23 de dez. de 2011

Para um fim da ano melhor

Quase sempre que vou buscar minha filha na escola, vou de bicicleta. Em nosso trajeto de volta passamos por duas grandes e movimentadas avenidas bem no horário de pico. São muitos carros, motos, caminhões, ônibus, buzinas e um clima de correria, um verdadeiro “saí da frente!” geral. Quando já estamos perto de casa sempre corto caminho por uma pequena e deserta rua, que com o tempo, passamos a chamar de a “Rua Silenciosa”. É com entrar num bosque ou mergulhar num rio. De repente, algumas coisas mudam radicalmente: pedalo mais devagar, ouvimos pássaros, mexemos com o cão baixinho que mora ali, passamos por uma praçinha, percebemos o entardecer, e o melhor, conseguimos conversar!
Entrar na “Rua Silenciosa” é ter o prazer de não sentir mais uma dor, um incômodo, como o de tirar um sapato apertado, e quando a irritação cessa, algumas portas se abrem. Entrar na “Rua Silenciosa” traz uma sensação de tranqüilidade, de proteção, e só com o silêncio externo posso ouvir as deliciosas histórias de minha filha. O silêncio externo permite me aproximar do que é realmente importante e simples. Silêncio que humaniza e fertiliza.  
Nesse final de ano estou mais na avenida do que na “Rua Silenciosa”, estou cansado, querendo parar. Perceber essa situação já me ajuda a diminuir o ritmo, assim não me consumo totalmente. E por falar nisso, consumo, ruídos, avenidas, pressa, horário de pico, “saí de frente!”, e coisas do tipo, já são marcas desses dias tão tumultuados e ruidosos de festas de fim de ano. Vamos todos apressadamente para as avenidas, todos ao mesmo tempo.
Neste caso, desejo de coração que você possa encontrar, e freqüentar, a sua “Rua Silenciosa”. Que você possa caminhar por ela, neste fim de ano e por todo o próximo.



"Proibido parar e estacionar"
A placa e o lema das avenidas







Obs: Sim, a "rua silenciosa existe"! Mas é sempre uma via paralela, pequena, meio despercebida e aparentemente inútil, e não é possível achá-la pelo mapa, só pelo coração.


"Pare"
A placa e o espírito da "Rua Silenciosa"

11 de dez. de 2011

Respeita o Ser

                                                              

“O pior pecado, a raiz de todos os pecados é insultar ou diminuir o próprio Ser, enquanto a maior das virtudes é respeitar o Ser.”
      Swami Muktananda

Swami Muktananda foi um sábio e realizado yogue e descreve aqui uma situação humana que é constatada diariamente no consultório psicológico. O maior pecado, ou seja, o maior engano e a maior fonte de sofrimento é o distanciamento ou a inconsciência do Ser.
Esse é um fundamento do yoga, e indica que qualquer que seja o caminho que viermos a tomar na vida, este será sempre equivocado se não for orientado pela bússola interna, pela experiência do Ser. Insultar ou diminuir o próprio Ser é tentar e acreditar ser o que não se é, é afastar-se do próprio centro, e o que vier daí está fadado ao fracasso e ao sofrimento.
Vários foram os autores e pesquisadores da psicologia ocidental que formularam o conceito de Self, e que em alguns casos, se aproxima ao conceito de Ser (purusha ou atman em sânscrito) do yoga.

5 de dez. de 2011

Muito mais que um curso


Neste final de semana conclui minha formação em Iyengar Yoga com o professor Sandro Bosco. Foram três anos de muitos asanas, pranayamas e meditações em grupo, aulas de filosofia, anatomia, grupos de estudos, conversas e viagens sobre yoga e afins, aulas didáticas, silêncio, mantras e pujas.
Durante esse tempo aprendi e compreendi várias técnicas novas, aprofundei muito o entendimento da filosofia do yoga, conheci várias pessoas interessantes e praticantes e ainda tive aulas com excelentes e experientes professores. Até aí, quase tudo dentro da expectativa que se tem de um bom curso, mas, para mim, o melhor de tudo ainda não foi isso.
Agora no final algo ficou mais claro para mim, algo que tem pouco haver com conteúdos de aula, diploma, currículo, carga horária, título, ou qualquer coisa que tenha essa conotação de reconhecimento mais social. O que foi, e o é, realmente importante para mim nesse “curso” foi a possibilidade de ter experiências únicas, transformadoras, sutis e intensas com a prática do yoga em grupo. Mais do que isso, ter essas experiências e ainda poder compartilhar-las num clima acolhedor e atento a tão particulares vivências. Quanta intimidade em, por exemplo, compartilhar momentos de silêncio pleno lado a lado, sem nenhuma explicação ou intenção. No yoga se vai para dentro e esse é um território onde convenções nem sempre funcionam, e onde o apoio externo é fundamental para continuar a prática e a transformação pessoal. O apoio vem aqui na forma do professor e do grupo.
Poder estar com pessoas que também têm na prática do yoga um pilar de vida é muito estimulante. É um reforço para a caminhada pessoal, é um empurrão para ensinar, e um empurrão ainda maior para praticar e aprender mais. Essa a força do sanga, que nutre a todos participantes. Feliz escolha a minha!
Minha enorme gratidão aos meus professores Sandro Bosco (em especial), Waldir, Marisa, Tchê, Cris, Carol e Luigi, e aos muitos parceiros e intensificadores de prática, que acabaram se tornando amigos de caminhada.
Grande abraço a todos!
Na foto acima, a mandala feita com a força, integração e sensibilidade do grupo.