O dia havia sido meio difícil. Um pouco de correria, de problemas e de irritações. Aquelas coisas, que às vezes, vão se acumulando e nos envolvem. No final do expediente, antes de ir para casa, enquanto estava na fila do supermercado, ouço alguém chamando: “professor!”. Viro-me e um rapaz barbado me cumprimenta: “não lembro seu nome, mas você deu aula de ética para mim na 8ª série”.
Caramba, fazia tempo que isso não acontecia, quase não encontro mais com ex-alunos, já parei de dar aulas em escolas há mais de cinco anos. Eu também não lembrava o seu nome, nunca fui muito bom nisso, mas aos poucos me vieram flashes dele, que na ocasião tinha 14 anos, e da sua turma. Não conseguiria reconhecê-lo, mas ele me reconheceu e veio me cumprimentar, apresentou sua esposa e me deu um presente inesperado para aquele final de quinta feira.
Ele me deu talvez o maior presente que um professor possa ganhar, disse que as aula de ética foram importantes para ele, que gostava delas e que ainda lembrava-se delas. Poxa, que satisfação essa, quinze anos depois eu recebo essa palavras que dão pleno sentido ao que é ser professor. Muito mais do que aquele que ensina algum saber específico, entendo o ser professor como aquele que faz alguma importância, que cria algo interessante e transformador no e com o aluno. Não lembro sequer o nome da disciplina de alguns professores que tive e que foram, e ainda o são, importantes para minha formação.
Nunca pensei em ser professor, nem de ética, nem de psicologia, e muito menos de yoga. Por caminhos um pouco inesperados acabei me tornando professor, e gostei muito. Lembro-me de como me esforcei, nos primeiros anos de sala de aula, em tentar ser exatamente igual a um professor que tive no ensino médio. Era o professor de literatura, suas aulas eram disputadas e inevitavelmente silenciosas, pois nelas ninguém piscava, não porque ele era bravo, mas por que suas histórias eram incríveis, irresistíveis, deliciosas. Qualquer turma se entregava à suas viagens literárias, históricas e psicológicas. Mas este era o jeito dele, não o meu, e só fui me sentir mais a vontade com meu próprio jeito de dar aulas uns três anos depois. Meu jeito era bem diferente do dele, mas suas aulas foram muito importantes para mim.
No yoga a relação entre professor e aluno é fundamental. Se essa relação não for importante, ou seja, se não gerar experiências com alguma importância no aluno e no professor, a qualidade de prática fica muito prejudicada, permanece rasa. Já fui um aluno com reservas, que questionava constantemente sobre o quanto estava sendo bom estar sob os cuidados de determinado professor. Este questionamento bloqueou minha prática, pois me deixou incapaz de confiar e de me entregar. Hoje percebo que acabei não dando muita importância a este aprendizado, pois me limitei a aprender técnicas, e só, não passei disso. Apenas quando damos real importância nos transformamos, somos afetados e vamos um pouco além.
Foi-me importante saber que tive alguma importância para meu ex-aluno, e nessa hora, ser professor ou ser aluno passa há não ter importância alguma.
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