30 de mai. de 2011

Presente no mercado

Acabei de chegar do mercado. Hoje é domingo e queria praticar logo cedo, mas, não foi possível. Peguei minhas sacolas e fui às compras da semana um pouco queixoso por não fazer minha série de asanas. Já na feira, me peguei preso em pensamentos de descontentamento, e me vi isolado das outras pessoas, das bancas, das frutas... do mundo externo.

Foi mágico, mas bastou eu erguer a cabeça e abrir os sentidos que um novo mundo se abriu para mim. De repente me vi cercado de muita gente, quase todas andando, falando, gesticulando. Uma infinidade de expressões, de caras. Um vai e vem sem fim. Todas evitando se esbarrarem, mas todas ali, vivas. Muitos sons em vozes, rizadas, conversas, músicas, e outros. Muitos cheiros em frutas, em lixos, em perfumes e suores. E eu ali, deslumbrado no meio disso tudo. Estava num festival para os sentidos, que minutos antes estavam adormecidos. Encher as sacolas foi só um detalhe desse banquete.

O que me fazia estar isolado do mundo, de tantos estímulos, de tanta vibração? Meus pensamentos. Mais do que isso, meu apego aos pensamentos de lamentação por não fazer o que gostaria, de querer estar em outro lugar. Me perceber preso à eles foi a saída da cela e perceber onde estava, foi ganhar a liberdade. 

No yoga e no tantra os sentidos são utilizados como um meio de se estar presente, de sair da cisão de se ter um corpo aqui, mas a mente em outro lugar. Ter a clareza de se estar percebendo, de se estar presente. Isso é possível em qualquer lugar em qualquer circunstância, até mesmo no mercado municipal num domingo de manhã.

25 de mai. de 2011

O asana e a montanha


Asana são as poturas realizadas numa prática de hatha yoga. São inúmeros os asanas existentes, assim como é quase infinita a possibilidade do corpo e da mente humana.
Uma definição clássica de asana é dada por Patanjali, um grande mestre da história do yoga. Ele o define como "Sthira sukham asanam". Sthira significa firme, fixo, constante, duradouro, sereno, calmo. Sukham significa conforto, deleite, alívio. Asana significa postura, assento, apoio. Assim, asana é uma postura onde se tenha apoio, estabilidade e conforto, tranquilidade e satisfação. Já tive vários alunos iniciantes que riram dessa definição, acharam irônica, pois estavam sentindo dor e desconforto, mas essa a sensação que se tem ao mergulhar num asana.

Essa definição sempre me remeteu a imagem de uma montanha. Todas essas palavras usadas para descrever um asana também podem descrevem uma montanha. Em alguns deles sinto até a dignidade e a nobreza que a montanha também me sugere. A montanha simplesmente está ali, estável , quieta, profunda, impertubável. O mundo gira e a montanha assiste e persiste. Contemplar uma montanha é uma forma de se aproximar do que é perene, consistente, silencioso, grandioso. Aprofundar-se num asana também.

No foto, a majestosa Serra da Mantiqueira, minha querida companheira de contemplação.

 

22 de mai. de 2011

Mas então... o que vem a ser yoga?

Proponho que, antes de continuar a ler, você experimente definir yoga. O que é yoga para você? Como praticante você têm sua experiência, tente então a partir dela, formular uma ou mais respostas. A experiência própria é algo fundamental no yoga, é o alicerce para a prática evoluir.

Tempo para você............ e espero que o resto do texto seja um complemento para sua resposta, que ajude a dar sentido para o que fazemos nas aulas.

Yoga é um termo sânscrito que significa basicamente disciplina espiritual e pode ser traduzido por união ou junção. Yoga é algo que une, que faz intermediação, que aproxima. Aproxima e une coisas que estão separadas. Mas une o que? Do que nos aproximamos quando praticamos?

A aproximação e a união podem acontecer num nível pessoal ou num nível transpessoal. No aspecto pessoal a união é do corpo com a mente, e, indo um pouco mais além, do corpo/mente com o espírito. Na dimensão transpessoal, aquilo que vai além da pessoa, a união é do espírito pessoal com o universal, da parte com o Todo, sendo este o objetivo maior do yoga.

Yoga é um nome genérico para vários e diferentes métodos de se atingir a união. Todos eles buscam o mesmo fim, a experiência de estar integrado, de estar inteiro, de estar em relação direta e íntima consigo mesmo e com a vida. Todos nós, praticantes ou não, já tivemos essa experiência alguma vez, talvez não tenhamos lhe dado valor e ela então passou desapercebida. A prática é uma forma de alimentar essa experiência, de desabrochá-la e intensificá-la. Essa consciência de integração também recebe o nome de yoga, ou seja, yoga é o caminho e o fim, a prática e o resultado desejado.


Namastê e boas práticas.

