26 de mar. de 2014

Estarei pronto?



Neste ultimo final de semana, meu professor, Sandro Bosco, esteve em Taubaté realizando uma palestra sobre a prontidão. Nela ele pode compartilhar com um grupo de 36 pessoas o como entende essa atitude na vida, através de sua experiência de praticante e professor de yoga. Trouxe alguns exemplos e imagens, simples e interessantes, que aprofundaram e ampliaram esse tema, tais como o estado de prontidão das gestantes, das árvores e dos animais caçando e sobrevivendo, assim como o esclarecedor “resgate dos helicópteros vigias de plantão”.

Em janeiro, quando ainda estávamos acertando datas, ele me propôs alguns temas para a palestra e entre eles estava prontidão. Foi o que escolhi de imediato, apesar de haver vários outros igualmente interessantes. Mas apenas alguns momentos antes da palestra, enquanto arrumava as cadeiras e o puja, é que percebi o significado desse tema para mim.

A ideia de prontidão é recente para mim, pois acho que vivi muito mais tempo num estado de “viajandão” do que de prontidão, e isso mesmo depois de já estar praticando yoga e meditação. Há uns dois anos uma aluna, Patrícia, me emprestou o livro “Para uma pessoa bonita” da abadessa zen budista Shundo Aoyama Rôshi. O livro é uma coleção de pequenos ensaios sobre a vida no mosteiro e de associações entre a prática do zen e a vida diária. Uma delícia de livro que quase li de uma vez só. E assim, aberto e desavisado, acabei deparando-me com uma verdadeira bomba em um desses pequenos e despretensiosos textos. Ele provocou uma grande repercussão em mim, ou melhor dizendo, fez um grande estrago, que imagino não ter nenhuma chance de conserto.

No texto a monja relata sua estranheza inicial, ainda como noviça, com a rotina do mosteiro, principalmente com o badalar do sino que demarcava as atividades diárias. Ela se questionava por que precisava largar tudo o que estivesse fazendo, seja o que fosse, quando o sino tocava. Era difícil para ela abandonar a atividade que estava envolvida sem encerra-la completamente. Queria que o tempo do mosteiro estivesse de acordo com o seu, e não o contrário. Bem, ela incomodou-se com isso até que um dia em que compreendeu que essa era exatamente a sua (a nossa) situação diante da morte. Um dia, não se sabe quando e nem onde, o sino da morte soará. Nesse momento não será possível nenhum tempinho extra para acabar o que quer seja. Não será possível nenhuma negociação, nenhuma concessão, nenhuma exceção. Justiça absoluta para absolutamente todos.

Ainda hoje me falta ar e sinto meu coração acelerado ao considerar essa situação. Mas esse é um belo e bem dado tapa que traz consigo o estado de prontidão: “Acorde! Agora!”. Esse tapa dá outra direção para a energia psíquica e orgânica, que sai do pensar e projetar e passa a ser investida totalmente na experiência imediata. Prontidão é estar pronto, disponível, vazio e inteiro para o que quer que se dê. Mesmo a morte. E talvez essa seja a única e real liberdade: a prontidão e entrega para abraçar plenamente a morte assim que ela se apresentar.  
   

13 de mar. de 2014

Convite especial

Palestra de Sandro Bosco em Taubaté


Está será uma oportunidade valiosa para aprofundar e ampliar o entendimento de como o yoga pode orientar nossa vida através do tema PRONTIDÃO.

Evento gratuito e aberto a todos!
(Favor confirmar presença)



5 de mar. de 2014

Seguindo o bloco



Passei boa parte do carnaval em uma praia onde toda tarde saía um animado bloquinho. De microfone o puxador chamava quem estava na praia e aos poucos o grupo atrás do bloco ia aumentando. Entre uma marchinha e outra ele repetia: “aqui só tem alegria!”. E realmente o bloco estava divertido, sem nenhuma pretensão há não ser a de brincar, pois diferentemente de um desfile, onde se é plateia, ali todos participavam livremente. Imagino que quem estava ali não queria outra coisa que não a alegria, e pensando bem, quem não quer estar sempre atrás do bloco da alegria?

Mas por quanto tempo é possível seguir o bloco da alegria? Talvez bem menos tempo que o próprio período de carnaval. Na verdade é impossível alguém seguir apenas o bloco da alegria. Fomos feitos para seguirmos muitos blocos. Quando menos esperamos, estamos seguindo o bloco da tristeza. No próximo momento já estamos atrás do bloco da conquista, para no momento seguinte, estarmos atrás do bloco da perda. Os blocos vão se sucedendo, se alternando, cada qual com sua marchinha característica. Diante desse grande, inevitável e interminável carnaval é possível fazer alguma coisa? Ou só nos resta seguir o 
bloco que nos chamar?

Os entendimentos sobre a nossa condição de seguir blocos variam muito e aqui vou citar três deles, tentando resumir os olhares do dias atuais, da psicologia e do yoga.

Alguns entendem que devemos seguir, sempre e unicamente, o bloco da alegria. Para manter-se nesse bloco basta querer, mas ter pensamento positivo, boas intenções e um pouco de mágica ajudam bem. A marchinha desse bloco é insistente no refrão de apenas ficarmos na alegria, sem baixo astral, sem dúvida, sem medo, sem nada mais. Aqui a festa é proibida de terminar.

Porém há alguns que entendem que o humano maduro é aquele que aceita a troca de blocos e se responsabiliza por elas. A vida é complexa, cheia de escolhas e de incertezas, sendo assim impossível um bloco definitivo. Se blocos vêm e vão, cabe a nós nos posicionarmos diante deles. Ser sujeito é ser e estar em muitos blocos.

E, por fim, há aqueles que entendem que o humano lúcido sabe da condição de impermanência de qualquer bloco. Nenhum deles possui consistência duradoura e todos, sem exceção, findarão, e em nenhum deles haverá satisfação plena, nem no bloco da alegria. Enxergar e aceitar a alternância e a impermanência dos blocos é o suporte para desapegar-se deles. Desapego não é negação ou rejeição, é o estar no bloco, mas não ser do bloco. A alternância de blocos expressa a própria essência da natureza, que é a diversidade em eterna impermanência. Se blocos vêm e vão, algo permanece sem ir ou vir, algo permanece como Testemunha. Ser Testemunha é passar por muitos blocos e saber que não se é nenhum deles.

Dos três entendimentos sobre o seguir blocos, o único realmente impossível é o primeiro.