2 de nov. de 2011

Expectativas

Durante uma boa parte do tempo em que dou aula, mantive a convicção de que dar a primeira aula para um aluno novo era algo difícil. A aula mais exigente e cansativa era sempre aquela onde havia um ou mais alunos que nunca tinham praticado, ou que já tinham experiência anterior de yoga. Os que nunca haviam praticado às vezes mal conseguiam se sentar no chão e os que já praticavam já sabiam o que fazer, só que de um outro jeito. Nessas ocasiões procurava dar mais atenção á eles, fazia uma aula mais simples, mais básica. Mas ocasionalmente isso era desgastante, parecia que não conseguia agregar e agradar os novos e os antigos, que a aula não tinha sido fluida e integrada.  
Acho que, diante do aluno novo, eu tentava antecipar o que ele queria, tentava agradá-lo, queria que ele tivesse uma boa experiência, enfim, queria que ele voltasse. Com o aluno que já tinha praticado ocorria algo um pouco diferente, queria agradá-lo em comparação ao professor que ele já teve, não queria que ele me achasse pior que o seu anterior. Em resumo, diante do aluno novo eu acabava querendo muita coisa. Diante dele o meu querer ficava maior do que ele e do que ele trazia de novo para mim.  
Mas foi então que durante uma aula, em que havia uma aluna nova, eu me percebi tenso, como se estivesse devendo algo. E de repente ficou claro que eu estava realmente tenso, tentando agradar aquela aluna, tentando dar uma boa aula. Eu estava me esforçando para isso. Só que fazendo isso tinha perdido minha naturalidade, minha espontaneidade, e assim a coisa fica desgastante mesmo. Depois dessa aula fui deixando de tentar agradar, fiquei bem mais a vontade com os alunos novos. Não sei o que vieram buscar no yoga, talvez nem eles mesmos saibam, não sei se o que é uma boa experiência para mim também será para eles.
Na verdade o difícil não é agradar um aluno novo, o difícil é corresponder à expectativa do outro, e o pior de tudo, corresponder a uma expectativa que eu nem sei qual é. Minha ansiedade atropelava a mim e ao outro. Essa experiência é bem evidente também no consultório psicológico, mas não apenas com o paciente novo, isso é válido em todas as sessões, a cada novo encontro. Não sei o que o outro quer ou precisa, só vou descobrir com ele, tanto com os alunos como com os para pacientes, com os novos e com os “velhos”.  
Abrir mão dessa tensão de corresponder à expectativa do outro me faz lembrar uma frase do psicanalista francês Jaques Lacan: “esperem o que quiserem”. Há aqui a indicação de uma experiência de liberdade, de independência e de tranqüilidade em ser quem se é, além das expectativas, reais ou imaginadas, e essa é uma busca do yoga. 

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