30 de nov. de 2012

Yoga é como um oceano



O yoga é como um oceano... vasto, profundo, surpreendente. Cada um se relaciona com este oceano da forma que pode e quer, e há muitas formas.

Uns sabem que ele existe, já ouviram falar, mas nunca o viram e nem estão interessados nisto. Outros já o viram por fotos, livros e vídeos, e isso basta. Outros o admiram de longe, da calçada de uma orla urbana. Que bela paisagem! Alguns outros gostam de molhar seus pés nas águas rasas e mansas. Outros passam o dia nadando, brincando ou surfando em suas eternas ondas. Outros o atravessam, de margem a margem, em barcos e navios, mas não o tocam. Outros tiram dele seu sustento, o enfrentam todos os dias, conhecem suas variações e ritmos. Outros mergulham de fato nele, pesquisam, vão fundo.

Todos se relacionam com o oceano, cada qual a sua maneira. Mas aquele que apenas molha seus pés não faz idéia do que há no mais fundo.  Há muitas formas de se relacionar com o yoga, e em todas elas podemos tirar proveitos e receber muitos benefícios, mas isso pode nos deixar acomodados no mínimo, no prazer pequeno. Yoga vai muito além de alongar músculos ou de trazer um pouco de relaxamento, além dessa praia há um vasto oceano a se navegar e mergulhar. Pela prática dedicada do yoga avançamos mar à dentro, e o tamanho deste oceano chamado yoga é exatamente o tamanho da Consciência. Yoga é a própria Consciência, que começa pela restrita e contida no âmbito pessoal, mas que não se limita a ela, vai além, muito além. 

23 de nov. de 2012

Vá dormir...

Estou saindo hoje de um curto período de mal estar, um pouco de irritação na garganta, um pouco de dor de cabeça, um pouco de indisposição geral, um pouco de febre, ou seja, um pouquinho de vários sintomas que me deixaram debilitado. Como nenhum dos sintomas era muito forte, aproveitei e fiz uma experiência. Na verdade já fiz isso outras vezes, mas nessa fui mais atento.

Nestes três dias de mal estar procurei fazer apenas aquilo que sentia vontade, não forcei nada. Seguir essa diretriz me fez mudar alguns hábitos: comi menos e bebi mais água, dormi mais, falei menos, fiquei mais sozinho. Senti vontade também de mexer no corpo, mas de forma suave, sem nenhum desconforto, queria pelo contrário, tirar o desconforto. Fiz então várias práticas de posturas restauradoras com longas permanências, principalmente as deitadas e as que soltavam a região dos ombros e pescoço. Em uma dessas práticas fui presenteado com uma deliciosa sensação de alívio percorrendo por dentro da pele, tal como um fio de água fresca em dia de sol quente. Mas o que me surpreendeu mesmo foi o poder do sono.

Desmarquei os atendimentos de duas tardes e fiquei em casa sem fazer nada, ou melhor, dormindo, ou melhor ainda, dando oportunidade para o meu corpo recuperar-se. Na primeira tarde o sono foi profundo e restaurador e na segunda foram varias cochiladas, não tão profundas, mas igualmente restauradoras.  O sono foi o melhor remédio que tomei, e acho que teve seu efeito potencializado com as práticas, a dieta e o ficar sozinho.

Senti na pele “a magia fisiológica do poder do hipometabolismo” que Sandro Bosco diz no seu livro “Posturas Restauradoras de Yoga”. O sono permite que o corpo se recupere, se reorganize, se regenere e se refaça quando entra no estado de mínimo funcionamento, quando todo o metabolismo cai. Nessa hora, ao não fazermos nada, deixamos o corpo (a natureza) seguir seus próprios caminhos e o melhor que podemos fazer é não impedir esse fluxo e não atrapalhar o processo. 

Mas qual é a maior fonte de obstáculos para que isso ocorra naturalmente? A mente, a mente inquieta e insegura que se apressa em buscar soluções mágicas e imediatas. A mente que não pára não deixa o corpo parar também. Mas é exatamente quando ela sai de cena que a mágica acontece. Saúde!

