28 de mar. de 2013

Meditando e falando: uma experiência




Na postagem anterior (“Falando e calando, psicologia e yoga”) escrevi sobre o lugar da fala no yoga e na psicoterapia. Gostaria agora de compartilhar uma experiência que venho tendo há quase um ano, e que, de alguma forma, articula um pouco esses dois caminhos de auto conhecimento transformação pessoal.   

Desde maio de 2012 tenho organizado encontros mensais de meditação. Minha idéia inicial foi a de abrir a prática para qualquer interessado, e ao mesmo tempo, ter um grupo para meditar junto e poder trocar afinidades. Nesses encontros tenho tido contato com muitas pessoas que nunca meditaram e nem praticaram yoga, e isso tem sido bastante gratificante para mim, assim como o é o contato com aqueles que estão aperfeiçoando a prática que já tinham. O encontro é gratuito e não é preciso nenhum pré-requisito para participar. O grupo é formado, na sua maior parte, por participantes assíduos com uma parcela menor de participantes eventuais. Até agora tenho escolhido uma técnica diferente para cada encontro (já ocorreram 10), mas em breve pretendo fixar algumas e ir intercalando-as. O encontro se organiza da seguinte forma: faço uma breve explanação do que é a meditação e sobre a técnica sugerida, a seguir meditamos e depois abro espaço para comentários sobre o como foi a experiência pessoal daquela meditação.

E é este momento final que tem reservado agradáveis surpresas para mim. No início perguntava como havia sido a meditação mais para checar se tudo havia ocorrido bem, se havia alguma dúvida, ou coisa parecida. Talvez fosse mesmo mais um hábito de psicólogo, mas fato é que, no decorrer dos encontros foram surgindo temas e experiências bem interessantes nesses comentários finais. Através dos relatos de experiências foi possível elaborar com o grupo vários aspectos específicos da prática da meditação, tais como alguns detalhes sobre o como meditar e suas variações, mas principalmente, foram nesses momentos que vieram à tona temas relacionados à vida, ao amadurecer, ao enfrentar dificuldades, à felicidade, ao sofrimento, etc. Em um dos últimos encontros, onde a meditação foi orientada a partir do sorrir, o tema que emergiu no grupo foi a morte, e para mim foi forte, e inusitado, poder falar, e ao mesmo tempo sentir, sobre aspectos tão diferentes da vida: a leveza e a facilidade do sorriso e a intensidade, a dor e o mistério da morte.

A meditação acontece no silêncio de cada praticante, pois como se diz, é uma experiência da pele para dentro, mas ao compartilhar e relatar esse momento privado o praticante pode digerir melhor alguns conteúdos, pode elaborar melhor a sua prática e seu amadurecimento, e pode ainda, contribuir para o grupo e para o caminho do outro, fortalecendo aquilo que no yoga chama-se sangha, a força do grupo daqueles que buscam.



Para saber mais sobre os encontros de meditação acesse:      http://meditacaotaubate.blogspot.com.br/


22 de mar. de 2013

Falando e calando, psicologia e yoga


Nesta semana, em dois momentos distintos e com duas alunas diferentes, tive a oportunidade de conversar a respeito de uma grande diferença entre os caminhos terapêuticos da psicologia e do yoga. Nessas duas conversas falamos sobre o falar e o silenciar e sobre os benefícios de um e de outro. Uma das alunas disse que as práticas regulares de yoga estão-lhe fazendo muito bem, e isso vem acontecendo sem que ela precise verbalizar quase nada, algo diferente do que acontece em sua psicoterapia, onde a fala é constante. Acho esse um tema interessante.

Grande parte da proposta terapêutica da psicologia é embasada quase que exclusivamente na fala. É na fala que vários métodos terapêuticos se estruturam, proposta essa que começou cientificamente há mais de um século com Freud e a sua cura pela fala através da psicanálise. O termo fala aqui envolve também o não falar e várias outras formas de expressão corporais. Pode-se dizer, de forma genérica é lógico, que a psicologia acredita e aposta plenamente que a capacidade de expressão, do poder revelar o que se pensa e o que se sente ao outro e ao mundo é a melhor via de transformação, reorganização, cuidado e amadurecimento pessoal. Muito do que acontece de transformador no consultório psicológico se deve ao simples fato do paciente poder falar, e assim poder se ouvir. O terapeuta escuta, acolhe, mastiga, devolve, clareia o que é dito. O auto conhecimento vai se dando então pela fala, pela expressão de quem se é, ou de quem se julga ser. O caminho passa pela busca de expressão do mundo interno, o que está dentro precisa vir para fora. Hoje isso pode parecer senso comum e algo óbvio para qualquer um, mas não é assim, nem hoje e muito menos o foi no passado. Tanto é que a psicologia ganhou grande popularidade nos libertários anos 60 e 70, devido justamente às suas propostas de expressão, de espontaneidade e de catarse.


