28 de dez. de 2012

Um abraço da Amma


Fim de ano é época de desejar felicidade, sucesso, paz, amor, prosperidade, saúde.... Estamos encerrando um ciclo e começando outro, coisa que acontece o tempo todo em nossa vida, mas que agora ganha mais evidência e força. Que tenhamos mais atenção e cuidado com este momento, que a semente para o próximo ano seja forte e valiosa. O exemplo de mestres realizados pode ser um bom farol, uma boa referência da direção a seguir.



Amma, a Grande Mãe como é conhecida, é uma santa viva da Índia, um guru e um ser humano extraordinário. Sua história é a de uma menina pouco convencional que sempre esteve absorta em adoração a Deus. Dessa menina brotou uma mulher com força e energia (shakti) impressionantes. Amma é uma fonte inesgotável de shakti, e expressa isso de maneiras muito intensas como líder espiritual e como líder humanitária. Como guia espiritual Amma realiza grandes encontros com muitas pessoas, onde concede darshan (graça de estar junto com um mestre) cantando bhajans (mantras) e meditando. Esses encontros são marcados por um gesto peculiar de Amma, um abraço, pois ela abraça todos os participantes, um a um, e já ficou mais de vinte horas abraçando interruptamente. Além de ela não se esgotar, quem recebe seu abraço fica profundamente tocado e emocionado, basta observar as expressões dos abraçados/amados por ela. Mas sua força também é imensa como líder social e humanitária, pois ela é a fundadora da maior ONG do planeta, a Fundação Mata Amritanandamayi Math, reconhecida pela ONU e que integra uma enorme rede de atendimento com escolas, universidades, creches, asilos, hospitais, clínicas, farmácias e outras serviços para os menos favorecidos.

Amma oferece e acolhe tudo e a todos num grande abraço, não faz distinção entre espiritualidade e mundo social, entre contemplação e ação, entre quem é isso ou aquilo, apenas abraça calorosamente, e seu abraço tem poder transformador. Jay Amma!!

Que essa força conciliadora do abraço de Amma guie nossos passos durante o próximo ano e que todos possamos abraçar, e sermos abraçados, com a mesma verdade que ela aponta.



                                             Assista aos abraços

16 de dez. de 2012

O fim do mundo nosso de cada dia


Em 1999 eu dava aulas de “Relações Interpessoais” no ensino fundamental e médio. Tinha total liberdade para trabalhar o conteúdo e a condução das aulas, em cada turma seguia um roteiro diferente e isso geralmente era bem estimulante. A sala mais nova era a 6ª série (hoje 7º ano) e nela havia poucos alunos.

Não me lembro exatamente o mês, era mais para o final do 2º semestre, talvez outubro, mas naqueles dias só se falava sobre o fim do mundo. Lembro que ele estava marcado para uma quinta-feira logo de manhã, dia em que tinha aula com a 6ª série, e é lógico que esse assunto apareceu ansiosamente nas aulas. Na semana anterior ao apocalipse previsto, depois de ouvir os alunos e suas versões de como seria o fim do mundo, conclui a aula dizendo que ele aconteceria bem no horário da nossa aula, e já que iríamos para o beleléu todos juntos, por que não fazer isso com estilo? Dei então a sugestão, brincando, de fazermos uma festinha para a passagem final, mas com o calor das discussões achei que eles mal ouviram minha improvável ideia.

Uma semana depois, enfim chega o dia do fim dos tempos. Fui dar as aulas me preparando para falar mais sobre o assunto, mas ao chegar na 6ª série me deparo com... uma festa! Eles fizeram a festa, e sozinhos! Dividiram entre si quem levaria refrigerantes e quem levaria salgadinhos e o bolo, levaram até um pôster de decoração. No horário da minha aula rolou a festinha de despedida, a comemoração do fim do mundo, que de tão animada e inusitada, acabou atraindo outros professore e alunos.

