30 de jun. de 2011

Imperfeição

Outro dia durante a aula fui corrigir uma aluna, quando me aproximei ela disse brincando: "O que será que está errado agora". Na verdade não havia nada de errado, era apenas uma questão de ajuste da postura. Mas esse comentário me fez reviver uma sensação que tive quando comecei a praticar o método Iyengar.


Antes praticava os asanas de maneira solta, sem observar detalhes e alinhamentos, dava mais importância para e estética do que para a precisão, além de também não usar acessórios. Ao começar o curso de formação me deparei com uma prática bem diferente, e confesso, um pouco frustrante. Há todo momento havia uma correção a ser feita, há todo momento era apontado que algo estava faltando, que ainda não estava bom. Isso foi me chateando, me deixando irritado, será que nunca iria fazer certo? Achei o método exagerado, exigente demais, não havia um momento de tranquilidade. Tal como minha aluna, quando meu professor se aproximava eu também pensava: "vamos ver o que está errado agora".


Aos poucos essa sensação foi se dissipando, foi dando lugar a uma outra. Passei a querer ser mais corrigido, pois quando isso acontecia acabava aprendendo mais sobre o asana e sobre meu corpo. Ser corrigido era uma oportunidade de mudança, de aperfeiçoamento. E isso é bom, essa é a idéia de se praticar, ser agente de uma real transformação em si mesmo. Mas o que mudou de fato a minha sensação de ser errado, de não estar acertando, foi quando me dei conta do que estava realmente querendo. Queria apenas ser perfeito! (Aí, aí, aí....). Queria fazer asanas que fossem admirados por serem irretocáveis, perfeitos, e não motivo de correção e melhoras. Ser corrigido era uma rasteira no meu orgulho, na minha humilde pretensão de ser perfeito.

Hoje minha pretensão é outra, quero praticar mais e descobrir mais, e para isso a correção é uma benção.


27 de jun. de 2011

Dandasana

Dandasana
Danda: bastão
Postura do bastão
O dandasana é uma postura básica feita no chão e serve de referência para várias outros asanas sentados. Seu nome se deve a forma que a coluna deve assumir, a de um bastão, alongada, firme. Sua permanência ajuda no fortalecimento das pernas e dos músculos abdominais e aumenta o controle emocional.

22 de jun. de 2011

Foi muito bom

Ontem fizemos o nosso sat-sanga e foi muito bom. Apesar da simplicidade do rito, seu poder e profundidade são marcantes. Os mantras ecoam fundo aquietando a mente e o coração. O grupo em círculo intensifica e amplia a experiência individual.Essa é a força do sanga, da reunião de praticantes, que apóia, que impulsiona. O carinho e a dedicação de cada um em estar lá, em levar alimentos ou flores, ou em ajudar na realização, também intensificam o encontro.
Em setembro, próximo à entrada dda primavera, estaremos novamente reunidos em círculo.
Até lá.

19 de jun. de 2011

Destino

                          “O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo.
                                              O que for o teu desejo, assim será tua vontade.
                                              O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
                                        O que forem teus atos, assim será teu destino.”
                                                                                                                                                                Brihadaranyaka Upanishad

A idéia de destino pode nos levar a uma certa irresponsabilidade, a uma entrega para aquilo que consideramos que já é certo, que já está definido. Frases do tipo: “não é para mim”, “já foi se o tempo”, “não posso fazer nada por isso”, “é o meu jeito”, “se eu pudesse...” e muitas outras, resumem um pouco essa convicção. Não há a perspectiva de mudança, não é sentido o poder para a transformação.
Nesse pequeno trecho de uma escritura antiga, o destino é colocado como fruto de um desejo pessoal. O destino está amarrado aqui ao reconhecimento do que se deseja, pois é esse é o motor da vontade e da ação. O destino nasce em atos do cotidiano, o que inclui também os pequenos e corriqueiros atos, que se repetem ao longo de dias, meses, anos e décadas. O destino é uma obra artesanal, única, que vai sendo feita ao longo da vida. Muito do que acontece, ou não acontece, é conseqüência direta do que desejamos e do que fizemos por isso. Há aqui o peso saudável da responsabilidade, de responder pelo que se desejou e pelas escolhas que se fez. Quantos desejos estão condenados a permanecerem para sempre como apenas sonhos distantes? Quantas ações são adiadas ao famoso dia de São Nunca? Quantos desejos abortados, quantas ações congeladas, quantas escolhas de destino irresponsáveis! Não dá para se lavar as mãos com a própria vida.
O yoga sem esse entendimento não dá frutos, não leva à transformação, se torna apenas uma fonte de bem estar momentâneo, que passará depois da prática. O yoga é, antes de tudo, uma forma de se cultivar o próprio destino.

