Neste ultimo final de semana, meu professor, Sandro Bosco,
esteve em Taubaté realizando uma palestra sobre a prontidão. Nela ele pode compartilhar
com um grupo de 36 pessoas o como entende essa atitude na vida, através de sua
experiência de praticante e professor de yoga. Trouxe alguns exemplos e imagens,
simples e interessantes, que aprofundaram e ampliaram esse tema, tais como o
estado de prontidão das gestantes, das árvores e dos animais caçando e
sobrevivendo, assim como o esclarecedor “resgate dos helicópteros vigias de
plantão”.
Em janeiro, quando ainda estávamos acertando datas, ele me propôs
alguns temas para a palestra e entre eles estava prontidão. Foi o que escolhi
de imediato, apesar de haver vários outros igualmente interessantes. Mas apenas
alguns momentos antes da palestra, enquanto arrumava as cadeiras e o puja, é que percebi o significado desse tema
para mim.
A ideia de prontidão é recente para mim, pois acho que vivi muito
mais tempo num estado de “viajandão” do que de prontidão, e isso mesmo depois
de já estar praticando yoga e meditação. Há uns dois anos uma aluna, Patrícia,
me emprestou o livro “Para uma pessoa bonita” da abadessa zen budista Shundo Aoyama
Rôshi. O livro é uma coleção de pequenos ensaios sobre a vida no mosteiro e de
associações entre a prática do zen e a vida diária. Uma delícia de livro que quase
li de uma vez só. E assim, aberto e desavisado, acabei deparando-me com uma
verdadeira bomba em um desses pequenos e despretensiosos textos. Ele provocou
uma grande repercussão em mim, ou melhor dizendo, fez um grande estrago, que
imagino não ter nenhuma chance de conserto.
No texto a monja relata sua estranheza inicial, ainda como
noviça, com a rotina do mosteiro, principalmente com o badalar do sino que
demarcava as atividades diárias. Ela se questionava por que precisava largar
tudo o que estivesse fazendo, seja o que fosse, quando o sino tocava. Era difícil
para ela abandonar a atividade que estava envolvida sem encerra-la
completamente. Queria que o tempo do mosteiro estivesse de acordo com o seu, e
não o contrário. Bem, ela incomodou-se com isso até que um dia em que compreendeu
que essa era exatamente a sua (a nossa) situação diante da morte. Um dia, não
se sabe quando e nem onde, o sino da morte soará. Nesse momento não será
possível nenhum tempinho extra para acabar o que quer seja. Não será possível
nenhuma negociação, nenhuma concessão, nenhuma exceção. Justiça absoluta para absolutamente
todos.
Ainda hoje me falta ar e sinto meu coração acelerado ao considerar
essa situação. Mas esse é um belo e bem dado tapa que traz consigo o estado de
prontidão: “Acorde! Agora!”. Esse tapa dá outra direção para a energia psíquica
e orgânica, que sai do pensar e projetar e passa a ser investida totalmente na
experiência imediata. Prontidão é estar pronto, disponível, vazio e inteiro para
o que quer que se dê. Mesmo a morte. E talvez essa seja a única e real
liberdade: a prontidão e entrega para abraçar plenamente a morte assim que ela
se apresentar.
Pronto para continuar, não importando em que situação de vida, mesmo no pós morte fisica.
ResponderExcluirTalvez esta seja realmente a nossa única opção: continuar, querendo ou não, pronto ou não. Abração
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