Faz quase
três meses que não posto nada. Nesses quase quatro anos do blog nunca fiquei tanto
tempo assim sem escrever. No início eram duas vezes por semana, frequência que
foi passando depois para uma por semana e que acabou ficando em uma ou duas por
mês. Escrever para o blog é um exercício interessante, pois me abre para
experiências que, sem a tarefa de escrever, certamente me passariam despercebidas.
Ser capaz de olhar um pouco mais de perto, com um pouco mais de atenção, de
abertura e de curiosidade, tudo isso ajuda bastante para escrever. Valioso é
que essa atitude é válida tanto para o olhar para fora, o que esta acontecendo
em torno, assim como o para dentro, para aquilo que se movimenta em mim.
Nesses três
meses tive vontade de escrever, mas não consegui, ou por falta de tempo, ou por
ficar ali mastigando e não sair nada que me empolgasse. Parece haver um tempo ideal,
e que deve ser respeitado, entre a experiência, a elaboração e o escrever. Ter
essa tarefa de escrever regularmente para o blog me coloca em maior atenção, me
põem a cuidar melhor do exercício da comunicação através da escrita e do poder organizar
um pensamento e uma ideia, mas também acaba alimentando uma outra poderosa e
curiosa atitude mental como efeito colateral.
Em um dos
passeios do começo de ano estava em uma bela cachoeira que caía por majestosas e
enormes rochas negras. Haviam várias pessoas por lá e depois de achar um canto
para ficar observei que praticamente todos tiravam fotos. Claro que essas fotos
não eram da cachoeira, mas sim selfies.
Observei a mesma coisa em outras situações (bem, e quem não observa isso em
qualquer lugar?). Diante da energia radiante da cachoeira e da dedicação aos selfies fiquei com a impressão de que o
registro era mais importante que a experiência, de que a foto na cachoeira era
mais verdadeira que o banho nela. Cito essa passagem da cachoeira por achá-la muito
parecida com o que acaba acontecendo comigo no exercício de escrever para o
blog.
Diante da
experiência uma parte minha fica de fora, uma parte mental, observadora, analítica,
racional. Essa parte está ali para registrar e entender o que está acontecendo,
para fazer relações entre conceitos e fatos e preservar a minha pessoa como o “quem”
está vivendo aquilo. Vou ao dentista e enquanto ele faz um procedimento percebo
a sutileza, a força e a sensibilidade dos dentes e da gengiva. Essa percepção produz
uma clareza sobre o meu corpo e outras questões. Pronto, já é o bastante para
disparar o flash de mais uma selfie, ou
de mais um texto, que pode ser postado e que pode ser mostrado e curtido e... bem, assim a experiência acaba fica num segundo
plano, sendo ofuscada pela necessidade de registrar e analisar.
Esses três
meses sem escrever balançaram, para minha leveza, essa minha necessidade de
registrar e criar um texto. A experiência direta é primordial, e dela pode ou não vir
uma clareza, um entendimento, um texto, ou mesmo uma foto, que podem ou não
fazer sentido quando compartilhados.
Um ano novo com
mais experiências e menos selfies
para todos nós!
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