Entendi a intervenção da aluna mais antiga como uma forma de acolhimento e incentivo para a que estava começando, e isso foi bom, mas ela me fez pensar também em como essa fala expressa uma forte imagem sobre a prática de yoga. É senso comum dizer: “estou fazendo yoga”, “não deu para fazer yoga hoje”, “faça yoga antes que você precise”, “ela faz yoga muito bem”. O verbo fazer indica uma ação, um desempenho, uma atuação, assim como se faz um café, um alongamento, uma telefonema, um movimento, um penteado. O foco está no desempenho, no que poderá ser visto pelos outros. “Puxa, agora você consegue colocar as mãos no chão!”. Essa constatação parece dizer que a prática melhorou, que se está fazendo yoga melhor, pois o desempenho se diferenciou. Mas então qual a diferença entre yoga e alongamento? Entre yoga e condicionamento físico? Entre yoga e pilates? O que difere um yogi de um ginasta ou de uma acrobata? Se o foco é só o desempenho, o quanto se consegue fazer algo, praticamente não haverá diferença entre essas propostas, em todas é possível fazer posturas ou movimentos bonitos e inusitados com o corpo.
Mas o caminho do yoga não mira o desempenho, o que se busca é a consciência, e no caso das posturas, a meta mais imediata é a consciência corporal profunda. Num gesto automático não há consciência, pode-se fazê-lo pensando no próximo feriado, ou seja, pode-se fazê-lo sem envolvimento, sem se estar nele. Não há yoga sem comprometimento. Não é o fazer as posturas que torna o yoga presente, não basta sentar-se com as pernas cruzadas e os olhos fechados ou ficar de ponta cabeça, ou então colocar os pés na cabeça. Não é o que se faz, mas sim o como se faz que nos leva ao yoga. E qual o segredo do como se faz? A presença ou não da consciência. Mais do que fazer isso ou fazer aquilo, o caminho do yoga passa pela vivência subjetiva, pela vivência interna de como se está no que se está fazendo.
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