12 de mai. de 2014

A urgência do diálogo


Muitas pétalas, uma só flor

Após conversar sobre escolha profissional com uma angustiada adolescente, fiquei por uns instantes pensando no mal estar dela e no de muitos outros adolescentes quando pensam no futuro e se deparam com o questionamento: o que fazer? Qual caminho escolher? Durante a conversa com ela, lhe disse o quanto hoje é mais complexo escolher uma profissão do que era há 20 anos, e isso se deve ao grande número de possibilidades que temos hoje de conhecimentos e especializações. Definir o que é ser médico hoje, por exemplo, é algo muito mais trabalhoso e complexo do que era há alguns anos atrás, no tempo do antigo clínico geral da família. Complexidade que pelo jeito só irá aumentar com o tempo e com os avanços da tecnologia.

A adolescente estava angustiada em ter de escolher entre isso ou aquilo. Ela só poderá cursar uma faculdade por vez, então terá que ser uma ou outra. Mas qual? Os cursos universitários são caminhos diferentes e excludentes, portanto, é um ou outro. Felizmente esse drama passará, e no decorrer do curso escolhido ela poderá perceberá que uma formação pode muito bem se comunicar com outra formação, um curso pode se aproximar de outro, um saber pode dialogar com outro. Passado o carnaval do vestibular, ela perceberá que o saber não tem limites, não tem escolas e bandeiras competindo ou alas mais especiais do que outras. 

Mas, o que vemos mesmo na prática são as muitas profissões, especializações, métodos e saberes como entidades isoladas e sem comunicação entre si. Cada um mergulha no seu mundo específico, nada sabendo do vizinho. Essa situações cria o especialista isolado, aquele profissional que sabe muito de quase nada e quase nada sobre tudo. Esse é um saber fragmentado, sem comunicação, sem diálogo com a vasta teia se saberes ao seu redor. E na verdade, saber isolado é saber inútil, peça que não encaixa em lugar nenhum. 

O que o mundo precisa hoje é da circulação de saberes. Todos precisamos saber mais sobre tudo o que nos toca individual e coletivamente. Os diferentes saberes precisam conversar, precisam dialogar entre si, entre suas singularidades e complementariedades. Essa é uma atitude que ultrapassa as identificações particulares de cada área do saber. Não basta saber sozinho, é preciso saber junto. Não basta o psicólogo saber apenas do psiquismo, se com isso ele não consegue dialogar com outros saberes. Nem ele amplia seu saber e nem contribui para que o saber do outro também se amplie. 

Dialogar é a circulação do saber. Dialogar é ter contato com o diferente e correr o risco de ser transformado com ele. Dialogar é algo que nos leva para além das nossas fronteiras e limites pessoais. Dialogar é relacionar-se com. Em ciência esse diálogo entre diferentes saberes chama-se transdisciplinaridade, que nada mais é do que transpor os limites das disciplinas específicas em busca de um saber maior e mais íntegro.

Agora, como não relacionar essas idéias sobre o diálogo entre diferentes saberes com o yoga? Yoga é a prática do diálogo da consciência com todas as experiências possíveis, internas e externas. A palavra sânscrita "yoga" significa, entre outras coisas, união e integração. A união entre o corpo e a mente, no caso do comum exemplo, só ocorre no diálogo entre essas duas instâncias do ser humano, que geralmente se encontram bem desconectadas uma da outra. Quando uma relaciona-se com a outra, "coisas" surpreendentes acontecem. Praticar yoga é praticar união, ou, praticar o diálogo entre o que está separado, cindido, isolado, desconectado. E esse diálogo é, ao mesmo tempo, um poderoso antídoto para a angústia da separação e uma eterna fonte de criação e transformação.

2 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=ohJuREhJ_OY

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  2. Obrigado pela referência. É sempre bom ter Krishnamurti por perto!

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