14 de jul. de 2012

Palavras de poder

Uma antiga paciente, que estava afastada da terapia por alguns meses, me procura novamente. Marcamos um horário, e a sessão começa já com as novidades. Ela tomou uma decisão que está provocando grandes mudanças na própria vida e na dos seus parentes mais próximos. Realizou o que queria há tempos, tomou coragem e deu o passo. Está nitidamente mais radiante do que antes.
Mas nem sempre as mudanças acontecem sem resistências e dificuldades. E aí ele revela: "você me falou uma coisa muito importante, que foi fundamental para eu me preparar e enfrentar meu maior obstáculo, sem isso eu não teria conseguido fazer o que fiz".
Fiquei curioso, o que teria dito eu de tão significativo para ela há alguns messes atrás? Que palavras foram estas que serviram de bússola, de lembrete do caminho a ser seguido, que fizeram as vezes de um escudo de proteção contra a oposição, que foram como um amuleto "abre caminhos"?
Quis saber, e para minha quase surpresa não foi nenhuma frase especial, mas um pequeno comentário no meio de algo que achava mais importante. Digo quase surpresa, pois isso ocorre com frequência, no meio da sessão digo alguma coisa que toma proporções muito maior do que poderia imaginar na vida do paciente. No caso dela fiz uma pequena observação de algo que poderia acontecer, que, acabou acontecendo.

Relato esse episódio, pois ele me fez lembrar da força da palavra, do que é dito, do que é pronunciado. Geralmente falamos com fluidez, com a língua solta, sem muita consciência da realidade que estamos criando com o que dizemos. Se as palavras fossem tijolos, nossas falas estariam construindo o que? Uma casa?Muros? Um templo? Pontes? Um lar? Um bar?
No yoga podemos utilizar as palavras como ferramenta para ampliar a consciência de duas maneiras. Uma delas é pronunciando as palavras de poder, ou seja, os mantras. Seus efeitos são sutis e poderosos, mesmo quando desconhecemos seus significados. Outra maneira de intensificar as palavras é justamente não pronunciá-las através do mouna, a prática do silêncio. Particularmente gosto muito dessa ultima, pois desperta uma grande sensibilidade e cuidado com a realidade que anunciamos com as palavras.

Por uma feliz coincidência, no mesmo dia em que ocorreu a sessão que relatei, eu havia me comprometido logo cedo em fazer ahimsa verbal por todo o dia. Ahimsa é o primeiro dos dez princípios éticos do yoga e refere-se a prática da não violência. Fazê-lo verbalmente é ter cuidado com tudo que será pronunciado, é ter a intensão clara e firme de não destruir, atacar, difamar, praguejar, denegrir, seja lá o que for.
Mas mais do que não agredir, praticar ahimsa verbal é buscar pronunciar palavras verdadeiras de compreensão, de cuidado, de paz, de respeito e consideração por si mesmo e pelo outro. E talvez estas palavras se tornem palavras de poder, de transformação.
  

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