30 de set. de 2011

Um bom negócio


Há uma química a ser descoberta na prática de cada asana. Essa reação depende de vários fatores, tais como nossa disposição física e mental no momento, a intensidade que damos ao asana, o tempo de permanência, os asanas anteriores e os posteriores, momento do dia, estado de entrega à prática, tempo de prática, qualidade da prática, entre outras coisas. Todos estes fatores se relacionam e podem produzir experiências únicas, que quase sempre estão acima da nossa intenção e controle. Mas essa química entre a prática, o asana e nossa experiência tem uma equação determinante: o tanto que se dá é o tanto que se recebe.
Uma prática com pouca dedicação será modesta em seus efeitos, o pouco investimento nos trás pouco retorno. No entanto, uma prática feita com vontade, entrega e vigor, nos leva para além da nossa zona de conforto, e torna-se uma prática concreta de transformação e superação. Conquistamos novos territórios em nós mesmos. No yoga essa atitude chama-se bhava, que é o sentimento intenso de amor, fé e devoção para com o que estamos fazendo. O estado de bhava abre portas, permite cruzar montanhas.
Diante da nossa entrega e dedicação, o asana responde despertando em nós força, clareza, bem estar e uma nova consciência. E aqui fica uma dica: nesse negócio não economize (ou fique na preguiça), invista!

28 de set. de 2011

O que escutas?

O yoga reconhece o imenso poder vibratório do som. Os mantras são um meio de se intervir diretamente na nossa consciência, alterando nossos estados internos. As expressões do som na forma de palavras e musica também emanam o mesmo poder. Somos afetados, percebendo ou não, pelas vibrações físicas do som, e não é força de expressão falar que determinada palavra ou música nos toca, pois elas nos tocam mesmo! Seu efeito é imediato e repercurte por todo nosso corpo físico, energético, emocional e mental. O som pode nos levar para o céu ou para o inferno dentro de nós. Portanto, é bom escolher com o que alimentamos os ouvidos, pois a alma não é surda.

Apresento, com orgulho,  Andre Geraissati, um músico profundamente inspirado e original. Suas músicas abrem caminhos, levam a lugares únicos e especiais. Para mim, escutar, saborear, olhar, cheirar e ser tocado por suas músicas tem o efeito de uma prática, me aquietam, me despertam. Experimente se entregar à essas "Fazenda 83" e "Três Marias".


19 de set. de 2011

Disciplina é liberdade

Conversava com uma amiga sobre alguns hábitos que fui adotando com a prática do yoga, principalmente os ligados à alimentação. No final da nossa conversa ela disse que apesar do yoga desenvolver a flexibilidade, eu havia me tornado rígido, pois fazia poucas concessões. De imediato não gostei muito de ser chamado assim, mas logo depois confirmei, dizendo que o que ela chamava de rigidez era na verdade disciplina. Disse isso ao me lembrar de um trecho de uma escritura antiga do yoga que diz: se não houver disciplina, o yogui não conseguirá nada com sua prática.
Um sonho dourado parece ser o de mudarmos sem nenhum esforço. Querer emagrecer sem mudar os hábitos alimentares, querer saúde sem cuidar de fato dela, querer tranqüilidade sem largar o que gera stress, resumindo, querer e não precisar fazer. Há sempre um remédio ou uma pílula meio mágica que pode fazer o trabalho por nós, o problema é só achá-la. No yoga, um dos "remédios" mais eficazes é a disciplina, ou seja, o comprometimento ao longo do tempo com alguma prática. Sem o comprometimento e a constância a semente não vinga, o padrão não se altera e a mudança de fato não ocorre.
Eu arrisco definir disciplina no yoga como uma frustração auto-imposta. Apesar de soar não muito simpático, acho que a auto imposição e a frustração nos remetem à algo valioso. Diferente da disciplina exigida num quartel ou numa escola, no yoga a disciplina só tem valor quando exercida pelo próprio praticante, não por uma imposição externa, mas por um desejo próprio. Mas a disciplina só vai acontecer se for possível aquentar frustrações, se for possível abrir mão de algo. Num exemplo simples, se quero praticar mais e não tenho tempo, posso acordar mais cedo, mas para isso terei que largar o conforto da cama. Eu mesmo me frustrarei. A direção está comigo. Alias, só sou livre quando posso recusar, se não consigo recusar, não sou livre, não existe liberdade que não passe pela frustração.
Percebo também como esses conceitos estão deslocados atualmente, e como fazem falta para todos nós. Frustração parece ser sempre algo lamentável e indesejável. É mais fácil falar de física quântica do que de frustração, ainda mais se ela for auto imposta. Disciplina, recusa, frustração, tudo isso parece coisa do passado, algo que não combina com o nosso tempo onde se pode tudo, o tempo todo. 

16 de set. de 2011

Mas afinal, o que querem as mulheres?


