27 de jul. de 2011

Libertação


Esse é um relato raro, o relato de um sobrevivente de desastre aéreo. Fato realmente raro e notável, pois nesse acidente o piloto conseguiu pousar o avião num rio e todos os passageiros sobreviveram! Apesar disso, o relato fala de algo nada raro, de algo certo, da regra básica e primeira da vida, ele fala da morte.

Definitivamente esse não é um assunto atraente hoje em dia, é muito mais estimulante falar de sucesso, de saúde, de felicidade, de prazer, de qualidade de vida. A morte, a grande estraga prazeres, aquela que, quando é lembrada, acaba se resumindo em: "aí meu Deus, ... ela é triste, é assustadora, é deprimente, é para a velhice, é para os outros, é ......, aí, mais que assunto mais chato esse, precisa falar disso bem agora!". Acho que nos faltam palavras para falar dela e para pensar sobre ela, e o melhor que conseguimos fazer é afastá-la o máximo possível da nossa vida diária. Mas essa atitude defensiva pode impedir um entendimento mais profundo da vida e do que fazemos com ela.

Há 2000 anos o Yoga Sutra, livro de referência para a prática do yoga, já cita a morte como uma fonte de sofrimento humano. São listados cinco males que inevitavelmente geram dor e sofrimento, a morte é o quinto e último deles, vindo depois da ignorância, do egoísmo, da paixão e do ódio. O sutra diz assim: "Mesmo em uma pessoa sábia, a vontade de viver, movida por desejos pessoais, é profundamente enraizada." Desejos pessoais aqui se referem ao apego que temos aos nossos planos, às nossas intenções, ao nosso senso de controlar e dirigir tudo em nossa vida. A morte é a grande perda, é a grande derrota para o ego controlador. A vontade de viver é a vontade de controlar, de lutar, de não se entregar, de se manter apegado à vida. Tal empreendimento traz o inevitável medo da morte, da idéia do fim, sendo esse talvez o sentimento humano mais básico, o alicerce de muitas construções mentais e emocionais.

O trágico e irônico dessa situação é que nos apegamos à vida e não a vivemos plenamente, nos perdemos na fantasia de sermos eternos e protelamos o viver aqui e agora. A aceitação da morte é uma grande libertação, é largar a grande ilusão que carregamos obstinadamente, a ilusão de que temos total controle. Tudo isso pode parecer muito filosófico, distante da nossa vida real, mais é exatamente o que esse "sobre vivente" nos fala de maneira tão simples, forte e verdadeira.   
   
Agradeço a Solange por ter me mandado esse vídeo que me fez tão bem.

2 comentários:

  1. É emocionante e fantástico! A vida é bela e a morte também pode ser.
    O vídeo é um chamado pra realidade.
    Há algum tempo venho trabalhando espiritualmente para isso. Quando acreditamos em algo além da vida e numa Força Maior o coração acalma e nos entregamos além.
    Como estamos no presente (a palavra já diz tudo),é uma dádiva, façamos o nosso melhor que também receberemos o melhor do outro.

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  2. Para mim foi como despertar com um carinhoso tapa na cara, daqueles que poem as coisas no lugar imediatamente, sem panos quentes ou considerações desnecessárias. Que bom que tocou você também.
    Abração

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