Recentemente uma amiga veio-me contar suas sensações e
percepções em seu primeiro mês de yoga. Ela não é minha aluna, mas compartilhou
um pouco de suas dificuldades, suas descobertas e suas questões sobre a prática
e sobre o yoga em geral. Dividiu comigo o que não dividiu com seu professor. Disse
que não sentia abertura de seu professor para suas perguntas e que também
nenhum aluno falava nada parecido com o que ela sentia, achou melhor então se
calar.
Numa aula de yoga geralmente quem fala é o professor. Ele dá
coordenadas, orientações, faz correções e induz alguns estados de percepção
mais sutis. Após o namastê no final
da aula os alunos guardam seus acessórios e cada um vai para sua casa. Mas como
que cada um sai da aula? Não apenas fisicamente, se com dor em alguma parte do
corpo ou coisa parecida, mas como está se sentido internamente? Uma prática
pode evocar nossos fantasmas, nossos medos, nossas dores, nossos lugares
desconfortáveis, assim como nos revelar verdadeiros paraísos internos
desconhecidos e perdidos. Uma boa prática nos aproxima de nossa sombra, e isso
nem sempre é coisa fácil de digerir-se. E nessa hora a presença do professor é
fundamental, nessa hora ele deve escutar, e quando necessário e possível, dizer
algo pertinente.
Quem vai fazer ginástica ou musculação não espera que vá
sentir algo muito diferente do que já conhece. Afinal essa é uma atividade
física, ou seja, está-se apenas exercitando o corpo e seus músculos e isso não tem
nada haver com o “dono” do corpo, com a pessoa, com suas emoções e sua
consciência. Não imagina que possa, no meio da aula, deparar-se com um choro,
ou sentimentos como medo, prazer ou tranquilidade, ou pior ainda, se questionar
sobre a vida que leva. Afinal, só está fazendo uma atividade física e nada
mais. Situação essa que reproduz perfeitamente a velha e tão falada dicotomia
corpo x espírito.
Mas no yoga não é assim. Os asanas (posturas) são uma prática que começa no corpo e vai além, passando pelo energético, pelo
emocional e pelo mental até chegar à consciência, alvo maior do yoga. Na
verdade a consciência permeia todas essas diferentes camadas do ser humano, ela
é que sustenta todos esses aspectos. Nesse percurso o praticante se depara com
seus limites e faz enfrentamentos consigo mesmo. Isso às vezes gera confusão, dúvida,
angústia, dor. Uma conversa pode ser a luz que indica um caminho, que oferece
um sentido para o que está acontecendo. Nessa hora o apoio do professor não se
baseia apenas na técnica, mas principalmente em sua experiência como
praticante. Considero esse momento e essa troca como partes fundamentais da
prática, mais importantes que qualquer técnica.
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