4 de mar. de 2015

Flexibilidade, para que te quero?


Contemple por alguns instantes essa foto. Que sensação ela lhe trás? Você acha que conseguiria fazer igual? Qual será a importância de se fazer tal postura?

                                   Kapilasana: flexibilidade em homenagem ao mestre Kapila

O Yoga possui muitas e valiosas ferramentas, entre elas estão os asanas, as conhecidas posturas físicas. Quase todos os que pensam em praticar Yoga, pensam em praticar posturas, sendo várias delas bem pouco usuais, tais como a acima. Essas posturas podem trazer muitos e  comprovados benefícios, assim também como lesões, se realizadas sem alguns cuidados. Nada que um professor preparado e um aluno dedicado não possam dar conta. Mas o mais importante é que, praticar Yoga não é o mesmo que fazer posturas. Isso pode parecer um pouco confuso, mas é bem simples. Yoga está mais relacionado ao como se faz do que propriamente ao que se faz.

As posturas abrem espaço no corpo contraído e fortalecem o que está amolecido no corpo. Esse trabalho desperta vitalidade e força em todo o organismo, o que envolve todos os sistemas do corpo e não apenas ao muscular. As posturas preparam assim o terreno para outros trabalhos mais sutis, como por exemplo, a atenção ao fluxo e às consequências das eternas oscilações dos conteúdos mentais e emocionais em nossa vida. Sem essa perspectiva a prática de Yoga pode transformar-se em contorcionismo, com o foco não na consciência do que se faz, mas no quanto se faz, no quanto se aumentou ou não o desempenho físico. Nesse ponto, o grau de flexibilidade muscular pode passar a ser sinônimo e o principal avaliador da prática de Yoga, ou seja, quanto mais flexível, mais Yoga, melhor a prática. Nada mais equivocado.  

Flexibilidade é uma qualidade que, se limitada a músculos, serve para pouca coisa. O que uma grande flexibilidade muscular têm a oferecer para termos uma vida mais feliz, realizada e profunda? Como o exercício de realizar posturas difíceis, inusitadas e exigentes pode nos tornar mais lúcidos sobre quem somos, mais amorosos, mais atentos, mais focados e integrados? Ao que parece, esse grande exercício da vontade em fazer proezas com o corpo acaba despertando mesmo é uma sutil vaidade de se ser especial, ou seja, nos deixa mais rígidos, mais fechados em nós mesmos. Ser flexível, além de colocar a cabeça na canela, é poder adaptar-se ao fluxo inesperado da vida, é ser maleável com as situações nas quais não temos controle, e com as que achamos que temos também. De que vale a flexibilidade física se não conseguimos reavaliar nosso caminho e mudar a rota? Se não temos liberdade para mudar o plano e refazer o projeto? Se não conseguimos quebra o ritual, se não podemos voltar atrás?

Praticar a flexibilidade é uma poderosa forma de dissolver nós, blocos, certezas, dogmas, convicções e garantias. Flexibilizar a noção que temos sobre o nosso próprio eu é uma grande, fértil e admirável prática de Yoga, possível mesmo para quem mal consegue sentar-se no chão.

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