Zazen, ou seja, meditação
Sempre ouço alguém dizer que precisa praticar yoga para
ficar mais “zen”, ou então que não pretende praticar yoga por acha-lo muito “zen”.
Há também os comentários de que fulano é muito “zen” ou que tal lugar é “zen”,
ou ainda, que fazendo isso ou aquilo se pode ficar mais “zen”. O termo zen é usado
como um adjetivo que expressa relaxamento, descontração, paz, tranquilidade e
sossego. Ás vezes, nas entrelinhas, parece
até que esse estado é um luxo ou algo que alguém que é sério e responsável não teria
tempo e nem pensaria em usufruir. Aí então o estar “zen” sugere alguém meio “viajandão”,
meio desconectado, aéreo e desligado.
Esse me parece ser o significado corrente para o termo zen e
sua associação com o yoga. Mas o que é o zen? Zen é uma vertente do budismo que
se originou na China e que ganhou força no Japão medieval. A palavra zen significa
meditação e uma de suas principais escolas (soto) baseia-se basicamente no
sentar para meditar (zazen). A prática do zen-budismo em nada se aproxima do
significado popular que lhe atribuímos aqui, o que vale igualmente para todos os
ramos do yoga. Por sinal, nunca ouvi falar de um caminho de amadurecimento ou de
desenvolvimento da espiritualidade que seja parecido com o nosso ser “zen”.
Como nada achei que pudesse esclarecer essa equivocada
associação, acabei criando eu mesmo uma hipótese. O zen foi uma das primeiras
manifestações religiosas do enigmático oriente a se tornar popular no ocidente.
Nos anos 50 e 60 alguns conceitos do zen começaram a circular nos meios artísticos
e filosóficos da Europa e EUA, mais especificamente entre os poetas beatniks norte-americanos.
Havia neles a intenção de não conformidade, de rebeldia, marginalidade e originalidade,
e dentro dessa proposta, uma abertura para algo espiritual. A geração beat
sacudiu o jeitão americano de viver e para isso adotou fragmentos do zen, assim
como o uso de drogas, de viagens sem rumo, da marginalidade, de novas formas de
escrever e principalmente de viver. Dessa sacudida vieram os hippies e a
contracultura que se espalhou pelo mundo no final dos anos 60.
Mas os beatniks, assim como os hippies, não eram praticantes
do zen e acabaram criando uma imagem peculiar do zen que não representa bem o
zen. No zen, assim como no yoga, é fundamental a disciplina, que nada mais é do
que uma prática atenta, dedicada e constante. Há também as essenciais figuras
do mestre e da tradição, além do objetivo ultimo de libertação. O zen e o yoga
em muito se aproximam um do outro, assim como em muito se distanciam dos beatniks
e dos hippies, embora pareça ter sido uma grande oportunidade de abertura e mudança
social essa associação inicial entre o zen e o relaxado.
Diante disso, com uma pitada zen, podemos dizer:
Sim, o yoga é zen!
Não, o yoga não é zen!