Passei boa parte do carnaval em uma praia onde toda tarde
saía um animado bloquinho. De microfone o puxador chamava quem estava na praia
e aos poucos o grupo atrás do bloco ia aumentando. Entre uma marchinha e outra
ele repetia: “aqui só tem alegria!”. E realmente o bloco estava divertido, sem nenhuma
pretensão há não ser a de brincar, pois diferentemente de um desfile, onde se é
plateia, ali todos participavam livremente. Imagino que quem estava ali não queria
outra coisa que não a alegria, e pensando bem, quem não quer estar sempre atrás
do bloco da alegria?
Mas por quanto tempo é possível seguir o bloco da alegria? Talvez
bem menos tempo que o próprio período de carnaval. Na verdade é impossível
alguém seguir apenas o bloco da alegria. Fomos feitos para seguirmos muitos blocos.
Quando menos esperamos, estamos seguindo o bloco da tristeza. No próximo
momento já estamos atrás do bloco da conquista, para no momento seguinte, estarmos
atrás do bloco da perda. Os blocos vão se sucedendo, se alternando, cada qual com
sua marchinha característica. Diante desse grande, inevitável e interminável carnaval
é possível fazer alguma coisa? Ou só nos resta seguir o
bloco que nos chamar?
Os entendimentos sobre a nossa condição de seguir blocos
variam muito e aqui vou citar três deles, tentando resumir os olhares do dias atuais, da psicologia e do yoga.
Alguns entendem que devemos seguir, sempre e unicamente, o
bloco da alegria. Para manter-se nesse bloco basta querer, mas ter pensamento
positivo, boas intenções e um pouco de mágica ajudam bem. A marchinha desse
bloco é insistente no refrão de apenas ficarmos na alegria, sem baixo astral,
sem dúvida, sem medo, sem nada mais. Aqui a festa é proibida de terminar.
Porém há alguns que entendem que o humano maduro é aquele
que aceita a troca de blocos e se responsabiliza por elas. A vida é complexa,
cheia de escolhas e de incertezas, sendo assim impossível um bloco definitivo. Se
blocos vêm e vão, cabe a nós nos posicionarmos diante deles. Ser sujeito é ser
e estar em muitos blocos.
E, por fim, há aqueles que entendem que o humano lúcido sabe
da condição de impermanência de qualquer bloco. Nenhum deles possui
consistência duradoura e todos, sem exceção, findarão, e em nenhum deles haverá
satisfação plena, nem no bloco da alegria. Enxergar e aceitar a alternância e a
impermanência dos blocos é o suporte para desapegar-se deles. Desapego não é
negação ou rejeição, é o estar no bloco, mas não ser do bloco. A alternância de
blocos expressa a própria essência da natureza, que é a diversidade em eterna impermanência.
Se blocos vêm e vão, algo permanece sem ir ou vir, algo permanece como
Testemunha. Ser Testemunha é passar por muitos blocos e saber que não se é
nenhum deles.
Dos três entendimentos sobre o seguir blocos, o único realmente impossível é o primeiro.
Oi Marcão, sabe que este seu texto que li hoje caiu como uma luva para mim, pois ajudou a entender que não adianta querer estar sempre feliz, pois assim como os outros sentimentos eles são temporários, e temos que entende-los e acima de tudo respeitar o tempo de cada bloco... Enfim... Ter paciência e respeitar a si mesmo. Obrigado pelo post.
ResponderExcluirGrato pelo comentário tão lúcido e carinhoso. Abração primo!
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