4 de nov. de 2012

"Jesus te ama!"


Não sei por onde ela anda, já faz muito tempo que não a vejo. Ela era magra, alta, cabelos longos, lisos e presos num rabo de cavalo e usava óculos redondos à lá John Lennon. Ela era conhecida por andar por toda a cidade dando o seu recado, diziam que não batia muito bem.

Naquele dia eu estava chateado e desanimado, não me lembro o motivo, esperando minha oportunidade de atravessar a rua movimentada. Muitos carros, cara amarrada, pensamentos justificando o mal humor. Devagar um carro se aproxima de mim, era ela, e como sempre, sorrindo. Quase saindo pela janela ela pára o carro, me olha nos olhos e diz três palavras que me resgataram: Jesus te ama!

Deixou seu recado e se foi. E eu ali fiquei, renovado e sob o efeito da flechada certeira. Ela fez comigo o que fazia com todo mundo que encontrava. Parava e amavelmente dizia ”Jesus te ama”. Só isso. Nenhum convite, nenhum folheto, nenhuma pregação, nenhum julgamento, nenhuma verdade, nenhuma pretensão. Só um sorriso, um olhar e o lembrete de que havia amor.

Não sei exatamente o que me fez bem, se ouvir que Jesus me ama, se o gesto concreto dela em fazer contato comigo, se sua forma carinhosa de dizê-lo, talvez tudo isso junto. Só sei que ela muito me ajudou em sair de onde estava atolado. Na correria da cidade, quem olha nos olhos? Quem cumprimenta sinceramente e carinhosamente um estranho? Quem fala de amor? Quem quebra protocolos? Quem é desinteressado? Quem é disponível e gratuito? Só mesmo aqueles que não batem muito bem, que sabem que precisamos de mais do que aquilo que acreditamos precisar.

Vejo nessa querida e, infelizmente, sumida “louca” uma autêntica e bela bhakta, ou seja, uma praticante de bhakti yoga. Há muitas formas de se praticar yoga e uma das mais tradicionais é pelo amor a Deus. Em sânscrito bhakti é devoção, entrega, amor incondicional, um forte sentimento de amor. O que importa neste caminho é o amor, a confiança total e o intenso sentimento de amor por Deus, tenha Ele a forma que cada praticante possa conceber. Esse forte sentimento de entrega é capaz de dissolver barreiras, transformar e libertar quem dele é tomado. Nesse estado o coração só pode estar aberto, sem medo, e assim, inevitavelmente, abrindo espaço para aproximações, trocas, relações, enfim, abrindo-se para a vida.


Que cada um proclame esse sentimento à sua maneira. Todos agradecemos.  

4 comentários:

  1. O Amor como religião. Bacana isso, talvez esse um caminho devocional que abarque todos os seres em harmonia e respeito. Temos tanto que evoluir. Namastê!

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    1. Mais importante que a religião, é o amor que ela desperta. Sem ele, ela é só um fardo. E que bom que temos esse roteiro para evoluir, que de tão simples, facilmente nos perdemos.
      Namastê!

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  2. Eu entendo o amor como a presença divina de Deus. Então quem ama expressa Deus em suas atitudes e tem ele consigo, mesmo sem talvez ter a consciência disso. Quando você recebe um"bom dia", "um sorriso", ou um "Jesus te ama", eu tenho a certeza que foi feita a comunicação direta com Ele.
    Tudo é simples, nõs humanos é que complicamos.
    Um abraço, e boa semana.

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