Na hora do intervalo estava pensativo e me peguei num misto de surpresa, orgulho e felicidade. Não vou considerar agora algumas reflexões que tive dessa experiência, e que me fazem pensar até hoje, como, por exemplo, o peso daquilo que se fala para uma criança e um adolescente, o poder deles se organizarem e realizarem o que querem, a possibilidade de brincar como uma coisa séria... O que importa agora, mais uma vez, é a proximidade do fim do mundo.

Duas coisas são certas em nossa passageira vida: o mundo acabará e não sabemos como e quando. Um dia morreremos, um dia nosso tempo se esgotará e não poderemos postergar mais nada. Talvez a morte possa ser descrita como a impossibilidade total de negociação. Nossa morte é o fim de nosso mundo, independente de qualquer questão religiosa, nosso mundo, como o conhecemos e pelo qual estamos apegados, se encerrará com nossa morte. O planeta Terra não precisa ser destruído por guerras, cometas, catastrofes naturais, invasões de ETs ou até pela ira divina para termos o fim. O fim do mundo está em nós, no coração temos o “nosso” mundo, aquele que amamos, aquele que queremos preservar a qualquer custo. É este mundo que não queremos perder, é este mundo que a morte ameaça e é justamente este mundo que não é eterno. Terrível destino esse que nos aguarda, que esperamos encontrar só lá na frente, na verdade não queremos nunca encontrar, mas que sempre atingiremos.

Mas igualmente terrível é não perceber que vivemos o fim do mundo o tempo todo, todos os dias. O que é imune ao tempo? O que permanece? O que não muda? O que conseguimos segurar nas mãos? Ao lembrar-me dessa festinha de fim de mundo com meus alunos, penso que também já fui criança, adolescente e que dela doze anos se passaram. O mundo acaba todos os dias e, maravilhosamente, o mundo se renova todos os dias. Podemos seguir junto, recriando-o, ou ficarmos no caminho, habitando um mundo que já não existe mais. Podemos investir na fantasia de sermos imortais e preservar nosso mundo, ou podemos nos entregar à morte cotidiana e vivermos a criação todos os dias. E que não confundamos o fim do mundo com um filme de Hollywood, com eventos externos, com profecias terríveis, mas que ele aconteça em nosso coração todos os dias, e se possível num clima pleno de vida, tal como numa festinha espontânea de 6ª série.  


8 de dez. de 2012

Respirar e sentir, sentir e respirar


Durante alguns anos estive bastante envolvido com teatro. Ele, além de apaixonante, é um grande e inevitável agente transformador, tanto que acho difícil alguém passar ileso por este contato. Há uns dez anos, nos ensaios para a minha primeira apresentação (uma esquete de Nelson Rodrigues) tive um momento de clareza que me abre caminhos até hoje.

Ensaiava com minha companheira uma cena chave da peça. Nesta cena discutíamos, pois eu desconfiava que ela me traía enquanto ela negava convicta. Já estava com as falas e as marcações bem decoradas, mas ainda faltava algo, sentia a cena chocha, sem verdade. Depois do ensaio conversei com a diretora sobre minha insatisfação, ela concordou e me deu um toque: como eu podia ficar irado sem bufar? Passando a cena sozinho em casa percebi que estava falando com raiva, gesticulando com raiva, mas não respirava com raiva. Faltava a respiração da raiva! E quando ela veio fez muita diferença, no ensaio seguinte cheguei a me assustar com a raiva que senti em cena. A respiração me trouxe a emoção que faltava, a cor que não aparece apenas com fala e gesto. Pois a raiva produz uma respiração própria, intensa, quente, assim como o respirar assim traz um movimento interno que amplia o sentir raiva. Da mesma forma, temos respirações diferenciadas em momentos de tranqüilidade, amor, ansiedade, medo, euforia, tristeza... O aflorar de uma emoção é o aflorar de uma respiração. Mas no yoga essa é uma verdade que também pode ser dita de modo inverso: o aflorar de uma respiração é o aflorar de um estado emocional, e isso é simples de se observar.

