16 de abr. de 2013

Não é o corpo que sofre


Para que servem as famosas posturas do yoga, os asanas? Ou, melhorando a pergunta, qual a função e o que provocam essas técnicas? Bem, servem para quase tudo, desde alongar músculos e corrigir a postura até estimular órgãos internos e glândulas. Algumas posturas são ótimas para partes específicas do corpo, outras são verdadeiros remédios para algumas enfermidades, outras são restauradoras e outras bastante revigorantes. E quando acrescentamos à elas os cuidados dos alinhamentos e o uso de acessórios, todos esses benefícios são multiplicados muitas vezes. Realmente os asanas são uma fonte inesgotável de contato, descoberta, cuidado e tratamento do corpo.

Mas os asanas são também uma forma poderosa de entrarmos em contato não apenas com o corpo físico, mas também com o corpo emocional e mental (assim é chamado no yoga o aparelho psíquico). Mas como? A permanência em uma postura permite que emerjam não apenas dores musculares ou desconfortos em articulações, ou a falta de força ou de equilíbrio, mas também desconfortos de outros lugares internos. Nas posturas deparamo-nos cara a cara com ninguém menos que nós mesmos, com nossos padrões, limites, bloqueios, feridas e imagens internas que temos sobre quem achamos que somos. As posturas revelam um corpo desnudo, ou melhor, elas desnudam as muitas intenções que revestem o corpo físico. As posturas mostram, por vezes, um corpo maquiado, que não condiz com seus reais traços, e deixam à mostra a distância entre o que se é e o que se acredita ser. Mas não só, pois elas também permitem abrir um espaço valioso para que o corpo possa aproximar-se do que de fato é, sem os disfarces, distorções e pretensões do ego.

Lembro-me de um aluno que tinha lesões e dores no joelho, e que por isso tinha algumas restrições em posturas. É lógico que saber um pouco sobre joelhos e ter algumas alternativas para oferecer ajuda muito o professor a ajudar o aluno. Mas essa é só uma parte da história. Esse aluno sabia das limitações de seu joelho e sabia das alternativas para lidar com ele, mas não as fazia, ou se fazia, fazia sentindo-se mal. Por quê? Porque para ele o joelho era sentido como uma ferida aberta, não no território corporal do joelho físico, mas no seu ideal de desempenho, na sua imagem interna a ser sustentada. O joelho o colocava frente a frente com a desagradável sensação de limite, que era sentida como humilhação, inferioridade e vergonha. O joelho era o ringue onde ele entrava em combate consigo mesmo. Cuidar da dor do joelho ajudava, mas isso podia não tocar na questão da dor egoica. Foi bom poder conversar com ele e dizer o quanto ele brigava consigo mesmo, e que como esse era um ponto fundamental para que sua prática de yoga pudesse evoluir, não apenas por cuidar do joelho, mas principalmente por perceber e poder reinventar sua inflação egóica de ter de ser o melhor.

Quase sempre o sofrimento não está no corpo, não é ele que sofre, mas sim aquele que o está desconectado do próprio corpo.

    

2 comentários:

  1. Adorei. Realmente nosso corpo é o reflexo da nossa mente, até tentamos disfarçar mas não conseguimos esconder do nosso espelho.
    Namastê.

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  2. Tudo o que tentamos disfarçar gera sempre uma carga a ser paga por nós mesmos. Liberdade é não ter nada que precise ser disfarçado.
    Namastê

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