18 de jun. de 2011

Sat-sanga

No sat-sanga dessa terça-feira (21/06) faremos um kirtan, um mantra cantado, e o ôm contínuo. Os mantras são sons, que quando pronunciados ou cantados, ativam novas formas de consciência. Uma das traduções para mantra é palavra de poder. As palavras têm poder, têm o poder de invocar sentimentos e pensamentos, de construir realidades para quem as pronuncia e para quem as ouve. Faremos então um sat-sanga do som, do mantra.

Venha de coração aberto e se quiser traga algo para comer ou beber, pois após a prática faremos uma breve confraternização. Peço apenas que não seja nada com carne ou derivados e nenhuma bebida alcoólica.

O mantra que cantaremos é:
Jay Jagatambe He Ma Durga (2x)
Om Narayani Om (4x)

Espero por todos

16 de jun. de 2011

Saiu na Istoé



A edição passada da revista Istoé teve como capa uma reportagem sobre yoga. A matéria baseia-se numa recente pesquisa científica sobre o impacto positivo da prática no tratamento contra o câncer. Divulgações desse tipo têm sido constantes na mídia, e, de modo geral, isso é bom. O yoga vem chegando aos poucos no ocidente e ultimamente está chegando com o carimbo do produto cientificamente comprovado. Isso equivale a dizer que algo é verdadeiro, oficial, que não é falso.

O que não poderia ser imaginado há alguns anos atrás, hoje é fato em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. A própria reportagem cita alguns hospitais brasileiros que têm o yoga como uma opção de auxílio no tratamento do câncer. Esse reconhecimento é bom em vários aspectos, entre eles o de tornar um saber milenar mais democrático, mais acessível. Lembra o propósito e lema de Iyengar: “o yoga é para todos”. Quantas pessoas não chegam no yoga pela doença e pelo sofrimento? Muitas. E cada vez mais chegam com uma indicação médica. Muitas dessas pessoas acabam ficando e aprofundado sua prática, vão além do que se considera tratamento. Deixam de ser pacientes e se tornam praticantes.

Mas aqui cabe um ponto importante, que é lembrar qual é o propósito maior do yoga. Yoga não é um tratamento médico, nem fisioterápico, nem psicoterápico, nem estético, nem relaxante, nem nenhum outro. Yoga é um caminho de libertação, de autoconhecimento, de integração. Yoga é uma maneira de se viver. Traz benefícios? Sim, e muitos, e para todos, mas que esses benefícios não camuflem e desviem daquilo que realmente faz diferença na vida, a consciência e o autoconhecimento.

Leia aqui a matéria inteira:
http://www.istoe.com.br/reportagens/140391_TODO+O+PODER+DA+IOGA

13 de jun. de 2011

Um assalto mental

Sábado, 5 h da manhã, um frio de chorar e eu na beira da Dutra, esperando meu ônibus passar. É fim de semana do curso de formação e a aula começa as 8:00h, lá em São Paulo. Meu ônibus passa, e, não pára. Aí... que frio, que pena, já estou atrasado. Como o próximo ônibus só passaria as 5:30 h, achei melhor ir andando até o próximo ponto para me esquentar um pouco. Na verdade acabei passando mais frio, era melhor ter ficado quieto, mas foi bom ir até o outro ponto.

