Nossa vida atual tem um forte apelo mental. Somos banhados
por informações o tempo todo, vindas de todas as direções. Valorizamos o
pensar, o entender, o explicar, o decidir, o dominar, o antecipar, o saber, ou
seja, valorizamos e alimentamos a atividade mental. Nosso mundo gira todo em
torno e em função da referência mental. Essa atitude tem como consequência
vivermos com a mente constantemente estimulada e acelerada. Mentes que não
param e que não podem parar, pois correm o risco de serem ultrapassadas ao
ficarem desatualizadas.
Uma criança poderia descrever esse nosso jeito de viver como
um mundo habitado por homens e mulheres cabeções. Um mundo cheio de fios, visíveis
e invisíveis, conectados diretamente nas enormes cabeças desses seres de olhos
arregalados. Tudo aconteceria dentro dessas infladas, informatizadas e virtuais
cabeças. Esses seres cabeçudos teriam também corpos pequenos, mirrados e
frágeis, haja visto que pouca coisa aconteceria dentro deles. Uma enorme e
estimulada cabeça e um pequeno e esquálido corpo. Muito investimento em cima e
quase nenhum em baixo. Uma distribuição nitidamente desigual de vida e atenção
entre cabeça e corpo. Esses corpinhos seriam ligados nas cabeçonas por um fiapo
de pescoço, que não conseguiria conectar o que acontece em baixo com o que
acontece em cima, e vice versa. Quase uma cabeça sem corpo e quase um corpo sem
cabeça, na verdade, quase um personagem de filme de terror. Mas acho que podemos
admitir que essa é uma descrição fiel de como nos sentimos e estamos muitas
vezes.
Nada melhor para um cabeção do que investir um pouco de
atenção no corpo. Para isso, nada melhor do que asanas (posturas do yoga). E entre todos os asanas, os feitos em pé são especialmente eficientes nessa
redistribuição de atenção e de vida entre cabeça e corpo, ou sendo mais
preciso, entre mente e corpo. Posturas de pé trazem a nítida percepção do chão,
da gravidade, do equilíbrio, da força, da estabilidade e amplitude do corpo. Posturas
de pé acordam, despertam e estimulam o corpo, florescendo o estado de presença
integral. Corpinhos se preenchem de vigor e de novas sensações e cabeçonas esvaziam-se
e desinflam-se, voltando assim a fazer parte do corpo. Um cabeção precisa de um
corpâo, vivo, disponível, não necessariamente malhado, que chame a atenção para
si e que quebre assim a prisão de ser apenas mental.
Essa ideia lembra a proposta de Alexander Lowen, aluno de W.
Reich e criador da Análise Bioenergética. Lowen elaborou um método psicoterapêutico que
inclui vários exercícios para auxiliar o despertar e soltar do corpo reprimido
e contido. Esse trabalho corporal visa, mais do que soltar tensões, promover a
sensação de grounding, que é a sensação
de se estar com os pés na realidade, de se estar encorpado, encarnado, vivo,
presente e com os pés e pernas firmes no chão. Grouding é enraizar, aterrar, ter raízes profundas que conferem
estabilidade para todo o corpo e psiquismo.
Grounding é exatamente o que os asanas
de pé proporcionam, tanto que a postura de pé básica chama-se tadasana, que traduz se por “postura da
montanha”, onde é possível vivenciar-se as qualidades de uma montanha, tais
como: a firmeza de se ter uma base larga e estável totalmente enraizada no chão,
o pico alto, leve e sereno por estar bem sustentado, liberdade para observação aberta
do em volta, tônus sem rigidez, leveza subindo do chão ao topo da cabeça, descanso, atenção, vigor....
A atitude cabeção pede corpo, chão, grounding. Pés firmes no chão, corpo
A atitude cabeção pede corpo, chão, grounding. Pés firmes no chão, corpo
pulsando, olhar tranquilo e mente serena. E por que não agora mesmo?
Groundig na Bioenergética
Grounding no yoga
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