O que você vê no desenho acima? Eu vejo uma simpática
velhinha brincando, e acho que ela é simpática porque brinca, ou quem sabe, o
contrário. Mas alguém poderia dizer que ela brinca para esquecer a dura
realidade de ser idosa e estar numa cadeira de rodas, e que agindo dessa forma nega
o fato de que jamais poderá ser como uma jovem bailarina. A realidade é dura, a morte é certa, e o
brincar é uma coisa infantil, que deve passar com a maturidade. Talvez esse
seja o olhar da mente racional sobre o desenho, mas (ainda bem que quase sempre
há um mas) o fato é que esse desenho me ajudou a dar um novo significado para
minhas buscas no yoga.
Descobri meu interesse pelas coisas orientais e pelo yoga nos
encantados anos da adolescência, e junto a esse interesse uma ideia fixa: atingir
a iluminação! Pode parecer pretensão, mas era isso mesmo, queria nada menos que
a iluminação. Imaginava a iluminação como um momento espetacular e único que me
transformaria completamente, e a partir dela me tornaria imediatamente outro
ser, especial, possuidor de saberes absolutos sobre a Verdade. Bem, como deve
dar para perceber, e para minha felicidade, não atingi a tão almejada iluminação.
E assim tive que continuar caminhando, e tendo a oportunidade de descobrir
coisas bem interessantes no caminho. Uma delas é outro olhar sobre o que pode
ser a iluminação, pelo menos a relacionada ao meu dia a dia.
A iluminação, mais do que um show hollywoodiano, uma bomba
atômica interna ou um passe de mágica, pode ser a simples, porém
revolucionária, ação iluminada (ilumina-ação).
E o que é uma ação iluminada? É aquela ação, originada numa percepção,
sentimento ou pensamento, que venha ao mundo repleta de luz. Ou seja, ação
iluminada é essencialmente a experiência intuitiva, nova, criativa, espontânea,
e seu oposto é a ação opaca, velha, repetida, pré-conceituosa, padronizada,
amarrada. Uma exala frescor, a outra cheira bolor. O estado de iluminação nos
coloca em abertura ao novo, ao que não sabemos, à aquilo que pode ser
descoberto a qualquer momento. Podemos estar ou não em estado de iluminação, conforme
estamos ou não abertos ao novo, conforme estamos ou não livres para fluir junto
com nossa experiência.
E onde entra a simpática velhinha nisso tudo? Ela brinca,
ela deixa fluir, ela se encanta com o que pode desejar e imaginar, ela mantém
seu espírito livre para ir além da forma, da convenção, do combinado. Ela me
parece estar num estado iluminado, tanto quanto alguém que medita, e com
certeza mais do que alguém que faça asanas obstinadamente, sem encanto e
abertura. A Iluminação me parece ser bem diferente de uma conquista heroica, é
muito mais uma perda, um deixar, uma entrega total de qualquer pretensão. Algo
como uma criança, ou uma simpática velhinha, brincando.