Nesta semana, em dois momentos distintos e com duas alunas
diferentes, tive a oportunidade de conversar a respeito de uma grande diferença
entre os caminhos terapêuticos da psicologia e do yoga. Nessas duas conversas
falamos sobre o falar e o silenciar e sobre os benefícios de um e de outro. Uma
das alunas disse que as práticas regulares de yoga estão-lhe fazendo muito bem,
e isso vem acontecendo sem que ela precise verbalizar quase nada, algo
diferente do que acontece em sua psicoterapia, onde a fala é constante. Acho
esse um tema interessante.
Grande parte da proposta terapêutica da psicologia é
embasada quase que exclusivamente na fala. É na fala que vários métodos
terapêuticos se estruturam, proposta essa que começou cientificamente há mais
de um século com Freud e a sua cura pela fala através da psicanálise. O termo fala
aqui envolve também o não falar e várias outras formas de expressão corporais. Pode-se
dizer, de forma genérica é lógico, que a psicologia acredita e aposta
plenamente que a capacidade de expressão, do poder revelar o que se pensa e o
que se sente ao outro e ao mundo é a melhor via de transformação,
reorganização, cuidado e amadurecimento pessoal. Muito do que acontece de
transformador no consultório psicológico se deve ao simples fato do paciente
poder falar, e assim poder se ouvir. O terapeuta escuta, acolhe, mastiga,
devolve, clareia o que é dito. O auto conhecimento vai se dando então pela
fala, pela expressão de quem se é, ou de quem se julga ser. O caminho passa
pela busca de expressão do mundo interno, o que está dentro precisa vir para
fora. Hoje isso pode parecer senso comum e algo óbvio para qualquer um, mas não
é assim, nem hoje e muito menos o foi no passado. Tanto é que a psicologia
ganhou grande popularidade nos libertários anos 60 e 70, devido justamente às
suas propostas de expressão, de espontaneidade e de catarse.
Eu falo, tu falas, ele fala, nos falamos
Se um psicólogo diz para o seu paciente: ”me fale sobre você”,
“fale mais” ou “porque você não diz isso para ele?” o que diria um mestre ou um
professor de yoga a seu aluno? Talvez até as mesmas coisas, e isso poderia ser
bom para o aluno e a sua relação com o professor, mas não é isso o que mais
importa aqui. No yoga e na meditação o foco não é a expressão, o colocar para
fora, o desabafar. O trabalho é outro, o caminho passa pelo desmontar
identificações, quebrar padrões e associações internas. O silêncio passa então
a ser uma via valiosa, que potencializa em muito esse trabalho interno de
observação e transformação. Isso não é o mesmo que isolamento ou distanciamento
dos outros e do mundo, muito pelo contrário, pois a prática deve levar sempre a
uma ampliação de consciência, e nunca a uma restrição dela. A busca da clareza segue
aqui um rumo distinto do da psicologia, mas continua sendo entendida como o
alicerce básico para um relacionamento saudável e verdadeiro com o outro e com
o mundo.
Olhando agora para esses dois caminhos distintos, me vêm na
memória vários dos grupos que já participei, tanto em retiros e cursos de yoga
como em grupos de vivência, terapia e trabalhos psicológicos. Em comum a todos
eles, muitas experiências, muitos convites e oportunidades para olhar com mais
atenção e cuidado para si e para o que está acontecendo, a força do grupo ampliando
a força pessoal e facilitando a quebra de barreiras. Mas, enquanto que nos grupos psicológicos a
troca e a fala entre os participantes é algo fundamental, nos encontros do yoga
a clareza da experiência individual é que ganha valor, e não necessariamente a
troca.
Se estes caminhos se dispõem a cuidar e a melhorar a
condição do ser humano, talvez os dois tenham contribuição a dar, talvez os
dois tenham razões, talvez os dois indiquem alternativas válidas para se ir um pouco
mais além de onde estamos, seja falando, seja silenciando ou seja silenciando a
fala.
Swami Muktananda dando uma dica
Gostei, bom texto, me identifico!
ResponderExcluirCompartilho o meu blog,
www.trans-feno.blogspot.com
Olá Antônio,
Excluirfico feliz de vê-lo aqui, gosto do seu blog e, talvez como você, também sou fascinado e chamado por essa "Algo".
Abração