Observe sua respiração num momento de grande tensão e, carinhosamente, faça-a ficar mais suave, depois veja como se sente (por sinal, é isso que muita gente diz nessa hora: “calma, conte até 10, tome um copo de água, vai lá fora respira um pouco de ar puro...”, alguns fumam e talvez respirem com um pouco mais de intensidade). Essa forma eficaz de se alterar um estado emocional tem fundamento na intima relação entre respiração e emoção, ou estado mental. Alterando um se altera o outro. Sabendo disso, os yoguis desenvolveram algumas técnicas de respiração, os pranayamas, que na verdade vão bem além da respiração propriamente dita, mas que tem grande efeito nos estados emocionais e mentais. Se você ficar alguns minutos respirando confortavelmente e suavemente, como se sentirá? Que estado interno será aflorado? Experimente fazer essa experiência agora mesmo.

Em meditação essa relação fica muito nítida. Na tela mental surge um pensamento, e com ele uma imagem, e com ela um significado, e com ele uma emoção, e com ela uma reação fisiológica, tal como o coração bater mais rápido e a respiração bloquear. Perceber esse processo, que ocorre em frações de segundos, é uma poderosa maneira de intervir nele, que quando não percebido, ocorre automaticamente. Respirar é mais do que um ato involuntário e mantenedor da vida, é também uma expressão de nosso mundo interno, é também uma via de acesso ao mais sutil que temos em nós.

T. Krishnamacharya, mestre de B.K.S. Iyengar, entregue em pranayama

30 de nov. de 2012

Yoga é como um oceano



O yoga é como um oceano... vasto, profundo, surpreendente. Cada um se relaciona com este oceano da forma que pode e quer, e há muitas formas.

Uns sabem que ele existe, já ouviram falar, mas nunca o viram e nem estão interessados nisto. Outros já o viram por fotos, livros e vídeos, e isso basta. Outros o admiram de longe, da calçada de uma orla urbana. Que bela paisagem! Alguns outros gostam de molhar seus pés nas águas rasas e mansas. Outros passam o dia nadando, brincando ou surfando em suas eternas ondas. Outros o atravessam, de margem a margem, em barcos e navios, mas não o tocam. Outros tiram dele seu sustento, o enfrentam todos os dias, conhecem suas variações e ritmos. Outros mergulham de fato nele, pesquisam, vão fundo.

Todos se relacionam com o oceano, cada qual a sua maneira. Mas aquele que apenas molha seus pés não faz idéia do que há no mais fundo.  Há muitas formas de se relacionar com o yoga, e em todas elas podemos tirar proveitos e receber muitos benefícios, mas isso pode nos deixar acomodados no mínimo, no prazer pequeno. Yoga vai muito além de alongar músculos ou de trazer um pouco de relaxamento, além dessa praia há um vasto oceano a se navegar e mergulhar. Pela prática dedicada do yoga avançamos mar à dentro, e o tamanho deste oceano chamado yoga é exatamente o tamanho da Consciência. Yoga é a própria Consciência, que começa pela restrita e contida no âmbito pessoal, mas que não se limita a ela, vai além, muito além. 

23 de nov. de 2012

Vá dormir...

Estou saindo hoje de um curto período de mal estar, um pouco de irritação na garganta, um pouco de dor de cabeça, um pouco de indisposição geral, um pouco de febre, ou seja, um pouquinho de vários sintomas que me deixaram debilitado. Como nenhum dos sintomas era muito forte, aproveitei e fiz uma experiência. Na verdade já fiz isso outras vezes, mas nessa fui mais atento.

