30 de dez. de 2015

Adeus ano velho...adeus ano novo!




     Nasci em 1970, e vivi desde criança a expectativa de que o futuro aconteceria após o ano 2000. Aquelas coisas dos desenhos e filmes de ficção científica aconteceria magicamente no ano 2000, quando as cidades seriam envolvidas por enormes cúpulas de vidro, os carros voariam e todos teriam inimagináveis tecnologias a seu dispor. Tudo seria diferente, pela unica razão de já ser o "futuro". 
     Só percebi mais claramente essa fantasia pueril em mim aos 30 anos, quando o ano 2000 de fato chegou, e com ele uma bem vinda frustração. Nada referente ao "futuro" aconteceu, nem sequer o bug do milênio se deu. Naquele reveillon não esperava mais, logicamente, a mudança mágica vinda com a passagem de ano, mas me dei conta de que mantinha essa expectativa em algum canto da minha imaginação. Expectativa essa que se fez presente ainda em várias outras passagens que vivi, e que ilustra e amplia uma atitude bastante humana, a de criar expectativas, dar-lhes certeza e encontrar tranquilidade e conforto nelas.   

     Nessa passagem de 2015 para 2016 podemos fazer revisões do ano que se passou, constatar acertos, equívocos e coisas que deixamos pelo caminho. Isso é bom. Podemos também fazer uma lista de coisas que queremos fazer no próximo ano, de metas a serem atingidas, de projetos, de novos rumos que podemos dar a nossa vida, de habilidades a serem desenvolvidas para sermos mais felizes e completos, Isso também é bom. Mas há uma terceira opção que passa facilmente despercebida na hora das revisões, previsões, fogos, rojões, brindes e abraços. Um lugar sutil e fértil, um lugar onde nem estamos no ano velho e nem no ano novo. 

     A passagem do ano é um momento especial, como um ponto zero, um instante nem do passado, do ano que se acaba, e nem do futuro, do ano que nem começou. Por um instante não estamos nem lá e nem cá. Por que não ficar um pouco nesse lugar? Que tal não rever o que passou e nem prever o que virá? Apenas por um instante, podemos ficar nesse ponto zero, nesse lugar nenhum. Sem metas, sem destino, sem culpa, sem peso, sem carga. Só gozando a brisa leve que vem dessa fenda em nosso rigoroso senso de passagem do tempo.
       Essa atitude pode ser um pouca incômoda para nossa pressa e necessidade de controle, sucesso e perfeição, mas ela permite que a vida e a graça possam fluir, e cria abertura e espaço para que o realmente novo possa surgir e se manifestar. 

        Boa passagem para todos nós!!

Marcos Taschetto