19 de mai. de 2011

O poder da mente II

Estou no final de uma pequena temporada com dengue. Passei alguns dias abraçado a um desconforto sem trégua. No início, pensei que fosse um desses resfriados que nos pegam com as mudanças rápidas de temperatura, até virem as manchas pelo corpo. Além disso, estava numa semana bem puxada, cansativa. Meus horários estavam corridos, o consultório cheio, novas aulas, atendimentos até tarde da noite, aulas bem cedo, e, como sempre, eu fazendo tudo de bike. Nesses dias comi fora do horário, pouco e mal, dormi tarde, acordei cedo e agitado, me cansei, e não descansei o bastante. Estava naquela típica rotina de quem não tem tempo a perder, de quem não pode deixar passar uma oportunidade, de quem... bem, de quem se perdeu!

Imenso é o poder da mente humana, uma fonte inesgotável de criação, mas poucas coisas são tão nocivas quanto uma mente acelerada. Ela quase sempre desconsidera a realidade que a circunda, não consegue sair de si mesma, mantém toda energia voltada apenas para seus projetos e para seus filhos, os pensamentos. É uma fonte de ruídos desconexos, uma perda de contato com o mundo, com a vida e consigo mesmo. Essa talvez seja a dissociação mais básica do ser humano, a separação entre mente/corpo, a experiência de incoerência entre a vivência do corpo e a dinâmica mental.

A dengue passou, mas a lição ficou, preciso praticar mais.
Diante da cisão mente/corpo, nada melhor do que asanas. Eles são uns dos meios do yoga para a integração, para a vivência de unidade, que é o próprio de saúde. No asana a mente está encarnada no corpo, no presente, na pulsação do momento presente.
E então veio minha salvação, fiquei doente, não resisti e caí. Parei, forçado mas parei, que bom, era o que eu precisava. A correria era da minha mente, ela arrastava um corpo que não era percebido, que não era considerado. Fiquei doente e escutei-o, me cuidei, comi, dormi e desacelerei.

16 de mai. de 2011

O poder da mente

É senso comum dizer que a mente e os pensamentos tem poder, que interferem na realidade, que influenciam nossas vidas. Mas isso acontece? E como acontece? Parece até mágica, é só pedir e receber, é só desejar que o desejo será satisfeito. Se diz até que o universo vai conspirar a seu favor.

Temos então dois desdobramentos possíveis para essa questão, ou se vai para a infantil fantasia de receber tudo na boca, basta pedir, ou se vai para uma abordagem mais sutil dessa relação entre o pensar e a realidade. Para muita gente isso geralmente cheira a algo sobrenatural, sem lógica, uma crendice ingênua, mas nas tradições do yoga e da meditação isso é bem familiar.

Nos tantras, corrente filosófica da Índia medieval, o universo é compreendido com vibração, como movimento, como energia pulsando. Tudo está intimamente inter-relacionado, nada está excluído da Criação, ela acontece o tempo todo em todo lugar. A palavra tantra siginifica, entre outras coisas, rede, trama, propondo então, um universo vivo e dinâmico como uma grande rede. O ÔM que vocalizamos no início de toda prática é expressão dessa vibração, dessa unidade. Uma forma de se afinar ao som do universo. Para os tantras os pensamentos são como palavras pronunciadas, que por sua vez são como gestos efetivamentes realizados. Assim, xingar ou agredir alguém em pensamentos secretos é semelhante a dar um soco concreto nessa pessoa. Pensamentos, sentimentos e ações são parte da mesma rede e geram efeitos no meio e em quem os experimenta. Tudo vibra, tudo se manisfesta em rede e em ondas.

Um cientista japonês, Sr. Emoto, conseguiu registrar essa relação sutil em fotos de cristais de água. As imagens falam por si e ilustram a filosofia tântrica de forma simples e direta.

http://www.caminhosdeluz.org/A-173.htm

Agradeço a Augelani e a Tuda por terem me enviado esse link.

12 de mai. de 2011

Ao mestre


Gostaria de fazer uma breve apresentação de alguém especial. Alguém que criou uma forma criativa e acessível de se de praticar yoga, alguém que orientou e orienta muitos praticantes em todo o mundo. Um mestre, B.K.S. Iyengar.
 
Com 92 anos, completados em dezembro passado, Iyengar foi uns dos primeiros a trazer o hatha yoga para o ocidente. Nos anos 50 já fazia apresentações de asanas para platéias da europa, época em que o yoga era tido como faquirismo ou uma exotica ginástica oriental.
Ao longo de mais de 70 anos de prática, de ensino, de viagens, de pesquisa e de dedicação total ao yoga, Iyengar foi criando um método próprio, que passou a ser conhecido como Iyengar Yoga. Usando recursos simples como cintos, blocos e cobertores, o método permite que qualquer pessoal pratique ou então aprofunde ainda mais sua prática. Iyengar fez dos asanas uma arte, uma ciência e uma ferramenta poderosa de se experimentar a filosofia do yoga.
Neste filme feito em sua homenagem, que tem o sugestivo nome de "O corpo é meu templo, asanas são minha oração", Iyengar aparece com diferentes idades realizando vários asanas.



