Após a aula uma aluna me procura ansiosa. Ela me conta uma
experiência que teve em sua prática e está se questionando sobre qual o sentido
dessa vivência. O que fazer com o que aconteceu? Até onde considerar? Como
conduzir a prática a partir disso? O que ela significa?
Esta é uma ansiedade muito bem vinda, pois a prática, uma
hora ou outra, nos levará a novos lugares internos, e estes, muitas vezes, são
desconfortáveis por serem inesperados e estranhos. Com eles alguma coisa em nós
se desarranja, se desequilibra, e precisamos então buscar um novo equilíbrio
com a incorporação desse algo novo. Esse novo estado de equilíbrio não será
eterno (portanto, não há motivo para nos apegarmos a ele), e em breve um novo desequilíbrio
se instaurará, o que nos pedirá uma nova organização. No olhar da psicologia esse
processo deverá se repetir infinitamente, sendo essa uma condição humana saudável
e desejável. O yoga aponta, porém, para outro objetivo, um lugar para além
dessa eterna oscilação da incompletude, o que não nega, ou elimina, entretanto,
a longa e necessária etapa do equilíbrio/desequilíbrio.
Mas as perguntas verdadeiras e incômodas, as que
desequilibram, quase sempre, só surgem no calor da experiência direta e dedicada
de uma prática (de yoga ou de qualquer outro caminho), aquela com a qual nos
comprometemos ao longo do tempo. Se a
proposta não for testada em primeira pessoa, na própria pele, com o calor do próprio
esforço e empenho, ela pode não ser fértil o bastante para gerar o transformador
desequilíbrio.
A boa prática de yoga e meditação permite o aflorar de novas
perguntas e de novos desequilíbrios, e abrem espaço também para novas e
surpreendentes respostas, assim como a novos estados de equilíbrio. Uma prática
que não produza perguntas (e ou novas respostas) é estéril, ou seja, não tira
da zona de conforto, ou por não ser adequada ao praticante ou por não receber dele
a devida dedicação.