22 de mar. de 2013

Falando e calando, psicologia e yoga


Nesta semana, em dois momentos distintos e com duas alunas diferentes, tive a oportunidade de conversar a respeito de uma grande diferença entre os caminhos terapêuticos da psicologia e do yoga. Nessas duas conversas falamos sobre o falar e o silenciar e sobre os benefícios de um e de outro. Uma das alunas disse que as práticas regulares de yoga estão-lhe fazendo muito bem, e isso vem acontecendo sem que ela precise verbalizar quase nada, algo diferente do que acontece em sua psicoterapia, onde a fala é constante. Acho esse um tema interessante.

Grande parte da proposta terapêutica da psicologia é embasada quase que exclusivamente na fala. É na fala que vários métodos terapêuticos se estruturam, proposta essa que começou cientificamente há mais de um século com Freud e a sua cura pela fala através da psicanálise. O termo fala aqui envolve também o não falar e várias outras formas de expressão corporais. Pode-se dizer, de forma genérica é lógico, que a psicologia acredita e aposta plenamente que a capacidade de expressão, do poder revelar o que se pensa e o que se sente ao outro e ao mundo é a melhor via de transformação, reorganização, cuidado e amadurecimento pessoal. Muito do que acontece de transformador no consultório psicológico se deve ao simples fato do paciente poder falar, e assim poder se ouvir. O terapeuta escuta, acolhe, mastiga, devolve, clareia o que é dito. O auto conhecimento vai se dando então pela fala, pela expressão de quem se é, ou de quem se julga ser. O caminho passa pela busca de expressão do mundo interno, o que está dentro precisa vir para fora. Hoje isso pode parecer senso comum e algo óbvio para qualquer um, mas não é assim, nem hoje e muito menos o foi no passado. Tanto é que a psicologia ganhou grande popularidade nos libertários anos 60 e 70, devido justamente às suas propostas de expressão, de espontaneidade e de catarse.


                             Eu falo, tu falas, ele fala, nos falamos

Se um psicólogo diz para o seu paciente: ”me fale sobre você”, “fale mais” ou “porque você não diz isso para ele?” o que diria um mestre ou um professor de yoga a seu aluno? Talvez até as mesmas coisas, e isso poderia ser bom para o aluno e a sua relação com o professor, mas não é isso o que mais importa aqui. No yoga e na meditação o foco não é a expressão, o colocar para fora, o desabafar. O trabalho é outro, o caminho passa pelo desmontar identificações, quebrar padrões e associações internas. O silêncio passa então a ser uma via valiosa, que potencializa em muito esse trabalho interno de observação e transformação. Isso não é o mesmo que isolamento ou distanciamento dos outros e do mundo, muito pelo contrário, pois a prática deve levar sempre a uma ampliação de consciência, e nunca a uma restrição dela. A busca da clareza segue aqui um rumo distinto do da psicologia, mas continua sendo entendida como o alicerce básico para um relacionamento saudável e verdadeiro com o outro e com o mundo.

Olhando agora para esses dois caminhos distintos, me vêm na memória vários dos grupos que já participei, tanto em retiros e cursos de yoga como em grupos de vivência, terapia e trabalhos psicológicos. Em comum a todos eles, muitas experiências, muitos convites e oportunidades para olhar com mais atenção e cuidado para si e para o que está acontecendo, a força do grupo ampliando a força pessoal e facilitando a quebra de barreiras.  Mas, enquanto que nos grupos psicológicos a troca e a fala entre os participantes é algo fundamental, nos encontros do yoga a clareza da experiência individual é que ganha valor, e não necessariamente a troca.

Se estes caminhos se dispõem a cuidar e a melhorar a condição do ser humano, talvez os dois tenham contribuição a dar, talvez os dois tenham razões, talvez os dois indiquem alternativas válidas para se ir um pouco mais além de onde estamos, seja falando, seja silenciando ou seja silenciando a fala.  

                                  Swami Muktananda dando uma dica


2 comentários:

  1. Gostei, bom texto, me identifico!

    Compartilho o meu blog,

    www.trans-feno.blogspot.com

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    1. Olá Antônio,
      fico feliz de vê-lo aqui, gosto do seu blog e, talvez como você, também sou fascinado e chamado por essa "Algo".

      Abração

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