19 de set. de 2011

Disciplina é liberdade

Conversava com uma amiga sobre alguns hábitos que fui adotando com a prática do yoga, principalmente os ligados à alimentação. No final da nossa conversa ela disse que apesar do yoga desenvolver a flexibilidade, eu havia me tornado rígido, pois fazia poucas concessões. De imediato não gostei muito de ser chamado assim, mas logo depois confirmei, dizendo que o que ela chamava de rigidez era na verdade disciplina. Disse isso ao me lembrar de um trecho de uma escritura antiga do yoga que diz: se não houver disciplina, o yogui não conseguirá nada com sua prática.
Um sonho dourado parece ser o de mudarmos sem nenhum esforço. Querer emagrecer sem mudar os hábitos alimentares, querer saúde sem cuidar de fato dela, querer tranqüilidade sem largar o que gera stress, resumindo, querer e não precisar fazer. Há sempre um remédio ou uma pílula meio mágica que pode fazer o trabalho por nós, o problema é só achá-la. No yoga, um dos "remédios" mais eficazes é a disciplina, ou seja, o comprometimento ao longo do tempo com alguma prática. Sem o comprometimento e a constância a semente não vinga, o padrão não se altera e a mudança de fato não ocorre.
Eu arrisco definir disciplina no yoga como uma frustração auto-imposta. Apesar de soar não muito simpático, acho que a auto imposição e a frustração nos remetem à algo valioso. Diferente da disciplina exigida num quartel ou numa escola, no yoga a disciplina só tem valor quando exercida pelo próprio praticante, não por uma imposição externa, mas por um desejo próprio. Mas a disciplina só vai acontecer se for possível aquentar frustrações, se for possível abrir mão de algo. Num exemplo simples, se quero praticar mais e não tenho tempo, posso acordar mais cedo, mas para isso terei que largar o conforto da cama. Eu mesmo me frustrarei. A direção está comigo. Alias, só sou livre quando posso recusar, se não consigo recusar, não sou livre, não existe liberdade que não passe pela frustração.
Percebo também como esses conceitos estão deslocados atualmente, e como fazem falta para todos nós. Frustração parece ser sempre algo lamentável e indesejável. É mais fácil falar de física quântica do que de frustração, ainda mais se ela for auto imposta. Disciplina, recusa, frustração, tudo isso parece coisa do passado, algo que não combina com o nosso tempo onde se pode tudo, o tempo todo. 

2 comentários:

  1. Marcos, sem palavras. Esse texto foi prá mim, se é que vc me entende. Valeu.

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    1. Que bom que o que serviu para mim também pode servir para você. Valeu

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