4 de jul. de 2013

Quando se abandona o caminho


No finalzinho do encontro “Caminhos para a Meditação”, evento que reuniu 20 pessoas para estudar e praticar a meditação, surge a seguinte pergunta: “mas se a meditação faz tão bem, traz tantos benefícios e é tão simples, por que então tantas pessoas começam e param, e por que tão poucos meditam?”. Boa pergunta! Quem a fez foi uma dedicada aluna de yoga, que ao perguntar expressava uma indagação sincera, e me fez lembrar que eu mesmo já me fiz essa pergunta algumas vezes.

Acho que várias são as respostas possíveis para o porquê alguém deixa de meditar, ou praticar yoga, se isso é potencialmente tão positivo. Para começar, as pessoas não são iguais, não funcionam da mesma forma, não tem os mesmos valores, as mesmas habilidades, as mesmas experiências e os mesmos objetivos, portanto, o que é bom para um pode não ser bom para outro. Exatamente por isso existem tantas formas de praticar meditação e yoga, pois os diferentes métodos nasceram de, e para, diferentes pessoas e suas diferentes experiências. Talvez muitos dos que largaram a prática não tiveram a felicidade de encontrar, logo de primeira, uma forma ou um professor que fosse adequado para elas. O meu primeiro contato com o yoga e com a meditação foi com métodos bem diferentes dos que eu pratico hoje. E por que mudei? Porque não me sentia mais satisfeito e confiante com o caminho e com as ferramentas que tinha então. Experimentei outro método e outro professor e senti a revigorada que precisava, a caminhada ganhou fôlego e uma nova direção.

Além disso há uma condição fundamental para que o yoga e meditação deem os valiosos frutos do autoconhecimento e da transformação: a disciplina, constante e dedicada. Não há mágica e nem milagres, nem saltos espetaculares e gratuitos. Yoga e meditação só existem quando praticados, quando vivenciados. Como professor, observo que é comum o yoga e a meditação serem colocados pelo aluno na mesma prateleira em que coloca os hobbys, ou seja, daquilo que é bom, mas que não é essencial, e dessa forma, a prática não decola, não embala e nem ganha força. E é justamente a prática desse tipo que será facilmente abandonada, restando dela só uma esteira enrolada num canto ou um livro que não foi lido.

Há também de se considerar que, se o yoga e a meditação são caminhos para o autoconhecimento, essa empreitada nem sempre é fácil e nem sempre é agradável. Tal como no processo da psicoterapia, há trechos do percurso onde nos deparamos com aspectos incômodos da nossa personalidade, trechos onde nossos limites ficam evidentes e onde pretensões desmoronam. Esse é o exato momento que, se não houver o lúcido suporte de um professor e de um método, podemos abandonar a jornada, exatamente ali, onde iríamos transpor nossa condição limitante.

Mas ultimamente penso que o fator mais decisivo para que alguém largue a prática seja mesmo a solidão. Solidão de não poder compartilhar conquistas e dificuldades, de não ter a oportunidade de ouvir vivências semelhantes à própria. Solidão de achar-se um estranho em procurar e percorrer este caminho. Solidão de ver-se um isolado. Se de um lado a prática é solitária, que ocorre da pele para dentro e é sempre uma experiência interna, por outro, ela é uma situação relacional, pois envolve um saber que é trocado, que é compartilhado há muitas e muitas gerações. A clássica e nuclear condição professor/aluno é expandida quando se pode estar com outros buscadores, quando é possível estar junto num propósito semelhante. Estar junto é a lenha que produz mais clareza e calor para a caminhada. Esse estar junto em um propósito chama-se sangha em sânscrito. A falta de sangha (da associação com outros buscadores) esmorece e desorienta qualquer prática bem intencionada. Todos nós temos o que aprender e todos nós podemos ensinar, basta estarmos reunidos. 


Eu no caminho, com meu professor e outros caminhantes


4 comentários:

  1. Até deu vontade de voltar a fazer. . .
    Ariane Michelini

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    1. Então essa é a hora! Não deixe para depois, senão passa..rsrs
      Abração

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  2. Excelente e esclarecedor texto primo, sucesso na sua caminhada.

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    1. Fico feliz que tenha gostado primo, e espero que no próximo encontro possamos nos encontrar!
      Abração para você e para a Priscilla

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