8 de mai. de 2013

Tão bom que não quero





No meio do vai e vem e da agitação constante de uma academia de ginástica, aparece uma aluna nova. Chega falante, querendo malhar, querendo queimar, querendo extrapolar. Faz a aula e vai aos poucos mudando a freqüência. No final está com a fisionomia serena e com um leve sorriso no rosto. Ao perguntar-lhe como estava sentindo-se responde um convincente: “estou muito bem”.

Essa aluna some. Depois de quase um mês a encontro no corredor da mesma agitada academia. No meio do constante vai e vem de alunos, todos correndo atrás de novas modalidades de fitness, tivemos uma breve e significativa conversa:

- Como você está?

- Tudo ótimo!        

- Eu amei a aula, me senti muito bem, tão bem que me estranhei. Em casa eu nem xinguei a empregada. No serviço várias pessoas falaram que estava mais tranquila, sem ficar implicando e brigando com eles. Achei isso meio esquisito e acho que não posso ficar assim, acho que a aula acabou fazendo mal para mim. Não posso ficar de boa, senão o que vai acontecer comigo?

Um instante de silêncio e um ponto final: “mas eu gostei muito viu, um dia eu apareço”. Nos despedimos rapidamente, pois uma nova aula de uma nova modalidade estava começando. No movimento da academia há sempre mais músicas, mais aparelhos, mais novas metas, mais novos alunos, há sempre um novo mais.

Na hora não consegui responder a sua pergunta, e nem sei se ela queria uma resposta, pois fiquei mesmo é encantado com esse paradoxo que ela expressou tão bem: queria sentir-se bem e quando encontrou isso, estranhou-se e se afastou. Que maravilha o que ela disse! Não é esse o nosso paradoxo? Transpor resistências, sair das distrações e suportar o que realmente importa. Não é esse um grande conflito do humano?

E usando esse caso apenas como gancho, não há como não pensar em algumas questões que podem ser reveladoras para todos nós (no lugar do ela coloque eu):  

O que será que a impediu de suportar a experiência de sentir-se bem?

O que a fez estranhar-se?

O que é esse estranhar-se?

O que ela não pôde abandonar?

Se ela ficasse desarmada o que aconteceria com ela?

Ela estava com medo do que?

Quem estava com medo?

O que estava resistindo?

2 comentários:

  1. Muito boa reflexão. Questionamentos que nos servem para avaliar muitos aspectos da corrida insana que vivemos para "fugir" da vida que "dizemos" buscar. Valioso!

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    1. Na verdade não é possível fugir, pois não há para onde fugir. A fuga é, no máximo, o manter da nossa confusão sobre quem somos. Obrigado pelo comentário.

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