Quase todos nós carregamos um peso. Este peso é colocado em nossos
ombros já bem cedo e o abraçamos por boa parte de vida, quase como se ele já não
estivesse mais lá. Ele tem forte sabor religioso e tempera muitas de nossas
ações, projetos e sonhos. Ele dá o tom de uma grande parcela de tudo o que o
ocidente produziu em termos de relações humanas, valores, moral, ideais e
cultura. Esse peso chama-se culpa.
Culpa de ser como se
é, de precisar limpar-se, melhorar-se, aprimorar-se, negar-se e rejeitar-se
para ser melhor, para ser como deveria ser. Culpa de sentir o que não deveria sentir, de
pensar o que não poderia pensar, de desejar o que não se deve nunca desejar. Culpa
de vivenciar todas essa “coisas” que todos nós vivenciamos, mas em silêncio cúmplice.
Culpa de não ser o melhor, o mais amado, o primeiro, o perfeito, o já pronto.
Culpa por não ter sido bom, educado, compreensivo, saudável, amável, inteligente,
esperto, bem sucedido, rico, poderoso. Culpa por errar, por falhar, por ficar
devendo, por estar aquém, por não ter correspondido. Culpa por ser assim, um
ser, humano.
Muitas vezes essa culpa não é identificada claramente, mas aparece
de forma quase subterrânea, disfarçada e diluída em outras questões e conflitos.
Através da lente do consultório psicológico esse emaranhado todo da culpa fica
mais visível, e torna-se possível vê-la enraizada em nosso cotidiano. Assim
como a psicoterapia, a prática de yoga e da meditação visam o auto conhecimento,
o auto esclarecimento, e assim passam inevitavelmente pelas amarras da culpa.
Não há mágica, mas algumas experiências são fortes o
bastante para gerar transformações, mesmo que sutis. Proponho um sankalpa para sua prática de relaxamento ou de meditação. Sankalpa é uma
resolução, uma afirmação interior simples e direta que se repete mentalmente por um período, é
como uma pedra jogada no lago mental que vai gerar ondas que se propagam até as
margens. Deixe este sankalpa se
propagar pelo seu corpo e mente por alguns minutos e depois fique em silêncio
absorvendo os efeitos dessa afirmação:
“Não devo nada,
absolutamente nada,
para ninguém,
nem ontem, nem hoje, nem amanha”
Essa afirmação pode despertar situações pendentes já esquecidas,
que você pode depois solucionar, se possível ou não. Ela também não nega, de forma alguma, o poder das relações afetivas e a nossa
total interdependência emocional dos que nos cercam, pois todos nós dependemos
de um jeito ou de outro dos outros, mas essa vivência é bem diferente do pesado e
sufocante sentimento de culpa, de dívida e de falta.
Oi Marcos!! Como sempre seus textos me ajudando a olhar pra dentro, refletir e identificar situações em mim. Seu texto veio num momento de grande cobrança pessoal... e consequentemente de peso e culpa, por não ser aquela que esperavam que eu fosse. Me ajudou bastante (como sempre) e me esclareceu que sou apenas eu.... humana. E que só por aceitar isso, o peso já diminui. Obrigada sempre! Abraços! Juliana
ResponderExcluirOi Juliana, que bom que você está mais leve. Os outros podem esperar e o que quiserem de nós, não temos muito controle sobre isso, mas como vamos administrar essa expectativa é uma questão totalmente nossa.
ExcluirSalve a leveza do Ser!
Abração
Olá Marcos, Li e Re-li o seu texto várias vezes. Não que ele seja difícil, mas ao contrário, você diz muito em poucas palavras. Eh verdade que as vezes nos sentimos tristes e não sabemos dá nome a esse sentimento, porque está muito enraizado no nosso interior.
ResponderExcluirVou tentar meditar com suas palavras.
Abraços. Carla
Olá Carla,
Excluirreconhecer um sentimento e acolhe-lo, seja ele qual for, muitas vezes abre uma possibilidade para que ele desabroche e siga seu caminho, ou seja, se dissolva. Tal como na meditação, apenas acolher e deixar as coisas seguirem seu rumo.
Abração