Certa vez, em uma aula de um curso de formação, recebi algumas
perguntas a respeito de um texto que falava sobre chakras. Como eu já tinha
alguma noção sobre o assunto, fui respondendo mentalmente a cada pergunta,
antes mesmo de ler o texto. Mas em determinada pergunta, que não me lembro mais
qual era, fui surpreendido com a certeza absoluta de que eu não sabia nada
sobre aquilo que acabava de responder. Minha resposta era apenas mental e não valia nada, era só um
punhado de informações costuradas com deduções e associações que fui fazendo
através de várias leituras. O que sabia eu realmente sobre chakras? Nada, apenas
especulações que no fundo não faziam sentido algum para mim. Esta constatação
foi inquestionável, o golpe foi certeiro e me deixou totalmente rendido em
minha ignorância. Uma santa ignorância que me trouxe grande tranqüilidade e relaxamento, que
me alinhou com o caminho do não-saber.
Por que tinha eu que saber sobre chakras? Porque eles estão
nas escrituras do Hatha-Yoga, porque vários livros falam deles, porque tudo
mundo sabe um pouco sobre eles, porque um professor de Yoga precisa saber sobre
eles..., bem, vários são os motivos que justificavam o fato de que eu deveria saber algo sobre chakras. Porém, esses motivos acabaram formando uma boa quantidade de entulho em minha clareza. Ter
informações não é o mesmo que saber. Saber é ter o sabor. Só posso realizar o
sabor, ter o gosto, através da experiência direta, momento em que conceitos e idéias podem facilmente poluir e distorcer a degustação da experiência direta do momento.
Eu tinha que saber e me descobri não sabendo. Que liberdade!
Parecia que eu estava largando no chão, de uma vez, vários objetos que, de forma atrapalhada, eu carregava soltos nas mãos. Agora havia espaço e possibilidade para des-cobertas, agora
poderia me abrir e experimentar sem a pressão e expectativas de já ter de saber algo sobre.
Aceitar e sustentar o não-saber pode nos colocar vivamente naquilo
que estamos envolvidos no momento. Ficamos atentos e cuidadosos ao andar por
território desconhecido, e, facilmente displicentes e soberbos quando estamos
montados na certeza e na convicção de conhecer plenamente o trajeto.
Posso me preparar e organizar para uma conversa, uma aula, um atendimento, etc, mas posso saber realmente como esse encontro se dará? Não,
só vou poder saber algo quando estiver junto e atento ao outro real ali comigo. Quem é ele/a? Como está? Como estou? O que precisamos, queremos? Quais as limitações, minhas e do outro? Qual nossa disponibilidade no
momento? O que temos para trocar ali naquele momento? Talvez precise de recursos que não estavam em meus planos, talvez
descubra com o outro novos caminhos para antigos dilemas, talvez não tenha
respostas, talvez as tenha, mas elas não tenham nenhuma utilidade... talvez eu seja
surpreendido pelo novo, o sempre inesperado novo. Só podemos estar
vivos e inteiros com os outros se mantivermos um espaço interno para o não saber,
assim o encontro será um estar junto, com o outro e comigo, uma experiência fresca, única
e exclusiva.
Oi Marcos, nunca tinha parado para pensar nessa possibilidade..... o Não saber é libertador.... Te abre para novas experiencias e conhecimentos.....Interessante;;; Gostei.
ResponderExcluirAbraços
Carla
Oi Carla,
Excluiro não saber é a essência da meditação, da intuição, da revelação e da criação, embora seja desprezado em nossa era de informação total.
Abração