16 de jan. de 2012

Uma montanha na praia

Neste começo de ano passei alguns dias em Ubatuba. Uma das praias que fiquei foi Camburi, a última ao norte de Ubatuba, já quase em Trindade. Um paraíso de águas transparentes e tranqüilas. Ali há uma vila de pescadores originada de um quilombo, alguns quiosques, campings e muita beleza natural.
Como sempre faço, após o banho de mar fui me refrescar no rio e nas pedras. Enquanto estava ali, sentado numa grande pedra observando a paisagem da praia com a Serra do Mar ao fundo, um alarme de carro disparou. Péin-péin-péin-péin-péin. Também dava para ouvir vozes, risadas e música, mas aquele alarme era estranho demais para o lugar. E desse contraste, dessa situação inusitada do alarme disparando num paraíso, algo se revelou.
Enquanto o alarme dispara e alguém corre para desligá-lo, a montanha, forrada de mata atlântica intocada, permanece em silêncio. Enquanto banhistas brincam na água ou na areia, livres ou ruminando seus problemas, a montanha descansa tranquilamente ali. As nuvens no céu se formam e se desfazem rapidamente, mas a montanha permanece ali, onde sempre esteve. Ondas do mar vêm e vão desde sempre, mas a montanha, permanece a mesma. Diante dos olhos impassíveis da montanha, moradores preenchem seus dias envolvidos com tradições, costumes, necessidades, banalidades, alegrias e sofrimentos. Escravos, índios, brancos, animais, árvores, plantas, uma infinidade se seres vivos, todos nascendo e morrendo, e a montanha em serena contemplação. Enquanto a trama da vida e dos dias se recria continuamente, algo permanece intocado.
Essa imagem da montanha estável e permanente me faz pensar no yoga, pois embora a vida seja o desenrolar infinito de variadas e incessantes experiências, o yoga é a vivência de estabilidade, de refúgio no Permanente, Naquilo que não passa, que não se perde.  

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