16 de jul. de 2013

Por onde a sua atenção?


Arqueiro zen = atenção

Basta um mínimo de auto-observação para constatar que a nossa atenção é na verdade desatenta, ou melhor dizendo, que a nossa atenção salta de um foco para outro o tempo todo. Isso se torna evidente no constante borbulhar de pensamentos que passam pela cabeça, tal como um riacho em barulhenta cachoeira. Outra constatação bem objetiva dessa desatenção são os movimentos inquietos das mãos, dos pés e de todo o corpo, ou ainda o revelador olhar distante, perdidos em devaneios, olhando o que só existe no mundo interno. A atenção fragmentada em muitos focos torna-se desatenção, dispersão, distração. Um pensamento sobre isso, outro sobre aquilo, uma lembrança, um gesto, outro pensamento sobre um terceiro assunto, uma cena futura, um sentimento, outro pensamento, uma julgamento, um sentimento, uma conclusão, um quinto pensamento... . O ciclo não tem fim, podemos viver mergulhados nele, sendo levados para onde essa maré nos levar, embora às vezes ele seja entrecortado por um breve contato com o mundo externo, talvez no encontro com uma outra pessoa, real, ali no mesmo momento e no mesmo espaço.

É bom lembrar que a atenção tem um poder muito especial. Faça uma pequena, simples e rápida experiência sobre esse poder agora mesmo. Não deixe para depois. Apoie suas mãos nas coxas ou em uma mesa. Deixe as palmas para baixo e não mexa as mãos. Feche os olhos e por um minuto, ou um pouco mais, apenas pense e sinta a sua mão esquerda, nada mais do que isso. É bem capaz que algo surpreendente aconteça, experimente.
Bem, isso que você percebeu em sua mão esquerda é resultado do poder da atenção com foco. Ao ser direcionada a atenção ganha força, consistência, profundidade, e acaba transformando seu portador e seu foco. Se a sua atenção é capaz de fazer isso com sua mão em tão pouco tempo, o que não poderá acontecer se ela for direcionada ao longo de horas, meses e anos?
Há uma equação muito simples: onde está a atenção, está o coração. Assim, é dali mesmo, onde projetamos nossa atenção, que tiramos alimento para a alma. Aquilo que recebe atenção torna-se alimento, e no alimento nos transformamos. Isso é fácil de ser constatado, não importando se o alimento for uma fruta, um doce, uma dose de álcool, ou um pensamento, uma emoção, uma situação, ou qualquer outra coisa, externa ou interna. Do foco da atenção tiramos nosso alimento, que, conforme nossas escolhas, irá nutrir-nos ou intoxicar-nos.

O yoga pode ser definido como uma proposta de direção da atenção. Em toda a sua variedade de métodos o yoga sempre oferece um sentido para a atenção, há sempre esse cuidado essencial de canalizar o potente e fértil rio da atenção. Seja nas ações do corpo, seja na respiração, seja no corpo sutil, seja no colorido das emoções, seja no fluxo dos pensamentos, seja na pura presença, seja num aspecto da divindade, seja num som, seja num gesto, seja num rito, seja numa relação, ou ainda em várias dessas ferramentas juntas, haverá sempre no yoga um foco para a atenção. As muitas gerações de mestres yogues sempre deram a devida atenção ao fato de que a atenção precisa de uma casa, de um endereço, pois ela sempre está a movimentar-se nessa busca. Por que então não oferecer-lhe um lar? E por falar nisso, por onde anda a sua atenção?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Marcos por este texto verdadeiro e comovente! É comovente pensar que gestos simples como pousar as mãos sobre a coxa, sentir o ar que entra e sai de nossos pulmões, perceber a água que jorra em nossas torneiras todas as manhãs... de onde ela vem? de qual nascente? e se não cuidarmos da nascente, se não a limparmos, será que teremos esse produto natural? por quanto tempo? Não prestamos atenção em eventos como estes, simples porém magníficos, verdadeiros milagres indispensáveis à vida, porque estamos tomados pela rotina, pela normose. No entanto às vezes nos distraímos, baixamos a guarda e abrimos uma brecha na rotina, nesse momento um sábio como você se faz presente e sutilmente nos lembra que precisamos trazer nossa atenção para gestos essenciais, sem os quais não temos vida. Obrigada Amigo, por ofertar palavras singelas e parabéns pelo dom de articulá-las e transformá-las em arte! Namastê!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Deusa,
      também fico comovido quando me abro para o simples que me rodeia, e mais do que isso, sinto gratidão, profunda gratidão pelo maravilhoso simples que nos cerca e nos mantem. Obrigado pelo comentário.
      Abração(e atenção).

      Excluir