10 de ago. de 2013

O erro da resposta certa



Há algumas situações que vivemos ao longo da vida, principalmente na infância, que nos fazem acreditar seriamente que sempre há uma resposta certa para tudo.  Um ambiente que estimula muito essa crença é o escolar tradicional com suas avaliações e notas. Provas de múltiplas escolhas, onde só uma resposta é certa e as outras quatro, que além de erradas podem ser “pegadinhas”, são a concretização exemplar dessa crença. Passar por uma prova como essa é aprender que, realmente, só existe uma alternativa certa, e é preciso cuidado com as respostas erradas, pois elas além de não valerem nada, são ainda enganações que nos afastam da conclusão correta. A alternativa certa é boa e desejável e a errada é ruim e lamentável. Nessa proposta há um saber já concluído, fechado, onde determinadas perguntas já possuem pares certos com determinadas respostas. Nesse baile muitas perguntas e respostas interessantes ficam sem dançar, ficam sem par, pois os casais já foram escolhidos bem antes do baile começar.

Essa é uma brincadeira meio sem graça, e se sobra alguma empolgação é apenas para tentar acertar o que já é tido como certo. Mas brincadeira boa mesma é aquela na qual não há um fim certo, um traçado já definido previamente. A graça está em não saber e, de repente, ser surpreendido por um saber, por algo com o qual não se contava, mas que foi verdadeiramente descoberto ali. Qualquer criança sabe disso e nos mostra isso o tempo todo. O gostoso está em brincar e não necessariamente em concluir. Grande é o prazer de mexer, inventar, revirar, fazer, refazer, desfazer, tentar, largar, voltar... Toda essa liberdade de experimentação difere muito do achar a resposta certa, única e definitiva, válida para todos e para sempre. Se o brincar tem o frescor daquilo que sempre se renova, que nunca está acabado, a resposta única e certa perdeu a graça de descobrir e brincar.

Sinceramente, em qual aspecto da nossa vida é possível se ter apenas uma resposta como certa? Em qual de nossos conflitos, impasses e dificuldades é cabível se ter a certeza de que só há uma solução possível? E quantas vezes, ao estarmos convictos de haver apenas uma saída, não fomos surpreendidos por soluções inesperadas, surpreendentes e incrivelmente mais simples e fáceis do que podíamos imaginar? Quanta limitação imposta voluntariamente em buscar apenas a resposta única e certa.  Quanto desperdício em descartar respostas tidas como erradas. Por sinal, a quantas aprendizagens e transformações não tivemos acesso exatamente com as respostas “erradas” que demos na vida? Se formos um pouco além do medo é possível viver sob o seguinte lema: “Que eu erre mais!”

Não existe isso de uma resposta certa, absoluta, definitiva, antecipada, o que há, realmente, é a resposta possível, aquela válida dentro de um contexto. As minhas limitações e possibilidades é que vão gerar minhas respostas ao mundo e à vida, e quem pode definir até onde isso é certo ou errado? A resposta possível é aquela que diz quem sou, sem cola, decoreba ou sorte, já a resposta certa e única é coisa de vestibular, e só.


Essas reflexões me ocorreram observando diferentes alunos fazendo o mesmo asana (postura) em uma aula. O asana de referência era o mesmo, mas cada aluno criou a sua variação dentro de suas possibilidades, com mais, menos ou sem acessórios (já que o método Iyengar permite que realmente todos pratiquem!). Quem estava mais certo? Qual aluno era o melhor? Quem estava praticando melhor? Quem era o pior? A não ser que se esteja em uma prova escolar, ou se querendo alimentar julgamentos, comparações, exclusões e limitações, essas perguntas realmente não fazem o menor sentido. 

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