Na postagem anterior narrei meu encontro com uma aranha.
Enquanto eu estava produzindo e trabalhando ela permanecia quieta e sustentada em
mínimas condições. Depois que escrevi fiquei pensando sobre esse conflito, em
como o conduzo na minha vida, e como que alguns mestres do yoga o administram.
Esse contraste entre o fazer muito e o fazer pouco acaba até
criando a sensação de conflito, aquele entre o “faço muito e saio do eixo” ou “faço
pouco e fico no centro”. Ou se vai para dentro ou se vai para fora, ou se
mergulha no mundo interior ou se explora o mundo externo. Velha dicotomia que
se concretiza na divisão entre as coisas do mundo e as coisas do espírito. Aquele
que transita bem no mundo material acaba perdendo o contato com o espírito e
aquele que se dedica ao espírito tropeça facilmente nas exigências materiais. Nessa
perspectiva só restam duas direções a seguir: um caminho horizontal pelo mundo
material e um caminho vertical pelo mundo espiritual. Caminhos aparentemente incompatíveis
que nos colocam na encruzilhada de seguir um ou outro.
Mas o que nos dizem sobre isso alguns mestres do yoga? Mais
do que seus escritos e suas falas podemos olhar para seus atos. E parece que
vários deles nos dão uma mesma resposta: esses caminhos não são conflitantes e
nem incongruentes. Muito pelo contrário, eles se complementam e cada um confere
mais significado ao outro. O espírito traz luz e sentido às coisas do mundo e o
mundo material permite que as conquistas do espírito se concretizem e sejam
compartilhadas.
Muitos são os mestres que percorreram um longo caminho indo
para dentro, e que, estabelecida a morada no centro, voltaram trazendo luz para
o mundo. Essa é a jornada do herói, completa, aquele que aventura-se em
resgatar o humano pleno, em si mesmo e no outro. Nenhuma cruzada para salvar o mundo, nenhuma
bandeira declarando guerra às outras, nenhuma tropa imbatível, nenhum novo
império, apenas uma chama acessa, uma proposta viva, uma nova rota possível. E
essa nova proposta é realizada com muito trabalho, muita energia e muitas ações
concretas no mundo. Mestre constroem obras e realizam caminhos, produzem, e
muito. Milhares de pessoas buscam neles apoio, esclarecimento, direção,
milhares passam por eles, em torno deles forma-se sempre um sangha, uma comunidade da qual são o pilar. Mestre são aqueles
que se realizaram no espírito e no mundo, aqueles que caminham bem na vertical
e na horizontal, que seguem livres pelos dois planos.
Discípulo ao mestre:
“Mestre,
como posso conciliar as coisas do mundo com as coisas do espírito? O que faço
com esses dois caminhos?
E o mestre:
“Dois
caminhos? Só há um caminho!”
B.K.S. Iyengar: em atividade e no centro
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