9 de mai. de 2011

Entrando em contato

Sou Marcos F. Taschetto, 40 anos, moro em Taubaté/SP, casado, pai, professor, psicólogo e praticante de yoga. Gosto de estudar, de ler, de ouvir meus LPs, de sair com a famíla e de falar sobre o que gosto.
Por 9 anos falei um pouco sobre psicologia, dando aulas sobre relacionamento humano, ética, formação profissional e adolescência. Foi uma experiência muito rica, é estimulante preparar aulas, pesquisar conteúdos e dividir com uma turma esses achados. Mas, deu-se o tempo, e há uns 3 anos decidi permanecer apenas com o consultório e com as aulas de yoga.

Nunca imaginei dar aulas, nem de psicologia e menos ainda de yoga. Nos dois casos fui convidado e a melhor coisa que fiz foi aceitar. Antes de dar aulas, o yoga era pra mim algo que eu gostava, que estudava, que praticava, mas sem maiores comprometimentos. Com alunos te esperando isso muda, é preciso vivenciar o que se ensina, é preciso que isso seja vivo no professor. Dar aulas não me deixou ficar estacionado.

Faz 7 anos que dou aulas de yoga e quase 20 que pratico. Durante esse percurso tive três encontros muito importantes para mim. O 1º foi em 1990 ao conhecer minha primeira professora, Isabel Pardo Rossini, conhecida carinhosamente como Dona Isabel. Nunca vou esquecer seu olhar, seu carinho, seu silêncio. Tenho a impressão que ela investiu em mim, que conseguia ver em mim coisas que eu mesmo mal percebia. Foram momentos doces e à ela serei sempre grato. Desse encontro cheguei a dar algumas aulas como auxiliar dela, mas ainda não era a minha hora.

O 2º encontro foi com os alunos. No começo de 2004 conheci um amigo, Márcio Simi, que também fora aluno de D. Isabel. Praticamos algumas vezes juntos e ele me convidou para dar aulas em sua academia. Mordi a isca. Esse impulso foi fundamental pra mim, me fez andar e aperfeiçoar minha prática. Fui buscar então uma formação em São Paulo na mesma escola de minha professora. Fiquei uns anos na rede DeRose, mas sentia falta de algo e percebia que os alunos precisavam de mais recursos para realizarem os asanas sem dores ou sem se machucarem. Na ocasião tive proveitosas conversas com o professor Sérgio Ferreira que me ajudaram a encontrar um novo caminho.

Tive então o 3º encontro. Conheci o método Iyengar através de Sandro Bosco em sua escola Yoga Dham, em São Paulo. Muito além de uma nova forma de praticar, de novas técnicas, esse encontro tem me levado para o mais profundo, para o mais elevado, para o o mais sutil. E também para o mais simples, para o verdadeiro, para o possível. Impressionante como o yoga é algo que se vai descobrindo, se achando. Uma verdade que vai sendo revelada através da prática pessoal e dos encontros, tanto com os professores como com os alunos.

Agradeço aqui à D. Isabel, aos alunos (de ontem, de hoje e do futuro) e ao Sandro, meu professor, pelos encontros que me levaram e me levam um pouco mais além.

Namastê!

Um blog porque...

Boa parte das pessoas tem noção de que o yoga não se resume em fazer posturas, exercícios respiratórios e ou relaxamento. Que tem um algo a mais aí, quase sempre não muito claro. Os alunos muitas vezes procuram esse algo a mais de maneira indireta, sem saber exatamente o que estão buscando.

Há mais ou menos uns três anos começou a surgir, depois da aula, uma conversa espontânea sobre yoga, a prática e afins. Alguns alunos faziam algumas perguntas ou comentários, e a conversa fluía num papo gostoso. Ia surgindo assim, o algo a mais que alguns alunos vinham buscar. Depois de um tempo, combinei que no final da aula de quinta-feira eu falaria mais especificamente sobre um tema do yoga. Falei sobre os 10 princípios éticos e parei poraí. Poderia ter continuado, mas acho que assim se perdeu um pouco do gostoso e espontâneo que vinha acontecendo nas conversas informais.

Os papos livres continuaram e recentemente tive a idéia de mandar e-mails para os alunos com conteúdos sobre yoga ou relacionados. Mas, no terceiro e-mail me ocorreu de registrar e deixar esse material junto, disponível num blog. Fui inspirado também por acompanhar o blog de meu professor, o "Blog do Yogue". A idéia é extender a prática da sala de aula, é ter um espaço para a vasta filosofia do yoga.

O nome "OlhardoYoga" tem pra mim vários significados. Sempre me tocou muito as imagens do Buda em meditação, principalmente seu olhar. Olhos serenos, profundos, sutis, nem aberto nem fechados. Que prazer achar e usar essa imagem no blog! Olhar também é olhar para alguma coisa, dar foco, ficar de frente, se dedicar à algo. Essa é a intenção do blog. O yoga é conhecido na Índia como um dos seis darshanas do hinduísmo, o que significa que ele é uma das seis visões ou formas que o hinduísmo possui de entender a vida humana e Deus. Yoga é um jeito de olhar o ser humano, a vida e o universo. E, além de gostar do som da pronúncia, associo olhar com alma e com tocar, coisas que se aproximam do yoga.
Que esse espaço seja fértil! Namastê!