Fiquei quase duas semanas sem escrever para o blog por estar realizando um grande desejo: a mudança para meu apartamento. Após dois anos de espera chegou a tão aguardada hora de fazer as malas, encaixotar um mundo de coisas, juntar tudo e partir para o novo. Mas entrar em um novo espaço tem lá suas exigências.
Estamos nós três, eu, minha esposa e minha filha, buscando uma nova organização dentro de tantas coisas novas: novo bairro, nova casa, novas distâncias, novos móveis, novos lugares, novos horários, novos vizinhos, novas paisagens, novos ruídos, enfim, novas novidades! Ir estabelecendo essa nova organização, ou rotina, é indispensável, pois ela permite que nossas vidas continuem a acontecer com alguma previsão e competência. Sem ela o novo pode tornar-se caótico. Precisamos de um tempo para digerir o novo, para de alguma maneira ir incorporando-o e tornando-o nosso, deixando-o mais familiar. Geralmente isso é muito prazeroso e estimulante.
Mas nesse processo de mudança acabei me deparando com achados que muito me enriqueceram. Uma deles foi rever meus medos diante de outras mudanças que já fiz na vida. Quando fui morar sozinho tinha uma grande questão: como iria fazer para comer todos os dias? Eu mesmo cozinharia? Iria sempre ao restaurante? Hoje acho graça nisso, mas na época era angustiante pensar nisso. Acabei descobrindo que já sabia cozinhar e me virei, e me viro, muito bem. Nessa mudança recente não foi diferente, vários medos surgiram questionando minha capacidade de adaptação ao novo. E é sempre muito bom poder encarar nossos medos.
Os outros dois achados me fizeram olhar de outro ângulo para a experiência de mudar, e acabaram se complementando, e me complementando, sutilmente. Um deles foi fazer uma tarefa com minha filha, onde ela tinha que elaborar uma historinha com começo, meio e fim. Ela desenhou e contou a compra de um vaso de flor, que inicialmente tinha vários botões fechados, mas que foram se abrindo um a um, até todo o vaso ficar florido. Seu desenho ficou lindo mostrando o processo de todas as flores e de toda a natureza, mas principalmente, me fez ver com muita naturalidade o fluir desse processo maior, o de nascer, crescer e morrer. Ela não desenhou, mas dava quase para ver a queda das pétalas. Essas flores morreriam e novas nasceriam, processo simples, certo e eterno.
O outro achado foi onde estou todos os dias nesses últimos treze anos, ou seja, no consultório. Num dia especial, parece que caprichosamente distribuído, tive vários atendimentos intercalados com pacientes sentindo-se muito bem e outros sentindo-se muito mal. Uns em momentos de glória e de conquistas e outros na impotência e confusão. Um lá em cima e outro lá em baixo. A divisão foi tão bem feita, tão didática, que saltou aos meus olhos o óbvio: não importa onde se esteja e nem o que está acontecendo, isso vai mudar! Hoje há o sentimento de satisfação, amanhã o de falta. Hoje há a perda, amanhã o ganho. Todos estamos numa montanha russa, sempre, é só questão de tempo. Isso não é pessimismo, é só uma constatação, assim como a mudança pela qual a flor inevitavelmente vai passar, aliás, assim como tudo e todos que estamos de carona nesse maravilhoso planeta de mudanças.
Num outro texto falo sobre o que o yoga tem a dizer sobre essa condição de mudança incessante.
mudar é preciso sempre! Namastê, Yara
ResponderExcluirMais do que preciso, mudar é inevitável.
ExcluirNamastê Yara
Poxa já estava mesmo com saudades dos seus textos, todo dia entrava aqui esperando por alguma novidade...
ResponderExcluirQue bom que você voltou a escrever.
Felicidades para você e sua família no novo lar
Om Shanti.
Carla
Olá Carla, eu também estava sentindo falta, mas faltava tempo para sentar e me entregar.
ExcluirObrigado.
Om shanti!