3 de jul. de 2011

A criança e o adulto distraído


      Pego meus acessórios e vou praticar no quintal. Um pouco de sol e muitos asanas, nada melhor. Mas, percebo então que meu vizinho, que tem uma banda, está ensaiando. Tudo bem é só não dar atenção. Mas, de repente minha filha resolve vir brincar perto de mim. Tudo bem, ela é ótima companhia. Mas, sinto então meu corpo duro, dolorido, sem força. Tudo bem, daqui a pouco ele desperta, é só começar. Bem, na verdade, com todos esses poréns, não foi tão fácil assim começar essa prática.



    No meio de todos esses "mas" que foram se acumulando em poucos instantes, eu fui me perdendo. Me vi no meio de uma confusão, de um tiroteio de estímulos diferentes que me deixaram desnorteado. A música, minha filha chamando, meu corpo estranho, minha vontade, tudo isso estava desencontrado, em conflito. Nessa hora tive vontade de guardar os acessórios e ir pra dentro, para, sei lá, ver TV, tomar banho, lavar louça, ir fazer compras, ouvir música, qualquer coisa, menos estar comigo, menos me suportar. Não cheguei a ficar irritado, apenas desencontrado, e a vontade de praticar quase se desfez. 



    Precisei então daquele segundinho milagroso, de que precisamos às vezes, para pegar nossa rédea nas mãos. Foi como ter de puxar uma conversa sem ter assunto ou como começar a escrever sem inspiração, meio que na marra, mas foi. Quando me dei conta já sentia no meu corpo a força e energia dos asanas, a música que ouvia agora era da minha respiração e da doce voz de minha filha brincando e cantando. Nem sei quando a banda parou de tocar, só sei que duas horas depois eles não estavam mais tocando. 



   Qual foi a mudança? O foco da atenção. Em determinado momento saí da confusão que estava e entrei na prática, que nada mais é do que focar a mente, estar presente e testemunhar o que acontece. A primeira reação que tive ao me sentir confuso foi a de buscar distração, de ir para qualquer atividade externa. Esse movimento para fora é oposto ao da prática, que leva para dentro, para a mente testemunha.



   Mas bom mesmo foi perceber que havia mais alguém praticando comigo. Alguém que sem nenhum conflito pode entrar no estado de atenção e se torna totalmente presente. Alguém que tem como "prática" a liberdade absoluta de brincar. Uma pequena flor de Liz com 5 anos de idade, minha filha.



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