria, um verdadeiro “saí da frente!” geral. Quando já estamos perto de casa sempre corto caminho por uma pequena e deserta rua, que com o tempo, passamos a chamar de a “Rua Silenciosa”. É com entrar num bosque ou mergulhar num rio. De repente, algumas coisas mudam radicalmente: pedalo mais devagar, ouvimos pássaros, mexemos com o cão baixinho que mora ali, passamos por uma praçinha, percebemos o entardecer, e o melhor, conseguimos conversar!
Entrar na “Rua Silenciosa” é ter o prazer de não sentir mais uma dor, um incômodo, como o de tirar um sapato apertado, e quando a irritação cessa, algumas portas se abrem. Entrar na “Rua Silenciosa” traz uma sensação de tranqüilidade, de proteção, e só com o silêncio externo posso ouvir as deliciosas histórias de minha filha. O silêncio externo permite me aproximar do que é realmente importante e simples. Silêncio que humaniza e fertiliza.
Nesse final de ano estou mais na avenida do que na “Rua Silenciosa”, estou cansado, querendo parar. Perceber essa situação já me ajuda a diminuir o ritmo, assim não me consumo totalmente. E por falar nisso, consumo, ruídos, avenidas, pressa, horário de pico, “saí de frente!”, e coisas do tipo, já são marcas desses dias tão tumultuados e ruidosos de festas de fim de ano. Vamos todos apressadamente para as avenidas, todos ao mesmo tempo.
Neste caso, desejo de coração que você possa encontrar, e freqüentar, a sua “Rua Silenciosa”. Que você possa caminhar por ela, neste fim de ano e por todo o próximo.
"Proibido parar e estacionar"
A placa e o lema das avenidas
Obs: Sim, a "rua silenciosa existe"! Mas é sempre uma via paralela, pequena, meio despercebida e aparentemente inútil, e não é possível achá-la pelo mapa, só pelo coração.
"Pare"
A placa e o espírito da "Rua Silenciosa"