4 de abr. de 2012

Yoga é algo que não se faz


A aluna nova, no final de sua primeira aula, se questiona se um dia conseguirá realizar aquelas posturas tão bonitas que já viu em revistas. Diante da dúvida da novata, outra aluna mais antiga responde confiante: sim, aos poucos é possível realizar muitas posturas, aos poucos você conseguirá muita coisa.

Entendi a intervenção da aluna mais antiga como uma forma de acolhimento e incentivo para a que estava começando, e isso foi bom, mas ela me fez pensar também em como essa fala expressa uma forte imagem sobre a prática de yoga. É senso comum dizer: “estou fazendo yoga”, “não deu para fazer yoga hoje”, “faça yoga antes que você precise”, “ela faz yoga muito bem”. O verbo fazer indica uma ação, um desempenho, uma atuação, assim como se faz um café, um alongamento, uma telefonema, um movimento, um penteado. O foco está no desempenho, no que poderá ser visto pelos outros. “Puxa, agora você consegue colocar as mãos no chão!”. Essa constatação parece dizer que a prática melhorou, que se está fazendo yoga melhor, pois o desempenho se diferenciou. Mas então qual a diferença entre yoga e alongamento? Entre yoga e condicionamento físico? Entre yoga e pilates? O que difere um yogi de um ginasta ou de uma acrobata? Se o foco é só o desempenho, o quanto se consegue fazer algo, praticamente não haverá diferença entre essas propostas, em todas é possível fazer posturas ou movimentos bonitos e inusitados com o corpo.
Mas o caminho do yoga não mira o desempenho, o que se busca é a consciência, e no caso das posturas, a meta mais imediata é a consciência corporal profunda. Num gesto automático não há consciência, pode-se fazê-lo pensando no próximo feriado, ou seja, pode-se fazê-lo sem envolvimento, sem se estar nele. Não há yoga sem comprometimento. Não é o fazer as posturas que torna o yoga presente, não basta sentar-se com as pernas cruzadas e os olhos fechados ou ficar de ponta cabeça, ou então colocar os pés na cabeça. Não é o que se faz, mas sim o como se faz que nos leva ao yoga. E qual o segredo do como se faz? A presença ou não da consciência. Mais do que fazer isso ou fazer aquilo, o caminho do yoga passa pela vivência subjetiva, pela vivência interna de como se está no que se está fazendo.

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