Toda prática de Iyengar Yoga é fechada com uma postura
especial, o shavasana. Na aula fazemos
mantra e pranayamas, e principalmente, fazemos muitos asanas (posturas). Cada
um deles é feito, refeito, estudado, percebido, incorporado e nos leva mais para
dentro do corpo físico. Essa forma de praticar é exigente, profunda e rica em
efeitos físicos, emocionais e mentais, mesmo que não se tenha muita consciência
disso. Todo esse trabalho nos revira por dentro, fazendo uma verdadeira faxina
e reorganizando vários aspectos do nosso ser. Praticar asanas é um exercício da
vontade, da determinação, do esforço, de superação. Mas a prática não fica
completa sem a atitude oposta da que se tem com os asanas: a entrega.
Após muitos asanas, o asana final é sempre o shavasana. Nesta
postura ficamos deitados e totalmente imóveis por alguns minutos. Nada a fazer,
apenas se entregar ao chão e aquietar o corpo. Shava em sânscrito significa cadáver,
e esta é a postura do morto. Nome nada agradável para quem quer saúde,
vitalidade, força, consciência, para quem quer se sentir bem praticando yoga.
Mas essa é a sequencia do fluxo da vida, fazemos muitas coisas com empenho e
vontade, crescemos e lutamos, conquistamos o mundo, e depois, inevitavelmente,
morremos. No final só há a entrega total, o rio sempre volta ao mar. Isso pode
parecer negativo, deprimente, triste, mas há aqui algo extremamente libertador.
Em toda prática de yoga “treinamos” o morrer. Em toda
prática de yoga reproduzimos o fluxo da vida com nascimento, desenvolvimento e
morte. Vivemos isso todos os dias, em todos os momentos, só que nos protegemos
na perspectiva do tempo, quando pensamos que um dia, lá na frente, e só lá,
isso chegará até nós. Na prática de yoga o shavasana é mais do que uma
recompensa, é mais do que o merecido descanso, é o momento de assimilação de tudo
o que foi feito, é o momento de mergulhar em si mesmo, é o momento de se
recolher. O shavasana permite a entrega do corpo e da vontade, o abandono de
qualquer pretensão, de qualquer ação. E isso é profundamente gratificante e
repleto de sentido. O shavasana coroa todos os outros asanas, possibilitando a
dissolução do que achamos que é o nosso eu. Na postura do cadáver temos por
alguns instantes a experiência de não ser ninguém, de simplesmente estarmos ali
existindo, além do saber sobre quem somos.
Tascheto,
ResponderExcluirembora o tenha procurado na Internet, só agora, através do FB, conheci o seu Site, li algumas postagens e não deixarei de o acompanhar. Gostei. Há uns vinte anos conheci o budismo e a sua filosogia, a pátrica tântrica, os mudras e os yandras. Ainda uso destes conhecimentos. Logo em seguida conheci a Pró-Vida, uma escola do sentir, da expansão da consciência e do desenvolvimento mental. Enfim, seus textos fazem razão para mim. Um grande abraço.
Toffanetto
Toffanetto, fico feliz de saber que, além da poesia, temos também o gosto em comum pelo budismo e pela busca da consciência.
ExcluirGrande abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir