30 de mar. de 2012

Para ler e reler


“Yoga, imortalidade e liberdade”, Mircea Eliade, Editora Palas Athena.
O romeno Mircea Eliade foi um dos maiores historiadores das ideias e práticas religiosas do mundo. Autor de inúmeros livros sobre mitologia, rituais e símbolos de diferentes culturas arcaicas, ele resgatou o valor daquilo que era considerado primitivo e sem sentido pelo mundo acadêmico. No início do século passado viveu por dois anos na Índia, estudando sânscrito e praticando yoga sob a orientação do grande Swami Sivananda.
Publicou três livros teóricos sobre o yoga e sua filosofia. “Yoga, imortalidade e liberdade” é um livro erudito, repleto de informações, mas sua leitura é fascinante, nela somos transportados para um mundo mítico, distante do nosso cotidiano, para o próprio berço do yoga. Livro indispensável para se entender o que é yoga, hoje e sempre.





             “Ser homem é procurar o significado, o valor,
                                                inventá-lo, projetá-lo, reinventá-lo.”
                                                                                  Mircea Eliade
                                                                                  

23 de mar. de 2012

Vacilei



Recentemente tive a oportunidade de caminhar e escalar as pedras na encosta da praia. Sempre gostei de fazer isso, e fiz muito quando adolescente, mas há um bom tempo não me aventurava. No início estava empolgado com a possibilidade de ir sozinho até onde desse, e de lá ficar contemplando o mar. Porém, no caminho deparei-me com dois grandes obstáculos, um externo e outro, muito maior, interno. A saber: uma pedra mais alta e inclinada e os meus próprios pensamentos assustados. Quando me dei conta já estava envolvido em questionamentos e temendo o que pudesse acontecer de pior. Há alguns anos tive uma crise de labirintite, e de repente, esse fato passou a ser meu foco e a gerar inquietações: eu aqui sozinho entre as pedras, o mar ali embaixo ... e se eu cair? E se eu ficar preso? E se eu não conseguir voltar? E se eu tiver uma crise de tontura? 

Questionei, vacilei e paralisei. Esses pensamentos transformaram completamente a minha empreitada, e o que era uma brincadeira passou a ser risco, o que era fácil e leve passou e ser tenso e desconfortável. Acabei não indo tão longe como ia antes, mas fui, e encontrei no caminho o meu próprio limite, desenhado pelos meus pensamentos.

Poderia dizer que esse medo que senti é um sinal de ponderação, de maturidade, coisa que quase não tinha como adolescente. Talvez. Mas o que me tocou foi perceber que quando vacilei, quando duvidei da minha capacidade, algo desmoronou dentro de mim. O passo e a mão perderam a firmeza e o prazer deu lugar à insegurança. Não estava mais em casa, não estava mais inteiro no que fazia, agora estava considerando, analisando, questionando. E isso me paralisou. 

Em certas situações a dúvida é uma ferramentas que abre portas, que nos tira do instituído, do familiar, da acomodação e do lugar comum. Mas ela pode ser também uma artimanha que nos derruba, que nos faz permanecer num padrão, que nos impede o acesso ao novo. No Yoga se diz que uma mente que duvida é uma mente que nada conquistará. Uma mente que duvida é uma mente sem foco no momento e no fluir da experiência. A dúvida, neste caso, é expressão de uma mente que se fragmentou e se tornou refém do medo. O fluxo é cortado, uma brecha aparece e dela vaza a justa e precisa ação.

19 de mar. de 2012

Ao mestre com carinho

Felizmente tive na vida muitos professores e alguns mestres. Professores ensinam e indicam caminhos. Um mestre é o próprio caminho e nos transforma apenas pelo fato de ser quem é. Estar com ele é quase sempre impactante e dificilmente se sai ileso desse encontro.

Tive um querido mestre já se foi, e deixou em mim um grande vazio. Dói a ausência de um parceiro inacreditável para experimentar o novo, o verdadeiro, o sutil. Um parceiro com quem eu podia dividir descobertas, risos, fantasias, viagens, intimidades e o que mais a vida propusesse. Como sinto falta de conversar com ele, de contar minhas experiências e ouvir as suas, e juntos, fazermos associações e termos insights (meu Deus, quanta conversa para colocar em dia com ele!). Ele era alguém que estava sempre disponível ao outro, não só para acolher, mas também para provocar e gerar crescimento. Alguém que não apenas defendia uma proposta de vida ou teoria, mas que era a própria proposta de vida encarnada. Alguém que não tinha medo de pagar o preço se comprometer com o que acreditava. Alguém que encontrei num momento confuso e fértil da minha vida e que me autorizou a mergulhar e a procurar o meu próprio caminho.

Neste fim de semana encontrei com velhos amigos que também desfrutaram da companhia desse mestre, e que também foram marcados pelo rico encontro com ele. Foi muito bom estar com eles e perceber o quanto esse mestre e esses amigos são importantes na minha vida. Que privilégio e que benção tê-los conhecido-os!
E, mais que tudo, quanta saudade do querido mestre Elias!


