Este início de ano traz uma dose de incerteza maior do que nos anos
anteriores. Como todo começo de ano, pairam no ar algumas expectativas sobre o
que virá pela frente, o que esperar e sobre quais serão as possíveis
dificuldades. Mas, parece-me que neste 2015 temos alguns dados que intensificam
essa incerteza. Refiro-me às mudanças políticas e à questão da água.
Percebo essa incerteza nas conversas informais e, de modo
mais próximo, no consultório. O consultório psicológico é como uma janela que
oferece generosa visão dos bastidores sociais. Aquilo que circula pela
comunidade meio sem forma e sem nome acaba ganhando uma cara nas sessões. E
neste início de ano essa cara parece ser de angústia.
Quando olhamos para as questões políticas e econômicas surge
um misto de sentimentos, que passam pela raiva, pelo insegurança e pelo
abandono. Mas esta raiva é uma raiva que não produz ação, apenas queixas e
críticas situacionais, e que assim alimentam a indignação, sem ação.
Insegurança e abandono em não se sentir representado e protegido, em sentir-se
sozinho, e pior, em sentir-se traído pelos políticos, tendo-os como inimigos e não como aliados. Às vezes quase dá para ouvir: “e quem vai cuidar da gente?”, “quando
alguém vai fazer alguma coisa?”
Essas questões políticas e esses sentimentos já são nossos
conhecidos, não há nada de muito novo nessa situação. O que temos de novo mesmo
é a questão da água. O que parecia uma ameaça distante agora é tema urgente de
qualquer conversa. A falta de água em São Paulo é algo surreal, quase
inacreditável. Esse absurdo é consequência direta de atitudes (ou melhor, de
não atitudes) politicas, é mais uma das consequência da situação descrita acima, e
da qual dizemos já estar acostumados. Mas além desse aspecto político há uma
questão mais íntima, e diria mais primitiva, com toda essa crise da escassez da água.
A ameaça real e tão próxima de ficar sem água, de ter reservatórios, rios e fontes secando, de passar por longas estiagens e racionamentos, tudo isso é uma profunda ameaça à vida em si. A preocupação imediata com o próprio conforto, do qual já somos dependentes, é logo ultrapassada diante das evidentes constatações do grande impacto que a falta de água provocará na produção alimentar, na vida das cidades, na produção energética, na economia em geral, no meio ambiente...
A ameaça real e tão próxima de ficar sem água, de ter reservatórios, rios e fontes secando, de passar por longas estiagens e racionamentos, tudo isso é uma profunda ameaça à vida em si. A preocupação imediata com o próprio conforto, do qual já somos dependentes, é logo ultrapassada diante das evidentes constatações do grande impacto que a falta de água provocará na produção alimentar, na vida das cidades, na produção energética, na economia em geral, no meio ambiente...
Essa ameaça a vida, tão clara e próxima e ao mesmo tempo tão
incerta, produz angústia. A palavra angústia é derivada do latim “angor“ e se refere à sensação de aperto,
de opressão e de sufocamento. Alguém angustiado é alguém que está mergulhado em
uma difusa tensão, com pouca clareza sobre essa forte sensação, e
principalmente, sem muita noção do que fazer para sair disso. A angústia está
fortemente ligada à impotência, a não possibilidade de ação, de enfrentamento.
Se diante da ameaça sinto que pouco posso fazer, fico então refém dessa situação, congelado, apertado, imobilizado.
A angústia possui um detalhe fundamental: nela quase não respiramos. Angústia é aperto, e esse aperto é físico, muscular, não é uma metáfora. Apertado não respiro, fico sufocado, com pouco ar, com o corpo em estado de alerta, a vida em risco real. Determinada respiração produz angústia e a angústia produz determinada respiração, essa é uma via de mão dupla.
A angústia foi um dos temas centrais do Existencialismo, corrente filosófica européia que tornou-se popular nos ares das duas Grandes Guerras Mundiais. Hoje as guerras continuam, mas o que parece ser, ou deveria ser, a nossa "Grande Guerra Mundial" é a questão ambiental. Dela não há escapatória e dela não sairá nenhum vencedor. Ou todos abraçamos a causa e fazemos o que é possível ou todos pereceremos. Essa ameaça é global, imediata, irreversível, imprevisível, impactante e, portanto, profundamente angustiante. A falta de água em nossa torneira é uma pequena gota de todas essas transformações em nossa complexa biosfera.
A angústia possui um detalhe fundamental: nela quase não respiramos. Angústia é aperto, e esse aperto é físico, muscular, não é uma metáfora. Apertado não respiro, fico sufocado, com pouco ar, com o corpo em estado de alerta, a vida em risco real. Determinada respiração produz angústia e a angústia produz determinada respiração, essa é uma via de mão dupla.
A angústia foi um dos temas centrais do Existencialismo, corrente filosófica européia que tornou-se popular nos ares das duas Grandes Guerras Mundiais. Hoje as guerras continuam, mas o que parece ser, ou deveria ser, a nossa "Grande Guerra Mundial" é a questão ambiental. Dela não há escapatória e dela não sairá nenhum vencedor. Ou todos abraçamos a causa e fazemos o que é possível ou todos pereceremos. Essa ameaça é global, imediata, irreversível, imprevisível, impactante e, portanto, profundamente angustiante. A falta de água em nossa torneira é uma pequena gota de todas essas transformações em nossa complexa biosfera.
Diante desse enorme desafio, podemos, e precisamos, tomar muitas decisões, mudar muitas atitudes, achar muitas soluções. Mas essas ações ficarão bastante comprometidas se não respirarmos, se ficarmos imobilizados pela angústia e perdidos em pensamentos catastróficos e recheados de impotência. Diante da ameça precisamos respirar! Reconhecer a angústia, liberar a respiração e, de posse de mais clareza, agir. Agir conforme a nossa criatividade, talentos, valores e possibilidades permitirem.
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