No meio do vai e vem e da agitação constante de uma academia
de ginástica, aparece uma aluna nova. Chega falante, querendo malhar, querendo
queimar, querendo extrapolar. Faz a aula e vai aos poucos mudando a freqüência.
No final está com a fisionomia serena e com um leve sorriso no rosto. Ao
perguntar-lhe como estava sentindo-se responde um convincente: “estou muito bem”.
Essa aluna some. Depois de quase um mês a encontro no corredor
da mesma agitada academia. No meio do constante vai e vem de alunos, todos
correndo atrás de novas modalidades de fitness,
tivemos uma breve e significativa conversa:
- Como você está?
- Tudo ótimo!
- Eu amei a aula, me
senti muito bem, tão bem que me estranhei. Em casa eu nem xinguei a empregada.
No serviço várias pessoas falaram que estava mais tranquila, sem ficar implicando e
brigando com eles. Achei isso meio esquisito e acho que não posso ficar assim, acho
que a aula acabou fazendo mal para mim. Não posso ficar de boa, senão o que vai
acontecer comigo?
Um instante de silêncio e um ponto final: “mas eu gostei
muito viu, um dia eu apareço”. Nos despedimos rapidamente, pois uma nova aula
de uma nova modalidade estava começando. No movimento da academia há sempre
mais músicas, mais aparelhos, mais novas metas, mais novos alunos, há sempre um
novo mais.
Na hora não consegui responder a sua pergunta, e nem sei se
ela queria uma resposta, pois fiquei mesmo é encantado com esse paradoxo que
ela expressou tão bem: queria sentir-se bem e quando encontrou isso, estranhou-se
e se afastou. Que maravilha o que ela disse! Não é esse o nosso paradoxo? Transpor resistências, sair das distrações e suportar o que realmente
importa. Não é esse um grande conflito do humano?
E usando esse caso apenas como gancho, não há como não
pensar em algumas questões que podem ser reveladoras para todos nós (no lugar do ela coloque eu):
O que será que a impediu de suportar a experiência de
sentir-se bem?
O que a fez estranhar-se?
O que é esse estranhar-se?
O que ela não pôde abandonar?
Se ela ficasse desarmada o que aconteceria com ela?
Ela estava com medo do que?
Quem estava com medo?
O que estava resistindo?
Muito boa reflexão. Questionamentos que nos servem para avaliar muitos aspectos da corrida insana que vivemos para "fugir" da vida que "dizemos" buscar. Valioso!
ResponderExcluirNa verdade não é possível fugir, pois não há para onde fugir. A fuga é, no máximo, o manter da nossa confusão sobre quem somos. Obrigado pelo comentário.
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