Nestes três dias de mal estar procurei fazer apenas aquilo que sentia vontade, não forcei nada. Seguir essa diretriz me fez mudar alguns hábitos: comi menos e bebi mais água, dormi mais, falei menos, fiquei mais sozinho. Senti vontade também de mexer no corpo, mas de forma suave, sem nenhum desconforto, queria pelo contrário, tirar o desconforto. Fiz então várias práticas de posturas restauradoras com longas permanências, principalmente as deitadas e as que soltavam a região dos ombros e pescoço. Em uma dessas práticas fui presenteado com uma deliciosa sensação de alívio percorrendo por dentro da pele, tal como um fio de água fresca em dia de sol quente. Mas o que me surpreendeu mesmo foi o poder do sono.

Desmarquei os atendimentos de duas tardes e fiquei em casa sem fazer nada, ou melhor, dormindo, ou melhor ainda, dando oportunidade para o meu corpo recuperar-se. Na primeira tarde o sono foi profundo e restaurador e na segunda foram varias cochiladas, não tão profundas, mas igualmente restauradoras.  O sono foi o melhor remédio que tomei, e acho que teve seu efeito potencializado com as práticas, a dieta e o ficar sozinho.

Senti na pele “a magia fisiológica do poder do hipometabolismo” que Sandro Bosco diz no seu livro “Posturas Restauradoras de Yoga”. O sono permite que o corpo se recupere, se reorganize, se regenere e se refaça quando entra no estado de mínimo funcionamento, quando todo o metabolismo cai. Nessa hora, ao não fazermos nada, deixamos o corpo (a natureza) seguir seus próprios caminhos e o melhor que podemos fazer é não impedir esse fluxo e não atrapalhar o processo. 

Mas qual é a maior fonte de obstáculos para que isso ocorra naturalmente? A mente, a mente inquieta e insegura que se apressa em buscar soluções mágicas e imediatas. A mente que não pára não deixa o corpo parar também. Mas é exatamente quando ela sai de cena que a mágica acontece. Saúde!

                                  
 Eu em Dwi Pada Pavana Muktasana, postura altamente relaxante 

                                     

15 de nov. de 2012

Cenas do espírito humano



"Baraka" é um filme experimental de 1992 que costura belas e fortes cenas, e música, da natureza e da nossa complexa cultura humana. Apenas cenas e música de fundo, sem falas, sem uma sequencia lógica. 
Mas o que um filme assim pode dizer e despertar?
A experiência de parar e assisti-lo já é interessante. Sem pretensões de seguir uma linha de raciocínio, de chegar a um fim, apenas entregando-se e observando o fluxo das imagens e dos sons. Apenas contemplando e nada mais, pode-se chegar à um estado mental muito interessante e próximo da meditação. 
O filme mostra curiosas personagens, e suas façanhas, e expõe nossa conflituosa experiencia humana, que oscila entre a dor e o prazer, entre o novo e a tradição, entre a natureza e a cultura, entre o sagrado e o profano. Mas, principalmente, "Baraka" (que significa benção) contorna uma presença que permeia a humanidade a milênios, revela a busca e a vivência daquilo que pode dar significado à nossa existência, e daquilo que pode ocorrer na falta disso. 
Ainda me lembro do impacto que tive na primeira vez que o assisti, há vinte anos, e das duas cenas que mais me tocaram: o semblante sereno do monge, ou monja, zen budista (não saber se homem ou mulher é mais fascinante ainda) e do monge que caminha em meditação, no ritmo de um sino, por uma movimentada e apressada rua. 

4 de nov. de 2012

"Jesus te ama!"


Não sei por onde ela anda, já faz muito tempo que não a vejo. Ela era magra, alta, cabelos longos, lisos e presos num rabo de cavalo e usava óculos redondos à lá John Lennon. Ela era conhecida por andar por toda a cidade dando o seu recado, diziam que não batia muito bem.

Naquele dia eu estava chateado e desanimado, não me lembro o motivo, esperando minha oportunidade de atravessar a rua movimentada. Muitos carros, cara amarrada, pensamentos justificando o mal humor. Devagar um carro se aproxima de mim, era ela, e como sempre, sorrindo. Quase saindo pela janela ela pára o carro, me olha nos olhos e diz três palavras que me resgataram: Jesus te ama!

