23 de mar. de 2012

Vacilei



Recentemente tive a oportunidade de caminhar e escalar as pedras na encosta da praia. Sempre gostei de fazer isso, e fiz muito quando adolescente, mas há um bom tempo não me aventurava. No início estava empolgado com a possibilidade de ir sozinho até onde desse, e de lá ficar contemplando o mar. Porém, no caminho deparei-me com dois grandes obstáculos, um externo e outro, muito maior, interno. A saber: uma pedra mais alta e inclinada e os meus próprios pensamentos assustados. Quando me dei conta já estava envolvido em questionamentos e temendo o que pudesse acontecer de pior. Há alguns anos tive uma crise de labirintite, e de repente, esse fato passou a ser meu foco e a gerar inquietações: eu aqui sozinho entre as pedras, o mar ali embaixo ... e se eu cair? E se eu ficar preso? E se eu não conseguir voltar? E se eu tiver uma crise de tontura? 

Questionei, vacilei e paralisei. Esses pensamentos transformaram completamente a minha empreitada, e o que era uma brincadeira passou a ser risco, o que era fácil e leve passou e ser tenso e desconfortável. Acabei não indo tão longe como ia antes, mas fui, e encontrei no caminho o meu próprio limite, desenhado pelos meus pensamentos.

Poderia dizer que esse medo que senti é um sinal de ponderação, de maturidade, coisa que quase não tinha como adolescente. Talvez. Mas o que me tocou foi perceber que quando vacilei, quando duvidei da minha capacidade, algo desmoronou dentro de mim. O passo e a mão perderam a firmeza e o prazer deu lugar à insegurança. Não estava mais em casa, não estava mais inteiro no que fazia, agora estava considerando, analisando, questionando. E isso me paralisou. 

Em certas situações a dúvida é uma ferramentas que abre portas, que nos tira do instituído, do familiar, da acomodação e do lugar comum. Mas ela pode ser também uma artimanha que nos derruba, que nos faz permanecer num padrão, que nos impede o acesso ao novo. No Yoga se diz que uma mente que duvida é uma mente que nada conquistará. Uma mente que duvida é uma mente sem foco no momento e no fluir da experiência. A dúvida, neste caso, é expressão de uma mente que se fragmentou e se tornou refém do medo. O fluxo é cortado, uma brecha aparece e dela vaza a justa e precisa ação.

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