No finalzinho do encontro “Caminhos para a Meditação”,
evento que reuniu 20 pessoas para estudar e praticar a meditação, surge a
seguinte pergunta: “mas se a meditação faz tão bem, traz tantos benefícios e é
tão simples, por que então tantas pessoas começam e param, e por que tão poucos
meditam?”. Boa pergunta! Quem a fez foi uma dedicada aluna de yoga, que ao
perguntar expressava uma indagação sincera, e me fez lembrar que eu mesmo já me
fiz essa pergunta algumas vezes.
Acho que várias são as respostas possíveis para o porquê
alguém deixa de meditar, ou praticar yoga, se isso é potencialmente tão
positivo. Para começar, as pessoas não são iguais, não funcionam da mesma
forma, não tem os mesmos valores, as mesmas habilidades, as mesmas experiências
e os mesmos objetivos, portanto, o que é bom para um pode não ser bom para
outro. Exatamente por isso existem tantas formas de praticar meditação e yoga,
pois os diferentes métodos nasceram de, e para, diferentes pessoas e suas
diferentes experiências. Talvez muitos dos que largaram a prática não tiveram a
felicidade de encontrar, logo de primeira, uma forma ou um professor que fosse adequado
para elas. O meu primeiro contato com o yoga e com a meditação foi com métodos
bem diferentes dos que eu pratico hoje. E por que mudei? Porque não me sentia
mais satisfeito e confiante com o caminho e com as ferramentas que tinha então.
Experimentei outro método e outro professor e senti a revigorada que precisava,
a caminhada ganhou fôlego e uma nova direção.
Além disso há uma condição fundamental para que o yoga e
meditação deem os valiosos frutos do autoconhecimento e da transformação: a
disciplina, constante e dedicada. Não há mágica e nem milagres, nem saltos
espetaculares e gratuitos. Yoga e meditação só existem quando praticados,
quando vivenciados. Como professor, observo que é comum o yoga e a meditação
serem colocados pelo aluno na mesma prateleira em que coloca os hobbys, ou seja, daquilo que é bom, mas
que não é essencial, e dessa forma, a prática não decola, não embala e nem ganha
força. E é justamente a prática desse tipo que será facilmente abandonada,
restando dela só uma esteira enrolada num canto ou um livro que não foi lido.
Há também de se considerar que, se o yoga e a meditação são
caminhos para o autoconhecimento, essa empreitada nem sempre é fácil e nem
sempre é agradável. Tal como no processo da psicoterapia, há trechos do
percurso onde nos deparamos com aspectos incômodos da nossa personalidade, trechos
onde nossos limites ficam evidentes e onde pretensões desmoronam. Esse é o
exato momento que, se não houver o lúcido suporte de um professor e de um
método, podemos abandonar a jornada, exatamente ali, onde iríamos transpor
nossa condição limitante.
Mas ultimamente penso que o fator mais decisivo para que
alguém largue a prática seja mesmo a solidão. Solidão de não poder compartilhar
conquistas e dificuldades, de não ter a oportunidade de ouvir vivências
semelhantes à própria. Solidão de achar-se um estranho em procurar e percorrer este
caminho. Solidão de ver-se um isolado. Se de um lado a prática é solitária, que
ocorre da pele para dentro e é sempre uma experiência interna, por outro, ela é
uma situação relacional, pois envolve um saber que é trocado, que é
compartilhado há muitas e muitas gerações. A clássica e nuclear condição
professor/aluno é expandida quando se pode estar com outros buscadores, quando
é possível estar junto num propósito semelhante. Estar junto é a lenha que
produz mais clareza e calor para a caminhada. Esse estar junto em um propósito
chama-se sangha em sânscrito. A falta
de sangha (da associação com outros
buscadores) esmorece e desorienta qualquer prática bem intencionada. Todos nós temos
o que aprender e todos nós podemos ensinar, basta estarmos reunidos.
Eu no caminho, com meu professor e outros caminhantes
Até deu vontade de voltar a fazer. . .
ResponderExcluirAriane Michelini
Então essa é a hora! Não deixe para depois, senão passa..rsrs
ExcluirAbração
Excelente e esclarecedor texto primo, sucesso na sua caminhada.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado primo, e espero que no próximo encontro possamos nos encontrar!
ExcluirAbração para você e para a Priscilla