Há algumas situações que vivemos ao longo da vida,
principalmente na infância, que nos fazem acreditar seriamente que sempre há
uma resposta certa para tudo. Um
ambiente que estimula muito essa crença é o escolar tradicional com suas
avaliações e notas. Provas de múltiplas escolhas, onde só uma resposta é certa
e as outras quatro, que além de erradas podem ser “pegadinhas”, são a
concretização exemplar dessa crença. Passar por uma prova como essa é aprender
que, realmente, só existe uma alternativa certa, e é preciso cuidado com as
respostas erradas, pois elas além de não valerem nada, são ainda enganações que
nos afastam da conclusão correta. A alternativa certa é boa e desejável e a errada
é ruim e lamentável. Nessa proposta há um saber já concluído, fechado, onde
determinadas perguntas já possuem pares certos com determinadas respostas.
Nesse baile muitas perguntas e respostas interessantes ficam sem dançar, ficam
sem par, pois os casais já foram escolhidos bem antes do baile começar.
Essa é uma brincadeira meio sem graça, e se sobra alguma
empolgação é apenas para tentar acertar o que já é tido como certo. Mas brincadeira
boa mesma é aquela na qual não há um fim certo, um traçado já definido previamente.
A graça está em não saber e, de repente, ser surpreendido por um saber, por
algo com o qual não se contava, mas que foi verdadeiramente descoberto ali.
Qualquer criança sabe disso e nos mostra isso o tempo todo. O gostoso está em
brincar e não necessariamente em concluir. Grande é o prazer de mexer,
inventar, revirar, fazer, refazer, desfazer, tentar, largar, voltar... Toda
essa liberdade de experimentação difere muito do achar a resposta certa, única
e definitiva, válida para todos e para sempre. Se o brincar tem o frescor
daquilo que sempre se renova, que nunca está acabado, a resposta única e certa perdeu
a graça de descobrir e brincar.
Sinceramente, em qual aspecto da nossa vida é possível se
ter apenas uma resposta como certa? Em qual de nossos conflitos, impasses e
dificuldades é cabível se ter a certeza de que só há uma solução possível? E
quantas vezes, ao estarmos convictos de haver apenas uma saída, não fomos
surpreendidos por soluções inesperadas, surpreendentes e incrivelmente mais
simples e fáceis do que podíamos imaginar? Quanta limitação imposta voluntariamente
em buscar apenas a resposta única e certa.
Quanto desperdício em descartar respostas tidas como erradas. Por sinal,
a quantas aprendizagens e transformações não tivemos acesso exatamente com as
respostas “erradas” que demos na vida? Se formos um pouco além do medo é possível
viver sob o seguinte lema: “Que eu erre mais!”
Não existe isso de uma resposta certa, absoluta, definitiva,
antecipada, o que há, realmente, é a resposta possível, aquela válida dentro de
um contexto. As minhas limitações e possibilidades é que vão gerar minhas
respostas ao mundo e à vida, e quem pode definir até onde isso é certo ou
errado? A resposta possível é aquela que diz quem sou, sem cola, decoreba ou
sorte, já a resposta certa e única é coisa de vestibular, e só.
Essas reflexões me ocorreram observando diferentes alunos
fazendo o mesmo asana (postura) em
uma aula. O asana de referência era o
mesmo, mas cada aluno criou a sua variação dentro de suas possibilidades, com mais,
menos ou sem acessórios (já que o método Iyengar permite que realmente todos pratiquem!). Quem estava mais certo? Qual aluno era o melhor? Quem
estava praticando melhor? Quem era o pior? A não ser que se esteja em uma prova
escolar, ou se querendo alimentar julgamentos, comparações, exclusões e
limitações, essas perguntas realmente não fazem o menor sentido.