Desde pequeno estou envolvido com livros. Meu pai teve uma livraria por mais de 20 anos e lá tive contato com muitas pessoas e muitos livros. Adorava abrir as caixas cheias de livros que meu pai trazia toda semana de São Paulo, repletas de pedidos e lançamentos. Adorava também conferir todos esses livros e depois organizá-los nas estantes por assunto ou por autor. Dessa forma, acabei gostando não só da leitura, mas também dos livros, e aos poucos fui formando a minha biblioteca, que estou sempre reabastecendo.
Há uns dias atrás dei uma passada no sebo onde sempre vou procurar “novidades”. Eu já havia escolhido dois livros, quando chegou um senhor de boné com algumas caixas de livros para vender. Eram livros de auto-ajuda, de psicologia, de administração e afins, e eu fiquei ali na espreita, ansioso para dar uma olhada no banquete recém chegado. Porém, enquanto conversava com o dono do sebo, o senhor de boné soltou uma que me deixou imobilizado. De forma simples e direta ele falou: “Eu fiquei muitos anos só lendo, até perceber que eu não colocava nada do que lia em prática. Agora só quero ficar com alguns livros, não adianta nada ler e não fazer, senão a vida continua na mesma.” Apesar de já dizer isso várias vezes para mim mesmo ao entrar numa livraria ou sebo, ouvir isso com tanta convicção foi um tanto revelador.
Tomada a lição, larguei os livros que já tinha escolhido, agradeci silenciosamente o senhor de boné e fui embora ruminando sobre a verdade dita por ele. Tal verdade é especialmente válida para livros de yoga e de espiritualidade em geral. Nesses assuntos o acúmulo de informação pode ser mais uma barreira do que um esclarecimento. Yoga é prática, é experiência própria e não uma teologia ou teoria sobre algo. Ler sobre yoga pode levar à ilusão de se estar vivenciando o yoga, mas isso é só alimento para elaborações mentais e não produz mudanças efetivas na vida. Ler livros, assistir palestras e vídeos, ser simpatizante, querer um dia praticar, saber nomes, estudar, debater..., tudo isso é estéril sem a vivência da prática.
Para mim, largar os livros foi calar aquela eterna fome de mais informação, que na verdade é uma inquietação, uma ansiedade. É preciso largar a expectativa de que ainda falta, de que ainda se está incompleto. O ainda é uma boca escancarada querendo sempre mais, dizendo: “quando eu souber isso serei feliz, quando eu fizer tal asana minha prática vai ser boa, quando eu tiver tempo..., quando eu conseguir..., quando eu puder..., quando eu estiver preparado..., quando..., quando..., pois eu ainda não...”. Eterno ciclo que nos leva a um beco sem saída: jogar para o futuro a possibilidade que só é real no presente.
Livros novos? Que tal ler os que já estão na minha estante. Mais livros novos? Que tal reler e aprofundar os bons que já li. Livros novos de yoga? Que tal praticar o que já sei intelectualmente. No yoga a aventura começa sempre na prática.
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