No ultimo dia 20 de agosto, aos 95 anos, faleceu o mestre yogue
B.K.S. Iyengar. Sua história e sua obra são fundamentais para se entender como o Yoga moderno se configurou. Ele foi um daqueles raros seres que trouxeram
contribuições fundamentais e permanentes para a sua área, contribuições que
permitiram que ela se expandisse e transbordasse para outras áreas. O
entendimento sobre a prática de asanas
(posturas) não é mais o mesmo depois de seus ensinamentos, a amplitude e a profundidade
com que trabalhou o corpo e as posturas permitiu, e continuará permitindo, uma infinidade
de desdobramentos com grande abrangência. Adotou como meta tornar plenamente realizável
a expressão “o Yoga é para todos”.
Minha história com ele foi breve e à distância. Em 2008
percebi que minha prática, e principalmente a minha atuação como professor,
estavam limitadas. Muitos alunos tinham dores ou restrições maiores para
algumas, ou várias, posturas, poucos eram aqueles com a disponibilidade que eu
achava ser a ideal para a prática, ou seja, muita flexibilidade, força,
equilíbrio, atenção e comprometimento. Nem eu me encaixava nesse patamar (ainda
bem, entendo hoje). Diante disso comecei a procurar alternativas, pois me
assustou um pouco a possibilidade de que alguns alunos poderiam se machucar nas
aulas, e também era frustrante saber que eu não podia fazer nada, por exemplo,
para quem sentia dores nas costas ao ficar sentado no chão com as pernas
cruzadas. Nessa busca acabei achando o Sandro Bosco e seu curso de formação de
professores pelo método Iyengar.
O contato inicial com a forma Iyengar de praticar Yoga não
foi fácil. A começar pelo prazer que tinha em fazer os asanas em sequências fluidas e sem nenhuma preocupação com
alinhamentos e sem o uso de acessórios. Lembro-me de uma aula em que estávamos enfiados
dentro de uma cadeira com a cabeça no chão e com cinto nas pernas em que me
perguntei seriamente o que eu estava fazendo ali. Só não me levantei e saí da
aula por falta de coragem. Mas ao começar a entender o motivo daquele monte de
acessórios e daquelas infinitas correções uma luz foi-se ascendendo na minha
prática e nas minhas aulas. Iyengar propôs algo tão simples e tão fundamental,
que passa a ser óbvio depois que é percebido. Independente de se ser um
professor credenciado ou filiado ao método, a luz da proposta Iyengar é valiosa
e pertinente a qualquer um.
Compreendido melhor o método muita coisa ficou mais fácil e
prazerosa, mas faltava ainda algo muito importante, pois eu não tinha nenhuma
simpatia pela pessoa do Sr. Iyengar. Nunca estive com ele, mas minha impressão
não era favorável e isso criava uma barreira entre mim e ele, o que claramente amarrava
o desenvolvimento e aprofundamento da prática. Percebido esse impasse resolvi
procurar uma forma de me aproximar dele, e isso acabou acontecendo de um jeito espontâneo
e surpreendente. Procurava uma foto dele para colocar no blog e entre elas uma
me chamou a atenção, uma onde sua marcante expressão facial parecia mais amena.
Imprimi-a e deixe-a em um local visível para mim, em poucos dias minha relação
com ele foi se modificando. Aquele senhor, antes carrancudo e fechado para mim,
era agora alguém gentil, atento e cuidadoso.
Esse novo jeito de me relacionar com ele permitiu-me ter
contato com um aspecto muito presente em sua história, sua personalidade e seu
método: a força da vontade, do empenho, da determinação e da persistência. Passei
então a admirá-lo por esse feito, por ele ensinar exatamente o poder do
construir-se gradualmente, do ir abrindo caminho onde antes nada havia. Ele mesmo
diz que só não morreu ainda adolescente justamente pela prática teimosa que
manteve na juventude e que perdurou por toda a vida.
Considero o Sr. Iyengar como a própria personificação do hatha yogin, ou seja, aquele praticante que
segue o caminho do Yoga pela via da força de vontade, da disciplina e da auto superação.
Sua vida e obra foram o testemunho disso.
Vida longa aos seus ensinamentos e que eles possam chegar a ainda
mais cantos do planeta. Gratidão Guruji!