                             Eu falo, tu falas, ele fala, nos falamos

Se um psicólogo diz para o seu paciente: ”me fale sobre você”, “fale mais” ou “porque você não diz isso para ele?” o que diria um mestre ou um professor de yoga a seu aluno? Talvez até as mesmas coisas, e isso poderia ser bom para o aluno e a sua relação com o professor, mas não é isso o que mais importa aqui. No yoga e na meditação o foco não é a expressão, o colocar para fora, o desabafar. O trabalho é outro, o caminho passa pelo desmontar identificações, quebrar padrões e associações internas. O silêncio passa então a ser uma via valiosa, que potencializa em muito esse trabalho interno de observação e transformação. Isso não é o mesmo que isolamento ou distanciamento dos outros e do mundo, muito pelo contrário, pois a prática deve levar sempre a uma ampliação de consciência, e nunca a uma restrição dela. A busca da clareza segue aqui um rumo distinto do da psicologia, mas continua sendo entendida como o alicerce básico para um relacionamento saudável e verdadeiro com o outro e com o mundo.

Olhando agora para esses dois caminhos distintos, me vêm na memória vários dos grupos que já participei, tanto em retiros e cursos de yoga como em grupos de vivência, terapia e trabalhos psicológicos. Em comum a todos eles, muitas experiências, muitos convites e oportunidades para olhar com mais atenção e cuidado para si e para o que está acontecendo, a força do grupo ampliando a força pessoal e facilitando a quebra de barreiras.  Mas, enquanto que nos grupos psicológicos a troca e a fala entre os participantes é algo fundamental, nos encontros do yoga a clareza da experiência individual é que ganha valor, e não necessariamente a troca.

Se estes caminhos se dispõem a cuidar e a melhorar a condição do ser humano, talvez os dois tenham contribuição a dar, talvez os dois tenham razões, talvez os dois indiquem alternativas válidas para se ir um pouco mais além de onde estamos, seja falando, seja silenciando ou seja silenciando a fala.  

                                  Swami Muktananda dando uma dica


10 de mar. de 2013

Convite



   Uma ótima oportunidade para aprofundar a sua prática ou              
conhecer melhor o método Iyengar.

5 de mar. de 2013

Sustentando o não-saber



     Certa vez, em uma aula de um curso de formação, recebi algumas perguntas a respeito de um texto que falava sobre chakras. Como eu já tinha alguma noção sobre o assunto, fui respondendo mentalmente a cada pergunta, antes mesmo de ler o texto. Mas em determinada pergunta, que não me lembro mais qual era, fui surpreendido com a certeza absoluta de que eu não sabia nada sobre aquilo que acabava de responder. Minha resposta era apenas mental e não valia nada, era só um punhado de informações costuradas com deduções e associações que fui fazendo através de várias leituras. O que sabia eu realmente sobre chakras? Nada, apenas especulações que no fundo não faziam sentido algum para mim. Esta constatação foi inquestionável, o golpe foi certeiro e me deixou totalmente rendido em minha ignorância. Uma santa ignorância que me trouxe grande tranqüilidade e relaxamento, que me alinhou com o caminho do não-saber.

      Por que tinha eu que saber sobre chakras? Porque eles estão nas escrituras do Hatha-Yoga, porque vários livros falam deles, porque tudo mundo sabe um pouco sobre eles, porque um professor de Yoga precisa saber sobre eles..., bem, vários são os motivos que justificavam o fato de que eu deveria saber algo sobre chakras. Porém, esses motivos acabaram formando uma boa quantidade de entulho em minha clareza. Ter informações não é o mesmo que saber. Saber é ter o sabor. Só posso realizar o sabor, ter o gosto, através da experiência direta, momento em que conceitos e idéias podem facilmente poluir e distorcer a degustação da experiência direta do momento. 

         Eu tinha que saber e me descobri não sabendo. Que liberdade! Parecia que eu estava largando no chão, de uma vez, vários objetos que, de forma atrapalhada, eu carregava soltos nas mãos. Agora havia espaço e possibilidade para des-cobertas, agora poderia me abrir e experimentar sem a pressão e expectativas de já ter de saber algo sobre.

       Aceitar e sustentar o não-saber pode nos colocar vivamente naquilo que estamos envolvidos no momento. Ficamos atentos e cuidadosos ao andar por território desconhecido, e, facilmente displicentes e soberbos quando estamos montados na certeza e na convicção de conhecer plenamente o trajeto.

      Posso me preparar e organizar para uma conversa, uma aula, um atendimento, etc, mas posso saber realmente como esse encontro se dará? Não, só vou poder saber algo quando estiver junto e atento ao outro real ali comigo. Quem é ele/a? Como está? Como estou? O que precisamos, queremos? Quais as limitações, minhas e do outro? Qual nossa disponibilidade no momento? O que temos para trocar ali naquele momento? Talvez precise de recursos que não estavam em meus planos, talvez descubra com o outro novos caminhos para antigos dilemas, talvez não tenha respostas, talvez as tenha, mas elas não tenham nenhuma utilidade... talvez eu seja surpreendido pelo novo, o sempre inesperado novo. Só podemos estar vivos e inteiros com os outros se mantivermos um espaço interno para o não saber, assim o encontro será um estar junto, com o outro e comigo, uma experiência fresca, única e exclusiva.