Ao chegar no ponto dou de cara com um sujeito suspeito, com um pano no rosto, chapéu e uma roupa estranha. Percebo então, que um pouco mais acima, havia um outro homem em atitude suspeita, só observando. Pensei comigo: "já vou chegar atrasado, estou morrendo de frio e ainda vou ser assaltado!". Fiquei ali, tentando disfarçar e pensando no que fazer. E nada do ônibus. De repente, o homem que estava mais longe se aproxima, e eu então tenho a certeza, chegou a hora do assalto acontecer.

Nesse exato momento me vêm uma luz, uma clareza sobre como posso eu saber qual a intenção dele? Como posso eu saber o que de fato vai acontecer? Assim que penso nisso abro o peito e respiro melhor, alongo a coluna e firmo as pernas num tadasana espontâneo. O homem, que percebo ser na verdade um adolescente, pega o ônibus para São José dos Campos. No minuto seguinte um carro com conhecidos pega o mascarado para ir para o trabalho. E eu fico no ponto sozinho, rindo de mim mesmo e, confesso, agora um tanto aliviado.

Na verdade o alívio e o riso vieram pela implosão do castelo que fiz. Um castelo feito de padrões de pensamento, de julgamentos pré-estabelecidos sobre isso ou aquilo. Geralmente o preconceito é considerado um fenômeno social, mas ele ganha vida e é realizado na mente de cada um de nós a todo momento. Meu pré-conceito foi ter certeza que seria assaltado pelos dois "suspeitos", eu criei a tragédia e a anunciei como verdade. Uma verdade que só existiu dentro dos meus padrões mentais, dentro dos meus pré-conceitos. Realmente fui assaltado, fui abordado e rendido pelos meus próprios pensamentos.

Pré-conceito é uma pré-experiência, uma prévia, algo ensaiado, algo que já nasce meio pronto, meio conhecido de antemão. Como diria Cazuza, ele é como um museu cheio de novidades. Pré-conceito é o que nos bloqueia para o realmente novo, o original, o nascente, o que não sabemos. Nossas experiências podem ser sempre novas, nossos pré-conceitos não, são previsíveis, são um padrão que bate na mesma tecla, sempre. Ir além desses padrões e abrir-se para a experiência inédita que sempre temos pela frente é praticar yoga, é ter a mente leve, disponível e arejada.

8 de jun. de 2011

Convite especial

Nesse próximo dia 21 de junho, uma terça-feira, as 20:30h, faremos na academia CorpoEspaço o primeiro Sat-sanga desse ano. Sat-sanga é uma reunião de praticantes, uma forma de intensificar a prática pessoal e de criar, ou aumentar, o contato com outros praticantes.

Em breve passarei um mantra e mais detalhes para o encontro.



Fotos do sat-sanga do final de 2008


6 de jun. de 2011

Bom para se ler e consultar

Light on Yoga” de B.K.S. Iyengar é um clássico do autor e da literatura mundial sobre yoga. Foi lançado em 1966 e contém fotos e descrições detalhadas de como realizar mais de 200 asanas e 14 pranayamas. Não há edição em português.
Ilustrarei alguns asanas aqui no blog com fotos desse livro.



"A luz da Ioga"Uma versão condensada do Light on Yoga. Além da primeira parte com definições sobre o que é yoga, contém 57 asanas chaves e 4 pranayamas. No Brasil foi lançado pela Editora Cultrix.



Tadasana


Tadasana
Tada: montanha
Postura da montanha
O tadasana é um asana básico que contém princípios que estão presentes em muitos outros asanas. Trabalha tudo o que envolve o ficar de pé, e isso não é pouca coisa. Vai do apoio dos pés no chão e a distribuição do peso do corpo até o alinhamento e alongamento da coluna, passando pela abertura do tórax e firmeza das pernas.
Suas ações criam espaço em toda extensão da coluna e corpo, agindo contra a inevitável ação da gravidade que nos puxa para o chão. No tadasana o corpo se alonga a partir do contato com o chão, é de uma boa base de pés e pernas que a coluna vai em direção ao céu. Sua prática proporciona firmeza, quietude e solidez tal como uma montanha com bases largas assentadas na terra.