Deixou seu recado e se foi. E eu ali fiquei, renovado e sob o efeito da flechada certeira. Ela fez comigo o que fazia com todo mundo que encontrava. Parava e amavelmente dizia ”Jesus te ama”. Só isso. Nenhum convite, nenhum folheto, nenhuma pregação, nenhum julgamento, nenhuma verdade, nenhuma pretensão. Só um sorriso, um olhar e o lembrete de que havia amor.

Não sei exatamente o que me fez bem, se ouvir que Jesus me ama, se o gesto concreto dela em fazer contato comigo, se sua forma carinhosa de dizê-lo, talvez tudo isso junto. Só sei que ela muito me ajudou em sair de onde estava atolado. Na correria da cidade, quem olha nos olhos? Quem cumprimenta sinceramente e carinhosamente um estranho? Quem fala de amor? Quem quebra protocolos? Quem é desinteressado? Quem é disponível e gratuito? Só mesmo aqueles que não batem muito bem, que sabem que precisamos de mais do que aquilo que acreditamos precisar.

Vejo nessa querida e, infelizmente, sumida “louca” uma autêntica e bela bhakta, ou seja, uma praticante de bhakti yoga. Há muitas formas de se praticar yoga e uma das mais tradicionais é pelo amor a Deus. Em sânscrito bhakti é devoção, entrega, amor incondicional, um forte sentimento de amor. O que importa neste caminho é o amor, a confiança total e o intenso sentimento de amor por Deus, tenha Ele a forma que cada praticante possa conceber. Esse forte sentimento de entrega é capaz de dissolver barreiras, transformar e libertar quem dele é tomado. Nesse estado o coração só pode estar aberto, sem medo, e assim, inevitavelmente, abrindo espaço para aproximações, trocas, relações, enfim, abrindo-se para a vida.


Que cada um proclame esse sentimento à sua maneira. Todos agradecemos.  

28 de out. de 2012

Incoerência eleita




Hoje encerrou-se a eleição para prefeito aqui em Taubaté, e desta eleição tirei um grande aprendizado.  Nada relacionado a nenhum partido ou aliança política, nada também com questões sociais ou sobre o futuro da cidade ou ainda, sobre quem armou com quem. Falo de um aprendizado de âmbito pessoal, coisa do meu quintal, pequena, porém cara.

Um candidato é alguém que se expõem, que vai para o público e busca nele simpatia e apoio. Para isso conta com o recurso da propaganda, que quase sempre o mostra como um exemplo inquestionável de várias virtudes. Honestidade, competência, preparo, simpatia, inteligência, capacidade de trabalhar, bons contatos, solução para qualquer problema, e por aí vai, geralmente a lista não muda muito.

Todos nós sabemos que isso não é verdade, não porque nenhum político presta, mas porque ninguém reina só em virtudes. Todos temos nosso lado B (C,D,E...), aqueles detalhes que jamais anunciaríamos numa propaganda para ganhar simpatia, aquilo que, às vezes, lutamos para não aceitar como pertencente a nós mesmos. Nunca subimos por inteiro no palanque, nunca, pois seria certeza de derrota nas urnas. Mas em todas as eleições a história se repete, virtudes anunciadas só em mim (candidato) e vícios denunciados apenas no outro (outro candidato).

Pois bem, eu estava muito incomodado com a incoerência de um candidato, que discursava algo bem diferente do que vivia.” Como pode alguém viver assim, levar uma vida tão dupla?”, “como é possível manter essa fachada?”, “como pode tanta mentira não ser descoberta?”,“como as pessoas podem ser cúmplices disso?”,  perguntava-me várias vezes. Tinha certeza de que ele não era um candidato confiável, pois sustentava tamanha incoerência e dissociação.