                                  
 Eu em Dwi Pada Pavana Muktasana, postura altamente relaxante 

                                     

15 de nov. de 2012

Cenas do espírito humano



"Baraka" é um filme experimental de 1992 que costura belas e fortes cenas, e música, da natureza e da nossa complexa cultura humana. Apenas cenas e música de fundo, sem falas, sem uma sequencia lógica. 
Mas o que um filme assim pode dizer e despertar?
A experiência de parar e assisti-lo já é interessante. Sem pretensões de seguir uma linha de raciocínio, de chegar a um fim, apenas entregando-se e observando o fluxo das imagens e dos sons. Apenas contemplando e nada mais, pode-se chegar à um estado mental muito interessante e próximo da meditação. 
O filme mostra curiosas personagens, e suas façanhas, e expõe nossa conflituosa experiencia humana, que oscila entre a dor e o prazer, entre o novo e a tradição, entre a natureza e a cultura, entre o sagrado e o profano. Mas, principalmente, "Baraka" (que significa benção) contorna uma presença que permeia a humanidade a milênios, revela a busca e a vivência daquilo que pode dar significado à nossa existência, e daquilo que pode ocorrer na falta disso. 
Ainda me lembro do impacto que tive na primeira vez que o assisti, há vinte anos, e das duas cenas que mais me tocaram: o semblante sereno do monge, ou monja, zen budista (não saber se homem ou mulher é mais fascinante ainda) e do monge que caminha em meditação, no ritmo de um sino, por uma movimentada e apressada rua. 

4 de nov. de 2012

"Jesus te ama!"


Não sei por onde ela anda, já faz muito tempo que não a vejo. Ela era magra, alta, cabelos longos, lisos e presos num rabo de cavalo e usava óculos redondos à lá John Lennon. Ela era conhecida por andar por toda a cidade dando o seu recado, diziam que não batia muito bem.

Naquele dia eu estava chateado e desanimado, não me lembro o motivo, esperando minha oportunidade de atravessar a rua movimentada. Muitos carros, cara amarrada, pensamentos justificando o mal humor. Devagar um carro se aproxima de mim, era ela, e como sempre, sorrindo. Quase saindo pela janela ela pára o carro, me olha nos olhos e diz três palavras que me resgataram: Jesus te ama!

Deixou seu recado e se foi. E eu ali fiquei, renovado e sob o efeito da flechada certeira. Ela fez comigo o que fazia com todo mundo que encontrava. Parava e amavelmente dizia ”Jesus te ama”. Só isso. Nenhum convite, nenhum folheto, nenhuma pregação, nenhum julgamento, nenhuma verdade, nenhuma pretensão. Só um sorriso, um olhar e o lembrete de que havia amor.

Não sei exatamente o que me fez bem, se ouvir que Jesus me ama, se o gesto concreto dela em fazer contato comigo, se sua forma carinhosa de dizê-lo, talvez tudo isso junto. Só sei que ela muito me ajudou em sair de onde estava atolado. Na correria da cidade, quem olha nos olhos? Quem cumprimenta sinceramente e carinhosamente um estranho? Quem fala de amor? Quem quebra protocolos? Quem é desinteressado? Quem é disponível e gratuito? Só mesmo aqueles que não batem muito bem, que sabem que precisamos de mais do que aquilo que acreditamos precisar.

Vejo nessa querida e, infelizmente, sumida “louca” uma autêntica e bela bhakta, ou seja, uma praticante de bhakti yoga. Há muitas formas de se praticar yoga e uma das mais tradicionais é pelo amor a Deus. Em sânscrito bhakti é devoção, entrega, amor incondicional, um forte sentimento de amor. O que importa neste caminho é o amor, a confiança total e o intenso sentimento de amor por Deus, tenha Ele a forma que cada praticante possa conceber. Esse forte sentimento de entrega é capaz de dissolver barreiras, transformar e libertar quem dele é tomado. Nesse estado o coração só pode estar aberto, sem medo, e assim, inevitavelmente, abrindo espaço para aproximações, trocas, relações, enfim, abrindo-se para a vida.


Que cada um proclame esse sentimento à sua maneira. Todos agradecemos.