Algumas conversas possuem o poder de nos fertilizar, de
gerar em nós não apenas frutos, mas também novas árvores, as vezes até florestas. Após uma dessas
conversas, com alguém que me é muito especial, algumas “fichas caíram” e pude
reconhecer que, sem me dar conta, estava sendo bastante incoerente. Essa descoberta, que foi desconfortável
inicialmente, acabou me trazendo alívio e clareza por reconhecer sentimentos
e algumas artimanhas mentais. Mas certamente o maior fruto dessa conversa, na verdade uma
nova e frondosa árvore, foi a constatação pura, nua e crua de que sou apenas um
homem ridículo.
Mas como assim um homem ridículo? Se perceber e reconhecer
em si os próprios limites não é algo maduro, desejável e valoroso? E afinal de
contas, não somos todos um pouco incoerentes em algumas situações? Que mal há
nisso? Por que então o ridículo? Bem, só depois é que pensei e refleti sobre o ridículo
e suas implicações, pois por alguns momentos não havia para mim nenhuma necessidade
de explicação, só o grande prazer de constatar-me como apenas um ridículo. Na
verdade, senti um grande alívio e uma profunda liberdade com essa descoberta...
ridícula.
Há algo em nossa condição humana que nos torna inevitavelmente
ridículos. Não importa nossa cultura, força, inteligência, amadurecimento, vontade,
preparo, treino, sucesso... e mais todas as muitas possibilidades de destaque e
aprimoramento que possamos vir a ter, pois por traz de todo esse jogo social, quando olhamos bem de pertinho, o ridículo sempre estará lá. E o que é esse ridículo senão
nosso senso de eu, de sermos seres especiais, únicos e separados de toda a criação?
Nossa individualidade produz, guarda e mantém nosso ridículo. Por sinal, ridículo
significa aquilo que faz rir, que é cômico, qualidade essa tão própria do palhaço, e que nos faz tão bem. Palhaços são “lavadores de almas” que nos convidam a rirmos de nós mesmos quando nos mostram, escrachadamente e sem muita cortesia e cerimônia, o quanto somos ridículos (quantas aproximações entre o Yoga e o ridículo, entre a libertação e o riso, entre o mestre e o palhaço!)
O ver-se como ridículo pode ser o mesmo que não levar-se tão
a sério, o reconhecimento de que pensamos, falamos, fazemos e defendemos muitas
coisas que são na verdade pequenas bobagens, causas passageiras e sem
significado maior. Acreditar e investir grandes doses de energia nisso, e logicamente
sofrer por isso, não será ridículo? Lutar arduamente para sustentar aquilo que
entendemos ser nosso diferencial, nosso valor maior, e que justamente mata nossa
espontaneidade primordial, não será ridículo? Viver como se fossemos um ser
independente do mundo não será algo ridículo? Quantos valores, hábitos, costumes,
crenças e comportamentos que temos como naturais e certos não são, analisando-os
melhor, no mínimo estranhos, ou potencialmente ridículos?
Mas o que posso fazer com o ridículo? Absolutamente nada, pois
lutar para não sê-lo só me torna mais ridículo ainda (todo palhaço sabe explorar muito bem essa contradição). Mas será essa impotência ruim, indesejável? Parece-me que não, pois desse nada
fazer contra o ridículo algo surgiu, algo de consideração, de respeito e de amor
por esse ridículo único que sou.
Fala Kuru! Li o seu texto com grande interesse. Reconhecer a si mesmo como um ridículo é tão óbvio . . . e tão inalcançável. Desconstruir o ego é tarefa das mais árduas, e das mais essenciais. Às vezes parece que uma vida está longe de ser o suficiente. Haja risada de si mesmo. Dionésio
ResponderExcluirDionésio! ....
ResponderExcluirDizem alguns mestres que isso é simples e que está ao nosso alcance o tempo todo, bastando apenas abertura e entrega sinceras. Em todo caso o riso é sempre um bom sinal de que não estamos longe de casa.
Valeu te encontrar aqui. Abração!