Mas felizmente, bem antes que a eleição chegasse ao fim, recebi o meu próprio voto nulo. Logo após ter me dado conta de uma grande incoerência entre o que eu havia prometido e o que havia feito de fato, passei em frente de um outdoor do candidato que achava tão incoerente. Lá estava ele, gigante, sorrindo da minha cara. Só pude rir de mim mesmo e relaxar. Quem era eu para estar tão incomodado assim com a incoerência do outro? Por acaso não sou incoerente também?

Fazer as pazes com minhas incoerências me deixou mais leve e mais “normal”. Embora isso não seja um convite para que eu não olhe mais para elas ou deixe de buscar mais coerência na minha vida. A questão é como conduzir esse processo, pois posso fazer isso com leveza, clareza e, porque não, bom humor e riso.  

23 de out. de 2012

Yoga do grupo



Na semana passada tive uma oportunidade que quase não tenho: fui assistente de uma aula para 32 pessoas. Geralmente estou no papel de professor, daquele que conduz e que corrige a turma, ou então no papel de aluno, quando olho para dentro, quando fico em minha própria experiência.  Mas nessa aula, como assistente, fiquei na posição privilegiada de observador e pude acompanhar um processo sutil e transformador acontecendo. O grupo era bem heterogêneo em termos de níveis de prática e estava inicialmente disperso e desencontrado, além de um pouco excitado, mas no decorrer da aula foi entrando em outra atitude, em outra freqüência, e no final já não era mais o mesmo grupo. Fiquei com a sensação de que não foram os 32 membros  que praticaram, mas apenas um, o grupo.
  
A prática de yoga é sempre focada na experiência individual, naquilo que ocorre da pele para dentro, no como a prática realizada toca cada um. Assim, quanto mais me empenho na minha prática, mais resultados eu terei. Essa é uma lógica simples e da qual muitas vezes nos esquecemos, o princípio de que se não faço, não será feito. Mas isso tem validade para a perspectiva individual, para a prática solitária, pois quando o contexto é grupal algo a mais entra em cena.

Várias pessoas unidas com empenho, entrega, esforço e abertura geram um fator muito importante, e é ele que irá determinar muito do que o grupo será capaz de produzir. Esse fator é a força gerada pela reunião de pessoas, pelo grupo, uma força que é oriunda de cada membro, que influencia cada membro, mas que não se restringe a cada membro. Existe a força do professor e do aluno, mas acima deles há a força do grupo. Não reconhecer esse fato é desprezar uma incrível força e um grande aliado no entendimento do fluir das experiências em contexto grupal. Um professor atento deve ouvir, cheirar, ver, sentir isso, deve perceber o movimento do grupo e a partir dele encaminhar seu trabalho.

Diferentemente dos trabalhos de grupos na psicologia, onde o conflito é o ponto de partida, no yoga o empenho e a estabilidade é que produzem e revelam a sintonia e a força do grupo. Em sânscrito uma comunidade ou associação de praticantes é chamada de sangha, e nela o praticante pode e deve buscar apoio. Assim, quando estou num grupo, empenhado e buscando a consciência na minha prática o resultado e os frutos desse esforço podem não se restringir apenas à minha experiência, mas podem ser compartilhados dentro desse ser coletivo e integrador que é o grupo, ainda mais se for um grupo de yoguis.



15 de out. de 2012

Para ler e restaurar-se



Posturas Restauradoras de Yoga, Sandro Bosco, Matrix Editora
Este é um livro simples e rico com posturas simples de yoga. Tem também um objetivo simples, e nobre: ajudar na cura de alguns males físicos e mentais. Esse processo é quase sempre naturalmente simples, nossa ansiedade e ignorância é que o atropela e o impede de ocorrer. Diante de qualquer mal estar rapidamente corremos para os remédios, buscando alívio imediato dos sintomas, e assim perdemos a oportunidade de ouvir, de ver, de sentir, de entender o que nosso organismo está pedindo, está precisando. Em nosso mundo corrido, confuso, cheio de informações e cobranças, não há muito espaço e tempo para uma “conversa” profunda e longa com nós mesmos, e é exatamente essa a proposta das posturas restauradoras. Nelas nos entregamos e damos a oportunidade dos processos naturais, sábios, eternos e certos da cura se desenrolem. O milagre aqui é não atrapalhar o que a natureza faz muito bem.