Essa é uma famosa indagação de Freud ao se deparar com os mistérios do feminino, e, acho eu, que é também uma questão que muitos homens se fazem diante de suas companheiras. Mas não quero falar aqui das diferenças de gênero em si, quero é ampliar um pouco uma constatação bem óbvia. Desde que comecei a me envolver com o yoga, e até hoje, o número de mulheres praticantes é sempre bem maior que o de homens. Por quê?
Quando comecei a praticar, a imagem do yoga era de algo meio esotérico e mais destinado para senhoras. Hoje essa imagem mudou, mas elas ainda são a maioria. Num dia desses, depois de ter dado três aulas onde só havia mulheres, fiquei me perguntando: o que as mulheres procuram? O que encontram no yoga? E os homens, o que querem? Por que a maioria não procura o yoga? Que relação pode existir entre ser mulher ou homem e praticar yoga?
Bem, se você, homem ou mulher, tiver alguma idéia sobre isso e quiser compartilhar, fique a vontade, gostaria de ouvir opiniões.  

11 de set. de 2011

Badhakonasana


Badhakonasana
Badha: retrito, fechado
Kona: ângulo
Postura do ângulo fechado

Nesta postura, o ângulo fechado das pernas proporciona um aumento da circulação de sangue na pelve, no abdome e nas costas. É ótimo para as mulheres pois ajuda a regularizar o ciclo menstrual e estimula os ovários. Sua prática ajuda as gestantes a se preparar para o parto. Pode ser realizado com apoio nos quadris, com apoio de uma parede nas costas, como invertido ou ainda deitado.

5 de set. de 2011

Mais livros?

Desde pequeno estou envolvido com livros. Meu pai teve uma livraria por mais de 20 anos e lá tive contato com muitas pessoas e muitos livros. Adorava abrir as caixas cheias de livros que meu pai trazia toda semana de São Paulo, repletas de pedidos e lançamentos. Adorava também conferir todos esses livros e depois organizá-los nas estantes por assunto ou por autor. Dessa forma, acabei gostando não só da leitura, mas também dos livros, e aos poucos fui formando a minha biblioteca, que estou sempre reabastecendo.
Há uns dias atrás dei uma passada no sebo onde sempre vou procurar “novidades”. Eu já havia escolhido dois livros, quando chegou um senhor de boné com algumas caixas de livros para vender. Eram livros de auto-ajuda, de psicologia, de administração e afins, e eu fiquei ali na espreita, ansioso para dar uma olhada no banquete recém chegado. Porém, enquanto conversava com o dono do sebo, o senhor de boné soltou uma que me deixou imobilizado. De forma simples e direta ele falou: “Eu fiquei muitos anos só lendo, até perceber que eu não colocava nada do que lia em prática. Agora só quero ficar com alguns livros, não adianta nada ler e não fazer, senão a vida continua na mesma.” Apesar de já dizer isso várias vezes para mim mesmo ao entrar numa livraria ou sebo, ouvir isso com tanta convicção foi um tanto revelador.
Tomada a lição, larguei os livros que já tinha escolhido, agradeci silenciosamente o senhor de boné e fui embora ruminando sobre a verdade dita por ele. Tal verdade é especialmente válida para livros de yoga e de espiritualidade em geral. Nesses assuntos o acúmulo de informação pode ser mais uma barreira do que um esclarecimento. Yoga é prática, é experiência própria e não uma teologia ou teoria sobre algo. Ler sobre yoga pode levar à ilusão de se estar vivenciando o yoga, mas isso é só alimento para elaborações mentais e não produz mudanças efetivas na vida. Ler livros, assistir palestras e vídeos, ser simpatizante, querer um dia praticar, saber nomes, estudar, debater..., tudo isso é estéril sem a vivência da prática.
Para mim, largar os livros foi calar aquela eterna fome de mais informação, que na verdade é uma inquietação, uma ansiedade. É preciso largar a expectativa de que ainda falta, de que ainda se está incompleto. O ainda é uma boca escancarada querendo sempre mais, dizendo: “quando eu souber isso serei feliz, quando eu fizer tal asana minha prática vai ser boa, quando eu tiver tempo..., quando eu conseguir..., quando eu puder..., quando eu estiver preparado..., quando..., quando..., pois eu ainda não...”. Eterno ciclo que nos leva a um beco sem saída: jogar para o futuro a possibilidade que só é real no presente.
Livros novos? Que tal ler os que já estão na minha estante. Mais livros novos? Que tal reler e aprofundar os bons que já li. Livros novos de yoga? Que tal praticar o que já sei intelectualmente. No yoga a aventura começa sempre na prática.

3 de set. de 2011

A graça não tem forma II


Quero acrescentar duas coisinhas sobre a postagem anterior:
  • Eu não conhecia o Acro yoga até ver o vídeo, então fui dar uma pesquisada. Acro yoga é uma maneira de praticar asanas em dupla utilizando-se também de recursos da acrobacia, da dança e da massagem indiana Thai. O trabalho em dupla desenvolve integração, companheirismo e confiança. 
  • Encarnar o corpo não é algo que se faça sem algum empenho. É preciso um meio para se entrar em contato com o corpo e ir habitando-o gradativamente, e para isso, os asanas (posturas do yoga) são uma maravilhosa ferramenta. Além dos asanas, há muitas outras formas de se percorrer esse caminho de ampliação da consciência do corpo, mas o que é fundamental em qualquer uma delas é o “como” se faz isso. Dançar para uma apresentação ou para ganhar o prêmio do Faustão é uma coisa, dançar para se estar em contato consigo mesmo é outra. Fazer asanas para ser admirado, para conseguir mais desempenho é uma coisa bem diferente de mergulhar no corpo e em si mesmo através deles.