18 de dez. de 2013

A eficiência dos mestres

                
Na postagem anterior narrei meu encontro com uma aranha. Enquanto eu estava produzindo e trabalhando ela permanecia quieta e sustentada em mínimas condições. Depois que escrevi fiquei pensando sobre esse conflito, em como o conduzo na minha vida, e como que alguns mestres do yoga o administram.

Esse contraste entre o fazer muito e o fazer pouco acaba até criando a sensação de conflito, aquele entre o “faço muito e saio do eixo” ou “faço pouco e fico no centro”. Ou se vai para dentro ou se vai para fora, ou se mergulha no mundo interior ou se explora o mundo externo. Velha dicotomia que se concretiza na divisão entre as coisas do mundo e as coisas do espírito. Aquele que transita bem no mundo material acaba perdendo o contato com o espírito e aquele que se dedica ao espírito tropeça facilmente nas exigências materiais. Nessa perspectiva só restam duas direções a seguir: um caminho horizontal pelo mundo material e um caminho vertical pelo mundo espiritual. Caminhos aparentemente incompatíveis que nos colocam na encruzilhada de seguir um ou outro.

Mas o que nos dizem sobre isso alguns mestres do yoga? Mais do que seus escritos e suas falas podemos olhar para seus atos. E parece que vários deles nos dão uma mesma resposta: esses caminhos não são conflitantes e nem incongruentes. Muito pelo contrário, eles se complementam e cada um confere mais significado ao outro. O espírito traz luz e sentido às coisas do mundo e o mundo material permite que as conquistas do espírito se concretizem e sejam compartilhadas.

Muitos são os mestres que percorreram um longo caminho indo para dentro, e que, estabelecida a morada no centro, voltaram trazendo luz para o mundo. Essa é a jornada do herói, completa, aquele que aventura-se em resgatar o humano pleno, em si mesmo e no outro.  Nenhuma cruzada para salvar o mundo, nenhuma bandeira declarando guerra às outras, nenhuma tropa imbatível, nenhum novo império, apenas uma chama acessa, uma proposta viva, uma nova rota possível. E essa nova proposta é realizada com muito trabalho, muita energia e muitas ações concretas no mundo. Mestre constroem obras e realizam caminhos, produzem, e muito. Milhares de pessoas buscam neles apoio, esclarecimento, direção, milhares passam por eles, em torno deles forma-se sempre um sangha, uma comunidade da qual são o pilar. Mestre são aqueles que se realizaram no espírito e no mundo, aqueles que caminham bem na vertical e na horizontal, que seguem livres pelos dois planos.



        Discípulo ao mestre:
            “Mestre, como posso conciliar as coisas do mundo com as coisas do espírito? O que faço com esses dois caminhos?
        E o mestre:

           “Dois caminhos? Só há um caminho!” 



                                  B.K.S. Iyengar: em atividade e no centro   


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