O livro lista trinta distúrbios e indica pelo menos uma série com três ou quatro posturas para aliviá-los. Essa lista vai desde dor nas costas, insônia, refluxo, pressão alta, até ansiedade e depressão. Porém, acho que o grande valor deste livro, e das posturas restauradoras, é maior que ser uma fonte de socorro, mas é ser a possibilidade de começar uma conversa mais intima consigo mesmo. Além disso tudo, esse livro é especial para mim, pois foi criado por meu professor e eu tive o prazer de participar dele posando para as fotos.

7 de out. de 2012

Convite


Posturas Restauradoras de Yoga
- Guia de Saúde -


Lançamento do livro e aula prática com 
Sandro Bosco – Yoga Dham/SP

Venha participar desta aula especial e vivenciar posturas restauradoras 
seus efeitos terapêuticos, além de compreender melhor o processo 
de cura e de auto-conhecimento através do Yoga.

Data: 19 de outubro 2012, sexta-feira
Horário: 19h às 21h
Local: Plaza Suíte Hotel, rua Dr. Emílio Winther, 1415 - Taubaté
Valor: 50 reais (que inclui um exemplar do livro e a aula)
Informações e inscrições: marcostaschetto@hotmail.com /9132-1232 ( Marcos)

Vagas limitadas



Sandro Bosco 



Certificado Internacional de Iyengar Yoga e coordenador 
da escola Yoga Dham, em São Paulo. Pratica e ensina 
yoga e meditação há mais de quarenta anos e, nos 
últimos dez, vem dedicando-se em formar, desenvolver 
e aprimorar as capacidades de novos professores.  


3 de out. de 2012

Gandhi, um praticante


                       "Aquele que não é capaz de governar a si mesmo 
                          
                                                          não será capaz de governar os outros"

                                                                                                 Mahatma Gandhi



Gandhi transpôs a barreira de seu tempo e de sua região, e muito dessa força é devido a sua radical opção em buscar coerência. Fez isso de maneira muito simples: vivendo e praticando aquilo que acreditava. Só isso, nada de muito discurso, de muita filosofia, de muito debate. Não que ele não estivesse mergulhado e comprometido com uma visão de mundo, com uma proposta filosófica de como deveria ser o homem e o mundo, muito pelo contrário. Mas Gandhi não foi um professor, doutor ou filósofo, foi um yogui, um praticante, que, por detalhes do seu percurso, envolve-se com questões sociais e políticas. 

Na foto ele está tecendo sua própria roupa, concretizando assim uma idéia que não era para ser discutida, mas realizada. Esse foi um dos muitos gestos que fez e que tiveram grandes repercussões políticas, não só na Índia, mas em outros países também.E Gandhi conseguiu, magistralmente, transformar conceitos filosóficos em gestos concretos no mundo das relaçoes humanas.

Facilmente dizemos para nós mesmos que deveríamos agir desse ou daquele modo, que deveríamos passar a fazer isso ou aquilo, que se o mundo fosse de determinada maneira tudo seria melhor, etc e etc, e assim ficamos apenas dizendo, pensando, discutindo, debatendo, em resumo, ficamos essencialmente apenas protelando a ação efetiva. Essa ação precisa partir de nós mesmos, precisa ser gerada em nosso interior e realizada em nossa vida cotidiana. Se não consigo fazer isso comigo, se não consigo viver o mínimo de coerência entre aquilo que penso, que acredito, que falo e que faço, minha única força será a da simulação, da encenação.

A busca da coerência tem seu preço, por vezes bastante caro, mas é fonte de muita força, que as vezes ultrapassa o tempo e o espaço. Viva Gandhi!