9 de mai. de 2012

Qual o segredo?

Recentemente recebi um email com o resumo de um livro famoso, lançado há uns cinco anos, que virou filme e se tornou best seller mundial. Ele fala do poder da mente e da lei de como as coisas funcionam. Vários mestres dão seu parecer sobre esse poder e essa lei, inclusive fiscos quânticos. Tinha acesso ao livro, porém nunca havia me interessado em lê-lo, mas depois do email fiquei curioso e resolvi lê-lo. Bem, li uma parte, pois não consegui ir até o fim. Sei que tenho um senso crítico e racional forte, e ele foi sendo despertado rapidamente pela leitura, junto com meu olhar de psicólogo e de praticante de yoga, assim como vários de meus preconceitos. Parei antes do meio, não deu para continuar, para mim eram muitos os absurdos e exageros, comecei a ficar irritado e indignado com o que lia. Era uma reunião do pior da autoajuda, das técnicas de venda, da motivação barata, do estilo americano de ser, do “faça sucesso e seja feliz”, “fique rico e tudo se resolverá”, “tenha poder sem limites agora”, e coisas do tipo. Mas quando olhei melhor para a minha irritação e para aquelas ideias que lia, compreendi algo que abriu outro olhar sobre o que o livro dizia.  

Todos nós, percebendo ou não, temos uma criança bem viva internamente. Ela é em parte o que fomos quando crianças e o que nos faltou quando crianças. Ela é aquele lado nosso que brinca, que se encanta, que fantasia, que se solta, que descobre o mundo e que ainda é flexível. Ela é também aquele lado birrento, imaturo, pouco prático e sensato, despreocupado, dependente e incapaz de ser adulto. Temos a criança viva em nós e se não temos clareza dela, nos perdemos nela. Assim, teremos reações da criança num contexto que não é da criança, seremos uma criança no corpo de um adulto, teremos os mesmos pontos vulneráveis e as mesmas expectativas que ela.

 Este livro é uma verdadeira festa para nossa criança, uma festa repleta de doces, brinquedos, brincadeiras, amiguinhos, música e ausência total de adultos. Nossa criança quer mágica, quer satisfazer todos seus desejos imediatamente e sem esforço, quer conforto, quer viver sem limites, sem espera, sem dor, quer sentir-se protegida, olhada, cuidada, quer ser exclusiva, quer ser o centro do mundo, quer ser amada incondicionalmente. Nossa criança quer tudo isso, que é muito necessário e fundamental PARA uma criança, não para um adulto. O livro fala diretamente para a nossa criança que espera por tudo isso e que não quer ter o trabalho de se transformar, de se responsabilizar, de se comprometer e arriscar tomar decisões. Basta querer que o universo conspirará a nosso favor, esse é o lema da criança, desse livro e de muitos adultos ultimamente.

Todos nós sabemos que não é assim que a coisa funciona. Querer é o ponto inicial da jornada, o que vem depois será fruto de nosso esforço e empenho. Einstein, um físico que não aparece no filme, fala do trabalhar e suar 99% do tempo para poder ter 1 % de inspiração. Não basta querer e esperar, precisamos ir além dessa perspectiva da criança. Não há segredo no caminho da espiritualidade, do amadurecimento e do yoga, em todos eles é preciso praticar o que se quer, é preciso dedicar-se ao querer. A disciplina é uma forte expressão da dedicação e do querer. Sempre é preciso desenvolver o processo, não há exceções, não atalhos, formulas mágicas ou segredos para isso.

Sr. Iyengar, nesta foto com 88 anos, ainda hoje, aos 94 anos pratica todos os dias.

2 comentários:

  1. Olá Marcos!
    Eu acho que realmente o maior Segredo é descobrirmos na simplicidade de nosso interior o que nos é realmente importante, daí sim, a técnica funciona. Quando não acontece é porque não sabemos o que queremos, independente de ser material ou espiritual.
    Um grande abraço,
    Tuda.

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  2. Olá Tuda, você tem toda razão, temos a oportunidade e o poder de navegar, mas precisamos saber para onde, e isso só o nosso coração pode responder.
    Abração e que a navegação seja longa!

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