Não sei por onde ela anda, já faz muito tempo que não a
vejo. Ela era magra, alta, cabelos longos, lisos e presos num rabo de cavalo e
usava óculos redondos à lá John Lennon. Ela era conhecida por andar por toda a
cidade dando o seu recado, diziam que não batia muito bem.
Naquele dia eu estava chateado e desanimado, não me lembro o
motivo, esperando minha oportunidade de atravessar a rua movimentada. Muitos
carros, cara amarrada, pensamentos justificando o mal humor. Devagar um carro
se aproxima de mim, era ela, e como sempre, sorrindo. Quase saindo pela janela
ela pára o carro, me olha nos olhos e diz três palavras que me resgataram: Jesus
te ama!
Deixou seu recado e se foi. E eu ali fiquei, renovado e sob o
efeito da flechada certeira. Ela fez comigo o que fazia com todo mundo que
encontrava. Parava e amavelmente dizia ”Jesus te ama”. Só isso. Nenhum convite,
nenhum folheto, nenhuma pregação, nenhum julgamento, nenhuma verdade, nenhuma
pretensão. Só um sorriso, um olhar e o lembrete de que havia amor.
Não sei exatamente o que me fez bem, se ouvir que Jesus me
ama, se o gesto concreto dela em fazer contato comigo, se sua forma carinhosa de
dizê-lo, talvez tudo isso junto. Só sei que ela muito me ajudou em sair de onde
estava atolado. Na correria da cidade, quem olha nos olhos? Quem cumprimenta
sinceramente e carinhosamente um estranho? Quem fala de amor? Quem quebra
protocolos? Quem é desinteressado? Quem é disponível e gratuito? Só mesmo aqueles
que não batem muito bem, que sabem que precisamos de mais do que aquilo que acreditamos
precisar.
Vejo nessa querida e, infelizmente, sumida “louca” uma autêntica
e bela bhakta, ou seja, uma praticante
de bhakti yoga. Há muitas formas de se praticar yoga e
uma das mais tradicionais é pelo amor a Deus. Em sânscrito bhakti é devoção, entrega, amor incondicional, um forte sentimento
de amor. O que importa neste caminho é o amor, a confiança total e o intenso sentimento
de amor por Deus, tenha Ele a forma que cada praticante possa conceber. Esse forte
sentimento de entrega é capaz de dissolver barreiras, transformar e libertar
quem dele é tomado. Nesse estado o coração só pode estar aberto, sem medo, e
assim, inevitavelmente, abrindo espaço para aproximações, trocas, relações, enfim, abrindo-se para a vida.
Que cada um proclame esse sentimento à sua maneira. Todos agradecemos.
O Amor como religião. Bacana isso, talvez esse um caminho devocional que abarque todos os seres em harmonia e respeito. Temos tanto que evoluir. Namastê!
ResponderExcluirMais importante que a religião, é o amor que ela desperta. Sem ele, ela é só um fardo. E que bom que temos esse roteiro para evoluir, que de tão simples, facilmente nos perdemos.
ExcluirNamastê!
Eu entendo o amor como a presença divina de Deus. Então quem ama expressa Deus em suas atitudes e tem ele consigo, mesmo sem talvez ter a consciência disso. Quando você recebe um"bom dia", "um sorriso", ou um "Jesus te ama", eu tenho a certeza que foi feita a comunicação direta com Ele.
ResponderExcluirTudo é simples, nõs humanos é que complicamos.
Um abraço, e boa semana.
Que nunca nos afastemos do amor e da simplicidade.
ExcluirAbraço