Escrevi este texto ouvindo “Canção Agalopada” do Zé Ramalho, uma música que para mim descreve o Elias, principalmente no trecho:
           “Prefiro um galope soberano à loucura do mundo me entregar”

14 de mar. de 2012

Plantando e colhendo


A prática de yoga e meditação sempre me reservam algumas surpresas. Posso realizar as mesmas técnicas e tentar colocar sempre o mesmo empenho, mas isso não garante necessariamente muita coisa. O fruto que terei da prática não está em minhas mãos. Não sei se virá e quanto virá.

Ultimamente já estava até me acostumando com minhas meditações um pouco sonolentas e sem nada de novo. Mesmo me sentindo estacionado numa rotina meio tediosa continuei meditando diariamente. Hoje cedo, ao me sentar para meditar, estava sem nenhuma pretensão sobre como ela seria, não esperava nada dela e nem de mim. E assim vazio, fui visitado por uma brisa que me trouxe novos ares. A meditação se fez presente.

Esse é um aprendizado que se aplica à vida. Nela, o que nos cabe? Preparar a terra, plantar as sementes, afastar as pragas e regar as plantas. Quando choverá? Não sabemos. Quando os frutos virão? Temos uma idéia, mas não temos o poder de fazer isso acontecer, no máximo facilitamos o processo. O trabalho é nosso, os frutos não. Os frutos são presentes que podemos receber ou não, agora ou depois.

Portanto, não larguemos o trabalho.  

10 de mar. de 2012

Comendo


Nesta sexta feira (09/03) tive o prazer de participar do encontro “Mulheres em Círculo” no Yoga Dham.  Minha contribuição foi dirigir uma prática para auxiliar no processo de digestão e falar, como psicólogo, sobre alimentação e eliminação. Foi enriquecedor fazer isso junto com o médico ayurvédico (medicina tradicional indiana) Dr. Luis Guilherme e a nutricionista Dr.ª Marina Barbosa, mais os comentários e experiências dos participantes e da coordenadora Fabiana Rodrigues. Abaixo transcrevo mais ou menos o que falei sobre a alimentação, sobre a eliminação farei num texto futuro.  

Para manter-se vivo qualquer ser realiza constantemente uma troca com seu meio: tira algo dele e devolve algo á ele. A vida e a saúde não são possíveis sem esse trânsito adequado. Algo entra no organismo, é digerido e é eliminado. Esse é um processo fundamental para a vida, e qualquer distúrbio em algum momento desse percurso vai gerar patologias. O que entra no organismo é o alimento, no yoga esse processo é chamado de prana, absorção. O que sai é a excreção e no yoga isso é chamado de apana, eliminação.

Pois bem, nem só de pão vive o homem, nem só de alimento físico nós nos nutrimos e nos constituímos. A alimentação se dá em outros órgãos além da boca, ela ocorre também pelos nossos cinco sentidos. Vivemos mergulhados na experiência sensorial e delas nos alimentamos, sendo que boa parte disso ocorre inconscientemente. Determinadas músicas, assuntos, conversas, imagens, cenas, cheiros, ambientes, lugares e situações, podem ser um bom alimento para nós, nos nutrindo e nos fortalecendo, eles geralmente são de fácil digestão e eliminação. Existem ainda aqueles alimentos/experiências que são neutros para nós. Mas há também muitos alimentos/experiências que são ruins, que não nos nutrem, que são indigestos e dão um trabalho enorme para serem eliminados. Esses alimentos são aquelas experiências que trazem para nosso mundo mental e emocional uma carga de excitação excessiva, o que a torna agressiva, e talvez desnecessária.

Considerando isso, navegar pelos canais da TV ou pela internet, por exemplo, é o mesmo que abrir a geladeira e escolher o que será ingerido. Nosso dia-a-dia é um verdadeiro supermercado repleto de alimentos/experiências das mais variadas qualidades. Diante de tantas opções a intransferível pergunta: o que vou comer? O que vou incorporar? No que quero me transformar? Isso é bom para mim? Como isso alimenta meu coração, minha mente e minha alma?

Geralmente sabemos o que comemos e que não desceu bem, aquilo fica “conversando” com a gente por um tempo. Se formos mais atentos também saberemos que repercussões determinados alimentos/experiências geram em nosso mundo interno, como os digerimos e eliminamos. A meditação é uma forma de deixar todo esse processo mais evidente, funciona como uma digestão e eliminação emocional e mental. Essa clareza dos efeitos que os alimentos/experiências provocam em nós nos deixa mais responsáveis pelo que vamos ingerir, e podemos decidir se vamos mudar o rumo daquela conversa, ou se vamos ficar naquele lugar, ou se vamos mesmo assistir àquele filme.  

6 de mar. de 2012

Sem dono


     Hoje de manhã,
     bem cedo,
     ao fazer pranayamas (exercícios respiratórios do yoga)
     inspirei uma certeza que me libertou:
     - o prana não é de ninguém!

2 de mar. de 2012

Mulheres em círculo


Tive o prazer de ser convidado para participar dos encontros "Mulher em Círculo". A proposta é muito feliz, mais do que aulas, trocas de experiências, mais do que um único saber sobre algo, muitos saberes, mais do que uma palestra, uma conversa. Que o círculo seja fértil.
Todos são bem vindos!