No decorrer da minha vida fui encontrando alguns heróis. Alguns
deles ficaram como representantes significativos de um período específico da
minha vida, tais como fotos importantes do meu passado. Alguns só encontrei
recentemente e outros me guiam e inspiram já há um bom tempo. São Francisco de
Assis é um desses.
Na infância tive uma tradicional e convicta educação
católica, e quando entrei na adolescência isso foi um prato cheio e um bom
motivo para abrir uma crise. De repente, ir à missa, me confessar e seguir os demais
ritos passaram a me incomodar. Mais do que isso, a figura do padre foi algo que
passei a questionar profundamente. Como ele podia falar o que falava? Quem dava
essa autoridade para ele? Passei a perceber incoerências e contradições no que
faziam e pregavam, assim como a diferença entre a fé pessoal e a Igreja. E se
eu não acreditava mais nesse pacote, como poderia continuar a participar a comungar
daquilo tudo? Poderia sair ileso dessa aventura? Essas eram fortes, profundas e
difíceis questões na minha mente e coração adolescente. Mas dessa minha saída
da Igreja encontrei São Francisco. Que benção!
Não sei ao certo como isso se deu, mas sei que a partir de
um momento estava eu lá lendo sobre a sua vida e tendo ele como inspiração para
a minha vida. Quem era essa figura totalmente fora do eixo de tudo o que eu achava
que deveria ser um católico, um religioso, ou até mesmo uma pessoa normal? Curiosidade,
fascínio e admiração foram me aproximando dele. Ele sim era coerente, inteiro,
verdadeiro. Era também radical, corajoso e louco, porém doce e suave. Deu as
costas para o que esperavam dele e foi viver o que acreditava, largou tudo. Falava
com a natureza, com os animais e falava de Deus de uma forma íntima, fácil e
simples. Para ele tudo e todos eram irmãos, até o medo, a dor e a morte. Quem era esse cara? De onde ele veio
e o que é isso que me mostrava? Foi um rico encontro que me guia até hoje.
Muitas reflexões poderiam ser feitas sobre os significados
psicológicos de um adolescente encontrando São Francisco, ou da profundidade de tudo o que ele propôs,
ou da relação dele com o Yoga. Mas minha relação com ele é pelo coração, sem maiores
explicações. Percebo no adulto que hoje sou ainda as ondas transformadoras desse
encontro adolescente. Tenho a sensação de que mais do que qualquer outra coisa,
o mundo precisa de mais Franciscos. Todos têm seu lugar de importância, mas mais
do que sabedores, poderosos, profetas e dignos senhores, precisamos de mais Franciscos,
irmãos Franciscos. Somos por vezes terra seca desejando chuva, chuva mansa de
simplicidade, verdade, desapego e amor.
Salve Francisco!
Jay Francisco!
Marcos Taschetto
Marcos Taschetto